Sem falha mecânica
Caso Marília Mendonça: laudo aponta "avaliação inadequada" do piloto
Cabo de energia é apontado como principal causador do acidente
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticas (Cenipa), da Força Aérea Brasileira, concluiu que não houve falha mecânica e apontou que o julgamento do piloto no momento de aproximação da aeronave para o pouso contribuiu para o acidente que matou a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas em Piedade de Caratinga, na Região do Rio Doce, em Minas Gerais, em novembro de 2021. O relatório foi divulgado na noite desta segunda-feira, 15.
Segundo o Cenipa, a aproximação da aeronave "foi iniciada a uma distância significativamente maior do que aquela esperada" e "com uma separação em relação ao solo muito reduzida".
O Cenipa levantou a possibilidade de que a tripulação da aeronave estivesse "com a atenção (visão focada) direcionada para a pista de pouso em detrimento de manter uma separação adequada com o terreno em aproximação visual".
Segundo as investigações, a aeronave bateu em um cabo de uma torre de distribuição da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). No entanto, a linha de transmissão estava fora da zona de proteção do aeródromo e tinha 38,5 metros de altura.
"Uma vez que a linha de 69 kV encontrava-se fora dos limites de Zona de Proteção de Aeródromo (ZPA) estabelecidos pelo PBZPA, ela não se caracterizava como um obstáculo que pudesse causar efeito adverso à segurança ou regularidade das operações aéreas"
Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, divulgadas em novembro de 2022, concluíram que a aeronave estava voando baixo e que o piloto não seguiu o padrão de pouso do aeródromo – ele fez a aproximação pelo lado correto, mas "se afastou" do local recomendado e saiu da zona de proteção. Uma das hipóteses levantadas pela polícia é que ele tenha tentado fazer um pouso "mais suave".
A zona de proteção é a área de entorno sujeita a restrições para que aeródromos possam operar com segurança. Apenas os obstáculos inseridos dentro da zona de proteção são inseridos no Notam, documento de referência para pilotos.
Antes de ser divulgado publicamente, o relatório do Cenipa foi apresentados aos familiares das vítimas. Na tarde desta segunda-feira, o advogado da família de Marília Mendonça, Robson Cunha, disse que, de modo geral, o Cenipa entende que não houve erro do piloto.
"A intenção da dona Ruth e dos familiares não é apontar culpados. A gente não está aqui na caça às bruxas. A posição dela sempre foi clara, nada disso daqui vai trazer a filha dela de volta. O objetivo de todos, na verdade, é que situações que aconteceram com a filha dela sejam evitadas, para que nenhuma família mais passem pela dor e pela perda que eles passaram", diz o advogado.
No dia 5 de novembro de 2021, a aeronave que transportava a equipe da cantora caiu em Piedade de Caratinga, na Região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Tratava-se de um bimotor Beech Aircraft, da PEC Táxi Aéreo, de Goiás, prefixo PT-ONJ, com capacidade para seis passageiros.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o avião estava em situação regular e tinha autorização para fazer táxi aéreo. Ele decolou do Aeródromo Santa Genoveva, em Goiânia (GO), às 16h02min. O grupo voava em direção à cidade de Caratinga, onde a artista faria um show naquela noite.
Além de Marília Mendonça, morreram Geraldo Medeiros (piloto), Tarciso Viana (copiloto), Henrique Ribeiro (produtor) e Abicieli Silveira Dias Filho (tio e assessor da artista). A cantora partiu aos 26 anos, no auge da carreira, deixando o pequeno filho Leo.
Os cinco ocupantes da aeronave foram vítimas de politraumatismo contuso, de acordo com o médico-legista Thales Bittencourt de Barcelos. As mortes aconteceram depois que todos já estavam no chão.
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