VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Casos de feminicídio aumentam 121% em Alagoas, alerta OAB

Mulheres negras e moradoras do Benedito Bentes, em Maceió, são as principais vítimas
Por Sofia Sepreny 25/11/2019 - 10:49
Atualização: 25/11/2019 - 12:33
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Sofia Sepreny
OAB divulgou dados alarmantes
OAB divulgou dados alarmantes

Enforcadas, esfaqueadas, queimadas vivas. Casos como esses não fazem parte de livros de história que narram a caça às bruxas. Essa foi a realidade de muitas mulheres de Alagoas, vítimas de feminicídio. 

Segundo balanço da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AL), em 2019, 42 mulheres já foram brutalmente assassinadas. No ano passado foram registrados 19 casos, o que revela um aumento de 121% nesse tipo de violência. 

No ranking da crueldade, divulgado nesta segunda-feira, 25, as mortes por projétil de arma de fogo lideram. Em segundo lugar, os criminosos usaram armas brancas para cometer os assassinatos, como facas e facões. Em seguida, vem casos de espancamento, asfixia e queimaduras, respectivamente.

Os dados foram apresentados justamente no Dia de Combate à Violência contra a Mulher. 

Ainda conforme a OAB, a cor da pele também é um "fator" que pode condenar a mulher à morte. Mulheres negras foram 5,3 vezes mais assassinadas que mulheres brancas no estado.

“Hoje, em Alagoas, as mulheres negras foram mais assassinadas. Essa vulnerabilidades racial deve ser considerada quando se trata de políticas públicas”, afirmou Anne Caroline Fidelis, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-AL.

De todos os casos analisados, de 2018 a 2019, 53 das mortes tiveram a autoria do ex-companheiro ou do ex-marido. Em Alagoas, o local onde as mulheres se encontram mais indefesas é ironicamente dentro de casa, onde aconteceram os assassinatos. 

Quando se trata de Maceió, em 2018, a capital representava 36,4% dos feminicídios de Alagoas. Já em 2019, houve uma redução: de 27 casos para 20, em comparação ao ano passado. 

E o bairro mais inseguro para mulheres que moram em Maceió é Benedito Bentes, local onde foram registrados mais casos de feminicídio. 

“A mulher que sofre violência tem pressa. Ela vai sair de um ciclo de violência, perder a família, por muitas vezes, perder uma fonte de renda, então isso, é algo que precisa ser pensado para apoio”, disse Paula Lopes, presidente do Centro de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM).

O levantamento ainda destaca um fato que deve ser repensado pelas autoridades da Segurança Pública: 64,1% dos assassinatos acontecem durante à noite ou pela madrugada, quando as delegacias estão fechadas. 

“A violência contra a mulher é um termômetro muito importante para avaliar a segurança da sociedade. É importante a gente acender essa luz vermelha. Os números aumentaram muito. O governo tem se empenhado, mas não consegue ter perna o suficiente para entregar o que nós esperamos”, afirmou o presidente da OAB-AL, Nivaldo Barbosa. 

Na reunião foram citados alguns dos fatores determinantes para o aumento destes número. Entre eles estão a crise econômica, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, aumento do ódio. Segundo os presentes o fato de hoje ter também uma lei de feminicídio faz com que esses dados apareçam mais.

Projeto

Representantes da OAB-AL foram até São Paulo para buscar mais detalhes sobre um projeto que ajuda mulheres vítimas de violência. 

"Ele será lançado, em breve, em Alagoas e irá contribuir pra que essas mulheres tenham a mão do estado, da sociedade civil, no sentido de que tenham oportunidades para entrarem no mercado de trabalho”, divulgou a presidente da Comissão de Direitos Humanos. O lançamento ocorrerá no dia 12 de dezembro.

O "Tem Saída", foi lançado em agosto de 2018 em São Paulo, e é uma política pública voltada à autonomia financeira e empregabilidade da mulher em situação de violência doméstica e familiar.

Dados gerais

Em Alagoas, 69 mulheres já foram assassinadas de 1º de janeiro até o dia 22 de novembro. No ano passado, foram 69 mulheres que morreram vítimas de algum tipo de violência, como doméstica ou latrocínio, por exemplo. 

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