Conteúdo do impresso Edição 1298

FINANÇAS

Governo lança programa que arrocha gastos em secretarias

Gestores têm de apresentar, até dia 20, expectativas de arrecadação e plano de cortes nas pastas
Por ODILON RIOS 11/01/2025 - 08:18
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Assessoria
Vitor Pereira tem enxugado os gastos no Estado
Vitor Pereira tem enxugado os gastos no Estado

As exigências da União, que lançou, ano passado, novo programa de refinanciamento de dívidas dos estados, e a virada de ano com débitos em série que ameaçaram paralisar secretarias e órgãos da administração indireta, obrigaram o governador Paulo Dantas (MDB) a lançar, no apagar das luzes de 2024, o decreto 100.456 instituindo o programa Avança Alagoas.

Programa que, em resumo, tem como principal foco dar uma resposta às instituições que emprestam dinheiro para Alagoas e ao Governo Federal sobre as condições locais chamadas de favoráveis tanto para investimentos como para captar mais dinheiro a juros.

Os órgãos estaduais têm de apresentar, com urgência e até o dia 20 de janeiro, as expectativas de arrecadação, as despesas financiadas pelo Tesouro menos os gastos com pessoal e encargos sociais.

O impacto deve ser maior nas áreas sociais (saúde, educação e assistência social), mas todos os gestores devem detalhar, mês a mês, restituição de recursos de convênios junto à União, além de transferências especiais (emendas impositivas), convênios com cidades (saúde e assistência social em destaque) além de dinheiro distribuído a instituições privadas ou sem fins lucrativos, subvenções econômicas. Além de: diárias gastas com militares e civis, dentro e fora do Estado, e auxílios financeiros pagos a estudantes, gastos com material de consumo, combustível, passagens aéreas ou terrestres e por aí vai.

Um pedaço do programa já está em funcionamento desde dezembro: corte de 25% da frota em cada órgão, a suspensão do abastecimento de combustível e a devolução destes veículos para as locadoras que mantêm contratos com o Estado.

Houve reclamação, mas o secretário de Governo, Vitor Pereira, o “rosto” desta nova era de arrochos, aceita, aos poucos, liberar mais combustível para os carros em circulação.

Os cintos, porém, apertarão ainda mais em 2025. Porque o decreto assinado pelo governador implantando o Avança Alagoas estrutura um Sistema de Avaliação da Qualidade da Gestão Financeira e Otimização do Gasto, através de um Conselho Gestor, presidido por Vitor Pereira e composto por representantes das secretarias da Fazenda; Planejamento, Gestão e Patrimônio e; Gabinete Civil.

Em linguagem comum: cada secretário terá de justificar os gastos de suas pastas com o Conselho Gestor. Até cada diária para viagens, material de limpeza e escritório etc.

ALERTAS

Nos últimos dois anos, a Procuradoria Geral do Estado e o Ministério Público Estadual vêm alertando o Governo Dantas sobre dívidas com fornecedores que se acumulam, as cobranças da Universidade Estadual de Ciências da Saúde (Uncisal) e Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) por concurso público e o aumento da judicialização da saúde.

Dois episódios quase resultaram em um literal apagão no prédio-sede da Secretaria Estadual de Saúde: o corte do fornecimento da água, em 19/12/24, por inadimplência, restabelecido em seguida. E o quase-corte da luz no segundo semestre do ano passado. Ambas as dívidas estão sendo negociadas após a PGE entrar na Justiça, mantendo os serviços.

Outro episódio que assustou o Governo: a possibilidade, em novembro passado, de atraso dos salários dos 100 mil servidores públicos estaduais, que pressionava a queda da secretária da Fazenda, Renata dos Santos. Paulo Dantas reverteu a situação antes do final daquele mês, anunciando o pagamento dos salários, o adiantamento do 13º e a data do depósito salarial de dezembro. Acalmou de um lado, mas gerou pressão de quem tem contratos com o Estado e ainda aguarda por pagamentos.

PRESSÃO DA UNIÃO

Com juros menores e mais tempo para pagar (até 30 anos), a União lançou programa de renegociação de dívidas com os estados. Isso significa mais brechas para os estados conseguirem empréstimos. A dívida alagoana está em R$ 11 bilhões, enquanto o orçamento de 2025 é de R$ 18,5 bilhões.

Para se encaixar nestas condições, Alagoas terá de priorizar investimentos em educação, saneamento e segurança, anúncios que devem tomar conta do Governo Dantas nos próximos meses. Além de mostrar programas de enfrentamento das mudanças climáticas — ponto mais sensível, já que as usinas não pretendem suspender a queima da cana de açúcar nem compensar o Estado por derramamento de elementos químicos usados nas indústrias diretamente nos rios.


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