Alagoas-Sergipe

Pré-sal: Ineep descarta aumento da produção de gás natural no curto prazo

Federação Única dos Petroleiros (FUP) contrata estudo sobre reinjeção de gás natural no pré-sal
Por Com Monitor Mercantil 14/07/2023 - 07:56
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Petrobras
Gás natural
Gás natural

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) encomendou um estudo ao Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) para obter uma análise embasada de especialistas sobre a reinjeção do gás natural produzido no pré-sal. Essa medida contradiz o argumento do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que defende a redução do volume de reinjeção de gás natural como forma de aumentar a disponibilidade do insumo a curto prazo, especialmente na região do pré-sal.

As práticas e níveis de produção e reinjeção atuais foram estabelecidos por pesquisas e indicadores aprovados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) há anos e são difíceis de serem alterados no curto prazo.

De acordo com o estudo encomendado, o Brasil é um país com foco na produção de petróleo, não de gás natural. Possui um volume reduzido de reservas de gás natural, cerca de 12 trilhões de pés cúbicos (TCF), em comparação com os principais produtores de gás do mundo: Rússia (1.321 TCF), Qatar (870 TCF) e EUA (400 TCF).

As reservas de gás natural do Brasil estão localizadas em águas profundas e ultraprofundas, no pré-sal, o que torna o custo de extração mais elevado em comparação com os grandes produtores que têm extração em terra firme.

Além disso, no pré-sal, o gás natural está associado ao petróleo, o que demanda operações de separação, também custosas e complexas. Todo esse processo requer investimentos de longo prazo, com retorno em períodos mais extensos.

"Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, destaca que o ministro deveria concentrar seus esforços em ajudar o Estado brasileiro e a Petrobras a expandirem a exploração e produção de gás natural no país. Isso requer investimentos a longo prazo e também em logística para o transporte do gás do mar para a terra", ressaltou.

Segundo o estudo, a prática de reinjeção também possui aspectos ambientais importantes, sendo utilizada não apenas para aumentar a produtividade dos poços, mas também para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A pesquisa revela que 40% do gás reinjetado é composto por CO2 associado ao gás natural. Ou seja, caso o gás não fosse reinjetado, o CO2 seria separado e liberado na atmosfera, prejudicando os indicadores ambientais das empresas. Além disso, outros 40% são utilizados para aumentar a pressão dos poços e, consequentemente, a produção de petróleo.

A separação completa do gás natural e do CO2 requer equipamentos de alto custo. "A redução da reinjeção resultaria em um retrocesso nas metas de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, no processo de descarbonização e na captura de carbono (CCS) da indústria petrolífera e da Petrobras", destaca Mahatma Ramos, pesquisador do Ineep e um dos autores do estudo.

Segundo a Petrobras, seu processo de separação do CO2 do gás natural e reinjeção no pré-sal é a maior operação de captura de carbono (CCS) do mundo e desempenha um papel importante na redução da pegada de carbono da atividade petrolífera. "Além disso, o gás reinjetado não é perdido ou descartado, ele pode ser reutilizado na produção de óleo", acrescenta Ramos.

De acordo com o estudo, é necessário considerar os obstáculos técnicos, econômicos e ambientais para reduzir a reinjeção no Brasil a curto prazo, além de avaliar a implementação de novos projetos. Os projetos atualmente em andamento, como o Rota 3 e as atividades na Bacia de Sergipe-Alagoas, não atendem aos objetivos de curto prazo.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a oferta nacional de gás natural aumentará de aproximadamente 40 milhões de m³ por dia para 60 milhões de m³ por dia em 2027. Esse aumento será impulsionado por novos campos de produção de óleo e gás, principalmente nas bacias do sudeste (pré-sal) e de Alagoas-Sergipe, além de novas infraestruturas de escoamento de gás natural, como o projeto Rota 3 na Bacia de Campos, e aumento da importação de gás natural da Bolívia.

De acordo com o Ineep, o Brasil reinjetou em média 51% de sua produção de gás natural nos primeiros quatro meses de 2023. No ambiente marítimo, essa média sobe para 54%, enquanto no ambiente terrestre é de 38%.

Os volumes de gás natural reinjetados no Brasil aumentaram constantemente desde 2014, especialmente no ambiente marítimo (offshore), onde a média subiu de 17% entre 2007 e 2013 para 51,3% em 2022. No ambiente terrestre, o volume de gás natural reinjetado se estabilizou em cerca de 32,8% do total produzido a partir de 2020.

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