discriminação
Vendedora negra de Maceió denuncia ter sido demitida por usar tranças nagô
Gabriela Barros ouviu da chefe que o cabelo "não combinava com o perfil da empresa”
Uma vendedora denunciou ter sido demitida de uma empresa de consórcios e cartas de crédito localizada no Centro de Maceió após adotar tranças nagô, um penteado tradicionalmente ligado à cultura negra. Gabriela Barros, de 21 anos, publicou um relato sobre o caso no Instagram.
Em relato publicado no Instagram, Gabriela contou que o caso ocorreu no início de março. Ao chegar para trabalhar com o novo penteado, ela foi informada pela gestora da empresa que aquele tipo de cabelo não era aceito no ambiente profissional.
“Coloquei uma trança bem pequena, uma nagô. Passei apenas um dia com ela, porque, quando cheguei ao trabalho, a gestora simplesmente mandou que eu retirasse. Como tinha contas a pagar e precisava me manter na empresa, aceitei e tirei a trança”, contou.
Gabriela contou que, semanas depois, decidiu colocar uma nova trança, desta vez, segundo ela, “bem comum”, para não chamar atenção. “Ela me chamou de canto e disse que eu tinha dois dias para tirar a trança. Afirmou que era perfil de loja de hippie, que não combinava com o perfil da empresa dela”, relatou.
Ao se recusar a retirar as tranças, Gabriela foi informada de que não deveria retornar ao trabalho. “Se você vier amanhã com a trança, vou colocar você para ir pra casa. Eu já te avisei. Tire essa trança hoje. Se for para vir amanhã, nem venha”, disse a gestora em um áudio gravado pela funcionária.
No dia seguinte, Gabriela compareceu ao local de trabalho com as tranças. “Na frente de todo mundo, ela não fez nem questão de me chamar de canto. Ela me mandou embora”, afirmou.
“Foi uma situação totalmente desconfortável, ter que ir pra casa por causa do cabelo”, relatou. “É um cabelo. Não vai interferir na questão de atendimento. Não é só estética. É também uma questão de ancestralidade”.
A gestora, em resposta, afirmou: “Mas eu não aceito. Você tem que entender que é o seu estilo de vida, e tem que entender as regras da empresa. A questão do cabelo pra mim interfere porque aqui é um escritório. Se você se vestisse com um estilo mais social, eu ainda aceitaria a tua trança”.
O advogado de Gabriela, Pedro Gomes, classifica a demissão como uma dispensa discriminatória. Para ele, ao rejeitar um cabelo com tranças nagô, associando-o a informalidade ou a festas como o carnaval, a atitude da empregadora evidencia racismo estrutural. O advogado informou que pretende acionar a Justiça com um pedido de indenização por danos morais.
A Comissão de Promoção de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL) informou que acompanha o caso. "[Gabriela] foi vítima por demonstrar sua negritude", afirmou Mayara Heloise, presidente da comissão. "Além de crime, foi uma forma de discriminação no ambiente de trabalho".