JOGO DO PODER
Estrada que liga Caldas e Calheiros tem bolsonarismo como entrave
Renan pai busca votos ao Senado e estende tapete vermelho aos rivais
Abertamente, o senador Renan Calheiros (MDB) e o ex-deputado federal João Caldas falam em acordo nas duas famílias para o próximo ano. Há uma eleição no meio do caminho e interesses nos dois lados revelados desde já: os Caldas querem indicar Marluce, irmã de João, para a vaga de ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ); os Calheiros pretendem seguir à frente do Palácio República dos Palmares, mas principalmente eleger mais uma vez Renan pela 5ª vez consecutiva. Tudo pelo “bem de Alagoas”.
Esta semana a BR-416, na Serra da Catita, foi entregue pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, com todas as pompas e circunstâncias direcionadas a João Caldas e ao prefeito de Maceió, JHC. Porque João e Jota eram deputados federais na época quando buscavam apoios para levar adiante a rodovia. Citados várias vezes pelos Calheiros, os Caldas também foram recebidos com tapete vermelho na festa realizada esta semana. JHC não apareceu, mas lá estavam o pai JC e a mãe, a senadora Eudócia Caldas (PL).
Aliados dos dois lados, porém, veem que a estrada é apenas uma aparente ligação entre caldistas e calheiristas. O obstáculo mais evidente: o grupo de JHC surfou duas vezes seguidas na onda do bolsonarismo. Não há do que reclamar dos resultados: Jota venceu duas eleições; o irmão Doutor JHC não foi eleito, mas obteve 92.594 votos para federal em 2022; Rodrigo Cunha foi eleito senador em 2018 e atraído como vice-prefeito; Eudócia Caldas, suplente de Cunha, assumiu a titularidade e tem mais dois anos de mandato.
A maior vantagem virou problema. As indicações a tribunais como STJ seguem também o rumo dos ventos na política. Marluce Caldas tem uma trajetória no Ministério Público Estadual em Alagoas sem ligações partidárias com os rumos da família. O presidente da República é Lula, filiado ao PT, partido satanizado pelo bolsonarismo. E é isso o que conta neste momento.
JHC lidera o PL em Alagoas, mas evita aproximações públicas com Jair Bolsonaro, ao menos das vezes em que ele esteve no estado. Insinua sair da legenda, mas expressões do bolsonarismo local negam este movimento. Ao mesmo tempo, foi a Brasília para a posse de Glesi Hoffmann e Alexandre Padilha como novos ministros de Lula. Enquanto isso, os partidos lhe fecham as portas: o PSB continua com os Dantas e o PSD ficará com Paulo Dantas após 2026. Hoje permanece com o vereador Rui Palmeira, que será candidato a deputado federal. Quem abre uma brecha para conversas é o PT, através do deputado Paulão, que publicamente disse apoiar Marluce Caldas para o STJ sem, no entanto, incluir aliança com JC ou JHC.
“Eu faço defesa da candidatura dela, acho importante para Alagoas e para o Brasil. Ela é uma mulher que traz protagonismo. A representação feminina no STJ ainda é muito baixa, e ela é uma figura que representa o Nordeste. Então, tem a minha torcida. A luta por ela independe do JHC. Não tem nada a ver. É uma alagoana e um espaço importante para uma nordestina”, disse, em 24 de janeiro.
No PT local, porém, a aproximação entre os dois lados é tratada como favas contadas. Porque Paulão é candidato ao Senado e seu maior eleitorado está na capital, onde quem manda é JHC, que apoia o deputado federal Arthur Lira (PP) ao Senado. O segundo voto? JHC ainda não revelou.
“O fato é que os Caldas querem a nomeação da parente no STJ. E depois? Vão trair os Calheiros. É lógico ver assim. Quem imagina o JHC apoiando o Lula? Transferir votos de bolsonaristas para Lula? Claro que isso não vai acontecer. Nosso campo político vai votar no JHC? Claro que não. Além disso, o Jota só perde com essa aliança, pois se descredencia com o próprio eleitor dele”, disse um integrante do grupo de Paulo Dantas/Calheiros.
E continua: “JHC não tem grupo político. Basta ver a composição atual na Prefeitura. Ele já deu uma rasteira em Arthur Lira. Quando Bolsonaro vem a Alagoas, o Jota não aparece. Pode anotar: veremos quem tem razão”.
Enquanto isso, os Calheiros não vinculam o momento atual ao futuro. “2026 fica para 2026”, disse Renan Filho. “Dar valor ao que tem valor”, explica Renan Calheiros, citando que é preciso dar crédito a uma obra, neste caso a BR-416, como iniciativa dos Caldas.
“Isso aproxima politicamente os grupos? Sim, aproxima, porque estamos construindo Alagoas, estamos construindo o Brasil. No fim das contas, o que importa é a entrega de obras e benefícios para o povo”, disse JC.
A prática, porém, deve ser diferente.