colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma trumpetada fenomenal

06/04/2025 - 07:04
Atualização: 06/04/2025 - 09:20
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Passado o impacto inicial do tarifaço do governo Trump, tem sido quase unânime a opinião de que, no mínimo, se trata de uma ação contraproducente, que descumpre fundamentos econômicos, mal calibrada, desnecessária e destrutiva.

Tudo contrário ao que ele alardeou no dia em que anunciou a implosão dos pilares do comércio internacional longamente construídos pelo próprio governo americano nos últimos 80 anos. Ao que parece, somente ele e os bocais do seu entorno não sabiam que seriam retaliados — primeiro pela China, depois pela Europa e em seguida pelos componentes de grupamentos econômicos como os BRICS.

A estupefação com a rápida resposta chinesa mostra seu despreparo para estar à frente da maior economia do mundo. Seria de dar dó, não fosse a gravidade do momento. Como seria a patética resposta dada ao povo americano para ele “aguentar o tranco”, que lá na frente tudo vai ficar bem (até parece o Lula).

Isso quando os americanos viram, em três dias, seu dinheiro evaporar de forma brutal nas três maiores bolsas do país — nada menos que 6 trilhões de dólares viraram pó. O que equivale a três PIBs do Brasil, a sétima maior economia do mundo. Um tombo gigante. Você ficaria tranquilo com a mentira de um mentiroso compulsivo?

A rápida mudança de postura que suas respostas indicam beira o patético, colocando a nu o bufão escondido por detrás da capa de valentão. No caso chinês, saiu-se com um lamentável “eles não entenderam o espírito da coisa”. Será que ele, em sua boçal arrogância, achava que a China ia engolir em seco e baixar a cabeça às suas estultices?

Todos começam a enxergar o tamanho da estupidez que este senhor acaba de praticar. Reações ocorrerão. Empresas já cogitam suspender investimentos, o consumidor americano reage contrariamente, e os mercados já precificaram uma forte recessão global pela frente (péssimo para a América Latina e para o Brasil)...

O New York Times, em editorial, afirma que “Essas tarifas vão machucar. Muito. Elas podem ser 50 vezes mais dolorosas do que aquelas que Donald Trump instituiu em seu primeiro mandato. Elas vão remodelar a vida do americano de maneiras muito mais fundamentais.” Leia-se: mais inflação, menores rendas, menos negócios, mais desemprego e muita instabilidade. As bases institucionais do crescimento estão sendo muito abaladas.

Trump foi descrito ontem pelo American Enterprise Institute, uma famosa instituição conservadora, como um “analfabeto em economia” — alguém que não entendeu as causas do déficit comercial americano (basicamente, um país que consome mais do que investe) e não consegue ler os sinais de perigo à frente, nem mesmo para si próprio. O buraco que cavou para ele e para o mundo tem consequências nefastas para todos. O mundo assiste

(entre estupefato e temeroso), ao vivo e a cores, ao ponto de inflexão que levará os EUA à perda da liderança global.
No caso do Brasil, é mais ou menos unânime que o impacto sobre as exportações será restrito a alguns setores, mas com grande possibilidade de crescer fortemente em outros, com a proibição chinesa da entrada de produtos agrícolas americanos. É certo que, nesse caso, o Brasil pode ganhar market share no comércio mundial.

Já do ponto de vista macroeconômico, o tarifaço certamente vai expor as vísceras das nossas eternas vulnerabilidades, nunca corrigidas e sempre protegidas pelos governos que passam, ao manterem o Brasil como um dos países mais fechados do mundo para a realização de negócios com o exterior. Para prejuízo do consumidor brasileiro, que compra os produtos mais caros em relação ao mundo e de muito menor qualidade.

Esta é uma oportunidade de ouro que, certamente, o governo Lula, com sua visão retrógrada e nacionalista de discursos, vai deixar passar batido.

Uma pena.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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