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No Rio, "fila da fome" reúne pessoas sem teto em busca de comida

Insegurança alimentar afeta milhões nas grandes cidades do país
Por Agência Brasil 20/03/2023 - 08:13
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Tânia Rêgo/Agência Brasil
Pessoas se organizam em fila para se cadastrarem para almoço gratuito no centro de acolhimento do projeto Fraternidade na Rua, na Lapa, região central da cidade
Pessoas se organizam em fila para se cadastrarem para almoço gratuito no centro de acolhimento do projeto Fraternidade na Rua, na Lapa, região central da cidade

A cena se repete todos os dias, de segunda a sexta-feira. Por volta das 11h, há um alvoroço num trecho da rua do Senado, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Dezenas de pessoas, sentadas ou deitadas na calçada, protegidas por árvores e um abrigo de ônibus, correm para formar uma fila quando veem voluntários saírem do número 50. A confusão é inevitável. 

Aqueles que chegaram mais tarde tentam se posicionar à frente de quem estava ali desde cedo e se organizar, mesmo que de forma precária. Enquanto isso, os voluntários do número 50 anotam os nomes dos que correram para a fila. Apenas 100 dos muitos sem teto que vivem em situação de rua serão selecionados naquele dia e contemplados com um almoço, oferecido gratuitamente pela organização não governamental Fraternidade sem Fronteiras. 

A ONG funciona ali, no número 50, há quase dois anos. Para alguns deles, aquela será a única refeição do dia, se tiverem sorte. Marcelo, de 41 anos, era um dos primeiros na "fila da fome" na manhã da primeira quinta-feira de março (2). Desempregado desde que deixou a cadeia em 2019, em liberdade condicional, ele depende da boa vontade de outras pessoas para comer. À noite, consegue jantar em um abrigo da prefeitura, mas, durante o dia, tem que batalhar por sua refeição. 

“Briguei com meus irmãos e tive que sair de casa. Estou na rua há um ano e seis meses. É uma situação complicada, porque nós não temos dinheiro. Então tem que correr onde tem comida”, disse Marcelo à Agência Brasil. Também na fila, Márcio, de 39 anos, teve que deixar a casa onde vivia com a mulher e cinco filhos, há três meses, por ser usuário de drogas. Ele diz que está “livre do vício”, mas, desempregado e morando na rua, trava uma luta diária para poder se alimentar. 

“Às vezes a gente consegue comer nos abrigos, às vezes algumas igrejas também dão. A gente vai sobrevivendo com a ajuda de outras pessoas”.Paulo César, de 27 anos, três deles vivendo na rua depois de ser expulso de sua comunidade por criminosos, também conseguiu seu almoço na última quinta-feira. Mas nem sempre é assim. Sábado e domingo não tem almoço na ONG. E, às vezes, mesmo durante a semana, não tem sorte de estar entre os selecionados.

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