DITADURA NUNCA MAIS!
Desaparecimento de Jayme Miranda completa 50 anos
Comitê Memória, Verdade e Justiça de Alagoas realiza ato em homenagem ao jornalista alagoanoNo próximo dia 4 de fevereiro completam-se 50 anos do desaparecimento de Jayme Miranda, militante e jornalista alagoano que se tornou vítima da repressão militar durante a ditadura. Em 1975, Jayme foi capturado em uma ação conjunta das forças de repressão, conhecida como Operação Radar, cujo objetivo era aniquilar os principais dirigentes do PCB, enquanto entregava documentos no Rio de Janeiro. Desde então, o destino do jornalista permanece uma incógnita, sem que seu corpo tenha sido encontrado.
Sua esposa, Elza Miranda, viveu e continua vivendo uma luta constante em busca de respostas, similar à trama do filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, sobre o desaparecimento de Rubens Paiva. No caso de Elza, a dor de não saber o que aconteceu com o marido perdura até hoje, e o vazio causado pela falta de esclarecimento ainda é profundo.
A narrativa sobre a morte de Jayme ganhou novos detalhes com o livro “Cachorros”, de Marcelo Godoy, jornalista da Folha de S. Paulo. Por meio de entrevistas com ex-agentes do DOI-CODI, ele revelou que, após ser preso, Jayme foi levado a uma boate em Avaré, em São Paulo, onde foi brutalmente torturado por 20 dias. O corpo do jornalista nunca foi encontrado, pois foi esquartejado e lançado em um rio. “Bairro do Catumbi, Rio de Janeiro, RJ. Não foi possível, até o momento, identificar com precisão o local para onde foi levado e de onde desapareceu definitivamente”, diz trecho do relatório produzido pela Comissão Nacional da Verdade sobre o caso.
Ainda segundo o relatório, documentos produzidos pelos órgãos de repressão sugerem que a prisão de Jayme seria um “importante passo para a desarticulação do Partido Comunista. Informe produzido pelo DOI-CODI do II Exército apresenta uma lista dos membros do Comitê Central do Partido que “pela sua atuação e posição no partido, se presos, causariam, com suas ‘quedas’, danos irreparáveis, a curto e médio prazo, a essa organização de esquerda”. Jayme Amorim, conforme o documento, ocupava a posição de 4º homem no partido.
O jornalista alagoano, militante do Partido Comunista Brasileiro, foi uma figura ativa na luta contra a ditadura, o que o levou a ser preso após o golpe de 1964. Elza, mãe de quatro filhos, enfrentou uma trajetória de dor e incompreensão, sem saber o que aconteceu com o marido, como outras mães e esposas de desaparecidos. A história de Elza se conecta com o sofrimento de muitas famílias que viveram a violência do regime militar.
O neto de Jayme, Thyago Miranda, descreveu em entrevista ao EXTRA, em dezembro, a semelhança entre a história da avó e a do filme de Salles, destacando o impacto profundo do desaparecimento forçado durante a ditadura. “É uma história muito similar à da minha avó. O regime não apenas matou, mas também impediu o luto, arrancando a verdade e a justiça”, afirmou, refletindo sobre o sofrimento gerado pela falta de respostas.
Thyago revelou ainda que a família evita comentar sobre os detalhes da morte de Jayme com Elza, pois, embora já tenha se passado meio século, o relato sobre a morte brutal ainda é muito doloroso para todos. A revelação dos detalhes da morte, como o fato de Jayme ter sido torturado com uma injeção letal para cavalos, é um golpe emocional difícil de enfrentar. “Se ela ficou sabendo de mais algum detalhe sobre a morte do meu avô, ela não falou para gente, ela sempre foi muito discreta quanto ao assunto”, conta em nova conversa com o semanário.
ODIJAS CARVALHO DE SOUZA
No mesmo contexto de desaparecimentos, outro alagoano, Odijas Carvalho de Souza, completará 54 anos de sua morte em 2025. Estudante e militante do movimento estudantil, Odijas foi preso e torturado pelo DOPS de Pernambuco. Sua morte, registrada como “embolia pulmonar”, foi posteriormente retificada como homicídio por tortura, revelando a ocultação da verdade pelos agentes da ditadura.
JOSÉ DALMO GUIMARÃES LINS
José Dalmo Guimarães Lins, natural de Maceió, também se tornou mais uma vítima das perseguições políticas. Após ser preso e torturado em 1970, José Dalmo, psicologicamente devastado, cometeu suicídio em 11 de fevereiro de 1971, após sofrer delírios persecutórios. Seu caso, como os de tantos outros, expõe as sequelas da repressão que se estenderam por décadas.
COMITÊ MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA DE ALAGOAS
Na próxima terça, 4 de fevereiro, o Comitê Memória, Verdade e Justiça de Alagoas vai realizar um ato para marcar os 50 anos do desaparecimento do jornalista e advogado alagoano Jayme Amorim de Miranda. O evento acontecerá às 19 horas, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB-AL), no bairro de Jacarecica, em Maceió.