MEIO AMBIENTE

Tubarões estão mais raros em Alagoas e correm risco de extinção

Especialista lembra que não há registro de ataques a banhistas no estado
Por José Fernando Martins 07/03/2023 - 10:25
Atualização: 07/03/2023 - 13:16
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Prefeitura de Maceió
Mar de Maceió
Mar de Maceió

A região metropolitana de Recife, capital de Pernambuco, registrou três ataques de tubarões em 15 dias. Na segunda-feira, 6, na praia de Piedade, uma jovem teve parte do braço arrancado durante um ataque.

No domingo, na mesma praia, um adolescente precisou ter a perna amputada devido aos ferimentos causados pela mordida de um tubarão. Em meados de fevereiro, um homem, em Olinda, ficou internado 10 dias após ser atacado.

Tubarão flagrado em praia de Recife (PE)
Tubarão flagrado em praia de Recife (PE)

Os casos, que viraram notícia nacional e internacional, acenderam o alerta para quem mora em cidade litorânea e também para os turistas que vêm passar férias no Nordeste. E Maceió? É seguro entrar no mar em praias alagoanas?

Segundo o professor Cláudio Sampaio, do curso de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Penedo, não há registros de ataques em praias do estado envolvendo banhistas.

Ele também explica também que o aparecimento de tubarões, tanto em mergulhos turísticos quanto durante pescaria, está cada vez mais raro.

Extra Alagoas - O que difere o mar de Recife do mar de Maceió, quando se trata de tubarões?

Cláudio Sampaio - A questão dos incidentes com tubarões na região metropolitana do Recife é algo muito específico, pois envolve uma área urbana degradada pelos aterros de manguezais, poluição e condições oceanográficas locais, como presença de um canal mais profundo paralelo as praias, águas turvas e correntes marinhas, que favorecem a aproximação de grandes tubarões nesse trecho do litoral que não possui recifes. O litoral de Maceió tem formações recifais que são obstáculos naturais, além disso os recifes de coral são áreas com presença de cardumes de peixes e outros animais que são o alimento natural dos tubarões, o que pode manter os tubarões mais afastados nas águas rasas.

EA - Há histórico de ataques em Maceió?

CS - No arquivo internacional de incidentes com tubarões não há registros oficiais, mas há raros casos de incidentes envolvendo pescadores, quando capturam e embarcam esses peixes. Nesses casos chamamos de "incidentes provocados". Foram ferimentos superficiais, mas que necessitaram de atendimento médico.

O professor Cláudio Sampaio
O professor Cláudio Sampaio

EA - O Porto de Maceió vem recebendo cruzeiros. Há risco de tubarões começarem a se aproximar da costa?

CS - Alguns tubarões podem seguir embarcações, aproveitando os resíduos sólidos (lixo orgânico) descartados no mar, mas sem um monitoramento da região portuária, que também tem uma frota de pesca artesanal e localizada próxima do rio Salgadinho, que lança esgoto na região, não podemos avaliar essa possibilidade.

EA - Quais as espécies de tubarões mais comuns no mar de Alagoas?

CS - As principais fontes da informação sobre as espécies de tubarões em nosso estado são os desembarques pesqueiros e eventualmente mergulhadores. Nos últimos anos, o número de tubarões pescados sofreu grande redução, embora não tenhamos estatística pesqueira oficial, indicando o que pescamos, quando, onde e quantas toneladas, as informações são obtidas esporadicamente através das pesquisas da Ufal e outros parceiros indicam que além de redução do número de espécies de tubarões, diminuiu o seu tamanho e, consequentemente, o peso. 

As espécies que mais aparecem nas pescarias são os cações de pequeno porte, Rhizoprionodon spp. Outros tubarões que no passado eram pescados com maior frequência, como lixa e galha preta, estão ameaçados de extinção. E durante os mergulhos, os tubarões, que são considerados verdadeiras atrações turísticas, são raramente observados, especialmente o tubarão-lixa. Os principais motivos das ameaças de extinção são a pesca e a degradação do ambiente.

Os tubarões possuem características biológicas que os deixam mais suscetíveis à pesca e à degradação dos ambientes marinhos. Demoram bastante tempo para atingir a maturidade sexual, vivem muitos anos, produzem poucos filhotes. Quando você pesca muito, os tubarões não conseguem suportar e a população entra em declínio. Os tubarões são responsáveis pelo controle de outras espécies e de manter a saúde dos oceanos, comendo animais doentes, velhos ou carcaças que podem contaminar o ambiente.

Tubarão-lixa está ameaçado de extinção
Tubarão-lixa está ameaçado de extinção

EA - O mar de Maceió é seguro?

CS - O mar de Maceió tem tubarões, corais, tartarugas, peixes, águas vivas e ouriços, todos animais comuns em ambientes naturais e saudáveis. Não podemos esquecer que o mar não é nossa casa, que estamos visitando e devemos nos comportar, respeitando seus moradores, não poluindo ou pescando de maneira ilegal (pegando peixes ameaçados, pequenos ou usando equipamento de pesca não adequado).

Os incidentes mais comuns com animais em nossas praias são com águas vivas e ouriços do mar, mas não podemos esquecer que o esgoto e o lixo, também, causam doenças e ferimentos, como o esporão de uma arraia deixada na praia da Jatiúca que feriu o pé de uma criança.

EA - Considerações livres

CS - Ao frequentar as nossas praias e rios seja responsável, observe e respeite a sinalização, na dúvida, procure um salva-vidas. Não deixe lixo e se possível recolha alguns que encontrar. Também não podemos esquecer de nossas lagoas, que nos deram o nome de Alagoas e alagoanos. Ao observar um animal marinho, como peixes boi ou tartarugas, mantenha distancia, não toque, não fale alto, não ofereça bebidas ou alimentos, faça fotos sem flash e alerte aos órgãos competentes mais próximos. No caso de observar um grande peixe ou um tubarão nadando, procure sair da água sem pânico.

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