Por que ter 'puxa-sacos' ao seu redor pode torná-lo um líder pior?

Por Agência Estado 28/03/2024 - 23:21

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As celebridades não são as únicas que vivem rodeadas de puxa-sacos ou bajuladores (aqueles que enaltecem exageradamente alguém com o propósito de serem recompensados). No mundo do trabalho, profissionais que ocupam cargos com certo status corporativo estão mais sujeitos a escutarem apenas elogios. Embora seja confortável, o que muitas lideranças não sabem é que essas companhias representam uma cilada.

Identificar relações de bajulação nem sempre é fácil. Existem profissionais que têm um perfil mais servidor e outros que conseguem desenvolver um relacionamento genuíno com a gestão, o que não significa que desejam forçar uma aproximação com a liderança. Mas é possível mapear algumas características específicas. Veja os exemplos a seguir:

- Concorda de maneira passiva com as opiniões das lideranças

- Evita dar feedbacks divergentes ou construtivos para a chefia

- Tenta criar relações no trabalho de maneira rasa e fingida, com elogios exagerados ou realizando favores desnecessários

"A intenção por trás dessas ações é, muitas vezes, obter vantagens pessoais, como reconhecimento, promoções ou tratamento preferencial, em detrimento de um engajamento genuíno com o trabalho e com os objetivos da equipe", explica Daniela Bertoldo, especialista em liderança feminina.

São pessoas que almejam uma conquista profissional mais pela bajulação do que pela qualificação ou pelo trabalho coletivo.

Nas equipes, o comportamento também pode gerar conflitos. "As pessoas se sentem incomodadas, e isso começa a criar uma polêmica. Por exemplo, tenho que levar Maria para um projeto, ela é bajuladora, mas é boa naquilo. Como é que vou explicar que ela está indo porque é competente?", questiona Ana Ismerim, mentora de carreiras e lideranças.

Bajuladores são um prato cheio para o colapso de uma liderança

Líderes que gostam de ser paparicados e não querem ser contrariados estão a um passo de retardar o próprio desenvolvimento profissional e até mesmo colocar em risco a credibilidade da empresa.

"O líder não consegue ver tudo, e por isso ele precisa de pessoas críticas e sinceras. Então, quando ele acha que está totalmente certo e ninguém o contesta ou instiga, ele deixa de ver a empresa como um todo", avalia Roberto Shinyashiki, psiquiatra e escritor best-seller.

Nesse contexto, driblar a vaidade que rodeia o cargo da liderança é um desafio.

Ana Ismerim compara a bajulação no trabalho com uma infiltração, que vai aos poucos minando uma casa. De repente, a água inunda um cômodo. É quando as lideranças que confiam em puxa-sacos perdem a credibilidade e a autoconfiança, já que observam informações importantes da empresa e da equipe sob a ótica de um profissional que não aponta erros.

Daniela Bertoldo complementa que bajuladores em posições de influência também colocam em xeque a tomada de decisões dos líderes, pois comunicam somente o que favorece os próprios interesses.

"A promoção de uma cultura que valoriza a bajulação em detrimento do mérito pode diminuir a moral da equipe, reduzir a inovação e fomentar um ambiente de trabalho tóxico, onde a política de escritório prevalece sobre a performance e a colaboração autêntica", afirma.

Tome decisões baseadas em méritos, não em favoritismo

As consequências de puxa-sacos no trabalho viram um efeito cascata. Os funcionários passam a desacreditar na cultura da empresa e a descredibilizar a liderança. Uma das saídas, segundo Bertoldo, é apostar em feedback aberto e honesto, em que todos são encorajados a expressar opiniões divergentes sem medo de sofrer represálias ou aborrecimento da chefia.

Outra estratégia é fomentar a transparência na equipe para que não restem dúvidas das decisões tomadas pelo líder.

"Estabelecer critérios claros e objetivos para avaliação de desempenho e promoções pode ajudar a garantir que as decisões sejam baseadas em mérito, não em favoritismo", ressalta Bertoldo, acrescentando que treinamentos sobre ética e comunicação podem equipar líderes e colaboradores com ferramentas para identificar comportamentos tóxicos.

Além disso, a liderança deve ter uma comunicação que desencoraje qualquer desvio de conduta, como é o caso das relações de bajulação. Em um primeiro momento, ao perceber uma situação que extrapolou os limites convide o funcionário para uma conversa individual, como neste exemplo:

"Olha, fico muito feliz que você me elogie e reconheça os meus acertos, mas o seu comportamento está gerando um comprometimento na imagem da sua competência e um desconforto na equipe. Mesmo que você esteja fazendo isso com a melhor das intenções ou sem perceber, vamos tentar mudar", sugere a mentora Ana Ismerim.

Ela orienta que a liderança leve exemplos reais para a conversa, com situações que aconteceram na equipe, e evite julgar a intenção do profissional.

Segundo Roberto Shinyashiki, um dos maiores obstáculos para a liderança é deixar o ego de lado e mostrar que não está interessado em elogios exagerados, mas em ideias e diferentes percepções.

Bertoldo reforça que é papel do líder se manter vigilante e fazer intervenções ao notar atitudes inapropriadas de puxa-sacos.


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