Conteúdo do impresso Edição 1299

LIRA X CALHEIROS

Morte de Biu de Lira não encerra rixa que marcou a política de Alagoas

Senador Renan Calheiros preferiu não se manifestar publicamente sobre o falecimento do adversário
Por BRUNO FERNANDES 18/01/2025 - 08:47
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Divulgação
Benedito de Lira e Renan Calheiros
Benedito de Lira e Renan Calheiros

A morte de Benedito de Lira, o Biu, não foi citada pelo senador Renan Calheiros (MDB) em suas redes sociais, até o fechamento desta edição, mas não passou despercebida pelos aliados e pelo próprio filho do falecido, Arthur Lira (PP). A ausência de Renan gerou repercussão, considerando especialmente a rixa política entre as famílias Lira e Calheiros, que tem raízes profundas na política alagoana. Apesar disso, Renan Filho (MDB), atual ministro dos Transportes, se manifestou nas redes sociais oferecendo apoio à família enlutada. 

O presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor (MDB), principal aliado de Renan no estado, também marcou presença no sepultamento de Biu, assim como diversos outros políticos de renome.

A origem dessa animosidade remonta a mais de uma década. Embora nunca tenham sido aliados, Renan e Biu de Lira compartilharam um período de convivência política até certo tempo. Em 2010, Arthur Lira tentava sua primeira eleição para a Câmara dos Deputados, e Renan buscava o apoio de Biu para sua reeleição ao Senado. Porém, Biu optou por seguir na chapa de Teotônio Vilela (PSDB), governador à época, e disputou a eleição para o Senado, derrotando Renan na ocasião. Essa derrota política de Renan, que terminou em segundo lugar, fez o PP crescer em Alagoas e tornou a relação entre os dois mais tensa.

A rivalidade entre as duas famílias se intensificou em 2014, durante as eleições majoritárias. Naquele ano, Biu de Lira, buscando fortalecer seu nome em Alagoas, propôs uma aliança com Renan Calheiros, sugerindo que encabeçaria a chapa para governador, com Renan Filho como seu vice. No entanto, Renan não aceitou a proposta e indicou que seria seu filho quem deveria liderar a chapa. Esse foi o ponto de ruptura definitiva entre os dois, selando uma divisão que perdura até os dias atuais.

À época, os três protagonizaram uma campanha recheada de ataques. Biu trouxe à tona temas pessoais sobre a família adversária, o que foi considerado inaceitável pelos Calheiros. Renanzinho foi eleito em primeiro turno, com 52% dos votos contra 33% do ex-senador, sacramentando a força política da família. A relação nunca melhorou, só escalou. Arthur Lira cresceu, ganhou destaque nacional e “herdou” a rixa. Biu ficou no cenário político mais regional, sendo eleito duas vezes prefeito da Barra de São Miguel.

Com a morte de Biu de Lira, o campo foi aberto para Arthur Lira, seu filho, seguir na luta contra os Calheiros. O embate familiar e político continua, com Lira sendo o principal desafiante ao poder de Renan em Alagoas, e a disputa, que começou de maneira local, extrapolou para o cenário nacional. Arthur Lira, hoje presidente da Câmara — pronto para eleger seu sucessor —, tem se distanciado cada vez mais de Renan, e a recusa em aparecer em fotos juntos simboliza a distância entre os dois.

Vale ressaltar que Renan Calheiros tem sido a principal figura política de Alagoas no cenário nacional desde o impeachment de Fernando Collor em 1992, processo no qual teve um papel crucial, ajudando tanto na eleição quanto na queda do ex-presidente. Até 2019, Renan manteve uma posição dominante na política, mas sua influência começou a ser desafiada com a ascensão de Jair Bolsonaro, que encontrou em Arthur Lira um aliado de peso.

Em 2018, enquanto Renan lutava para garantir sua reeleição ao Senado, o bolsonarismo ganhava força nas urnas, e Lira se destacava com uma votação histórica para a Câmara dos Deputados. Lira, que chegou ao auge de sua popularidade, foi reeleito em 2022 com um número recorde de votos, consolidando seu status como uma das principais figuras políticas do Brasil. Durante esse período, Renan passou a ver Lira como uma ameaça crescente em sua esfera de poder.

Em 2021, Renan tentou barrar a eleição de Lira para a presidência da Câmara, mas não obteve sucesso. Lira, apoiado por Bolsonaro, assumiu a liderança da Casa e se tornou um dos principais expoentes do Centrão, gerenciando o “orçamento secreto” e ganhando apoio até de parlamentares de partidos não alinhados ao seu grupo. Sua ascensão política consolidou ainda mais seu poder.

Apesar da derrota para Lira, Renan conseguiu recuperar parte de sua influência com o retorno de Lula à Presidência. Ele ajudou a eleger Paulo Dantas, sucessor de seu filho no governo de Alagoas, derrotando Collor e marcando uma vitória política importante. Hoje, Renan e seu grupo continuam dominando a política do estado, consolidando seu poder a nível local, enquanto Lira mantém sua hegemonia na Câmara até 2025.


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