Conteúdo do impresso Edição 1327

ASSASSINATO NO FRANCÊS

Testemunha de acusação contra Janadaris Sfredo é acusada de estelionato

Julgamento da acusada de mandar matar Marcos André acontece dia 14
07/08/2025 - 06:00
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Divulgação
Marcos André foi alvejado a tiros na Praia do Francês em março de 2014
Marcos André foi alvejado a tiros na Praia do Francês em março de 2014

O aguardado julgamento da advogada e ex-empresária do setor de turismo Janadaris Sfredo, acusada de ser a mandante do assassinato do advogado Marcos André de Deus Félix, será realizado no próximo dia 14, às 8h, no Fórum do Barro Duro, em Maceió. O caso, um dos mais controversos da última década em Alagoas, ganha novos contornos com a revelação de que uma das testemunhas arroladas pela acusação possui antecedentes criminais. José Aroldo Casado Gama, arrolado pelo Ministério Público de Alagoas (MPAL) como testemunha de acusação, já respondeu a processo por porte ilegal de arma de fogo e é investigado por estelionato em uma ação recente que tramita na 2ª Vara Cível e Criminal de Marechal Deodoro (nº 0700434-08.2025.8.02.0044), sob o comando da juíza Fabíola Melo Feijão.

Os antecedentes levantam questionamentos sobre a credibilidade de parte da base testemunhal contra a ré. No caso da arma de fogo, uma garrucha calibre 32, ela foi localizada em 9 de julho de 2019, durante uma operação conjunta da Polícia Militar com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaesf) do Ministério Público. A busca era direcionada à filha de Aroldo, mas o armamento foi encontrado em sua residência, na Praia do Francês. Em depoimento, Aroldo admitiu ser o dono da arma, alegando se tratar de uma relíquia de família, pertencente a seu bisavô.

Não há informações detalhadas sobre o processo de estelionato a que responde o empresário, a não ser o fato de que o inquérito policial data de fevereiro deste ano.

Outro lado

José Aroldo Casado Gama, testemunha de acusação, divulgou um posicionamento em sua defesa. Ele afirmou que sua vida pessoal não tem relação com o caso investigado e classificou a reportagem como uma “tentativa de desqualificação”. José Aroldo esclareceu que a posse de uma arma mencionada trata-se de uma peça decorativa dos anos 1920, devidamente documentada. “A justiça está aberta para qualquer pessoa processar, mas isso não me desqualifica como testemunha de acusação”, afirmou.

Sobre o estelionado, disse ainda que desconhece a acusação e que já pediu para seu advogado se inteirar dos fatos. Ainda destacou que os três autores materiais do crime já foram julgados e que cabe ao Judiciário decidir sobre a responsabilidade de eventuais mandantes. 

“Enfim, não sou eu quem vou absolver ou condenar a pessoa que está sendo acusada de ser mandante, autora intelectual. Mas, infelizmente, meu nome está sendo usado numa tentativa de me desqualificar como testemunha. Isso não tem relação. Posso ser a pior pessoa do mundo, mas isso não me desqualifica como testemunha de acusação.”

“Fui arrolado, infelizmente, como testemunha porque no dia eu estava próximo do acontecido. Não tenho nada a acrescentar além do que já foi dito. Não matei ninguém, foi uma exposição desnecessária, finalizou.

Inimizade

Janadaris Sfredo, natural do Rio Grande do Sul, é acusada pelo Ministério Público de orquestrar o homicídio de Marcos André, com quem mantinha uma antiga inimizade. Segundo relatos reunidos no processo, o atrito teve início em 2010, quando os dois atuaram em lados opostos numa disputa judicial envolvendo a Pousada Lua Cheia, em Marechal Deodoro.

Marcos André defendia os proprietários; Janadaris representava os inquilinos, que foram derrotados na ação.

Com o passar dos anos, a tensão entre eles teria se intensificado, segundo o Ministério Público.

Marcos André foi alvo de disparos no dia 14 de março de 2014, época em que Janadaris e seu marido, Sérgio Sfredo, gerenciavam a Pousada Ecos do Mar, vizinha à residência do advogado, também na Praia do Francês.

Marcos André, então com 40 anos, chegou a ser socorrido com vida, mas faleceu dias depois no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes. O histórico de beligerância com os Sfredo levou a Polícia e o Ministério Público a apontarem Janadaris como a principal suspeita do crime de mando.

Condenações, denúncias e afastamento de magistrado

Segundo o Ministério Público, Janadaris teria contratado Juarez Tenório da Silva Júnior, Álvaro Douglas dos Santos e Elivaldo Francisco da Silva para executarem o crime, oferecendo a quantia de R$ 2 mil pelo assassinato.

Em 16 de agosto de 2017, dois dos acusados foram condenados pelo Tribunal do Júri: Álvaro Douglas teve pena fixada em 18 anos, e Elivaldo Francisco foi condenado a 21 anos, com abatimento pelo tempo de prisão preventiva já cumprido. Réus confessos e flagrados por câmeras de vídeo como autores dos disparos contra o advogado, ambos foram sentenciados por homicídio qualificado e já deixaram o presídio por terem cumprido um sexto da pena.

O que pesa a favor de Janadaris é que, durante o julgamento dos atiradores, eles negaram ter sido contratados por ela, afirmando que não a conheciam e que haviam sido contratados apenas para dar um susto no advogado por Juarez Tenório, então namorado de Maria Flávia dos Santos, que trabalhava como camareira na pousada de Janadaris.
Maria Flávia teria recebido cantadas de Marcos André.

Juarez também foi levado a julgamento pelo crime, já que era o motorista do carro em que Álvaro e Elivaldo fugiram após atirarem em Marcos André. Condenado, ele também obteve o benefício do regime semiaberto.

Maria Flávia, contudo, negou o assédio por parte do advogado e, de indiciada, passou à condição de testemunha de acusação contra Janadaris.

O processo ainda foi marcado por episódios inusitados. Em 2015, Janadaris denunciou um conluio entre seu então advogado, Júlio César da Silva Castro, e o então defensor dos atiradores, Augusto Jorge Granjeiro Costa Carnaúba, com o juiz que conduzia o processo, Léo Dennisson Bezerra, que à época atuava na comarca de Marechal Deodoro.

A denúncia levou à prisão em flagrante dos advogados pela Polícia Federal, com R$ 100 mil em espécie. Segundo os investigadores, o valor seria entregue ao magistrado em troca da liberdade de Sérgio Sfredo, marido de Janadaris e também acusado de participação no crime. O próprio casal procurou as autoridades para relatar a proposta ilícita. Augusto Granjeiro, hoje vereador em Marechal Deodoro, e Júlio César, então advogado do casal, foram detidos sob acusação de exploração de prestígio, enquanto o juiz Léo Dennisson se afastou do caso.

Posteriormente, Léo Dennisson foi alvo de processo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sendo afastado das atividades da magistratura por seis anos por suspeita de venda de sentença e conluio com o então prefeito de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus. O processo foi arquivado por ausência de provas, e o magistrado retomou suas atividades em 2022.


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