TRAGÉDIA ANUNCIADA
Estudo da Ufal mostra potencial risco de desmoronamento do morro no Flexal de Cima
Técnicos enfatizam que a área é afetada pela exploração do sal-gema, declive das encostas e desmatamento
Por Tamara Albuquerque
14/10/2023 - 07:33
Atualização: 14/10/2023 - 09:58
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufal
Alagoas pode presenciar um novo desastre ambiental, desta vez uma tragédia anunciada que certamente culminaria em destruição e mortes. O alerta vem de um dos mais esclarecedores estudos técnicos realizados em Maceió desde que apareceram os sinais de afundamento de solo em cinco bairros da cidade, em 2018, como resultado da atividade mineradora predatória da Braskem.
Pelo menos dois aspectos, entre tantos apresentados no estudo, são citados como preponderantes para contribuir a uma tragédia de grande porte na área: a geomorfologia, que coloca o Flexal de Cima com potencial para desmoronamento, e o fenômeno de subsidência, que destruiu os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol, citado acima.
Primeiro, os Flexais de Bebedouro se encontram geograficamente em área encravada de vales fluviais e encostas, uma geografia que naturalmente isola as comunidades do restante da cidade. Segundo o estudo da Ufal, conduzido pelo professor doutor Dilson Barbosa Ferreira, geomorfologicamente já existe isolamento geográfico e ambiental nos Flexais, pois ficam espremidos entre as bordas dos tabuleiros e a área de transbordamento da Lagoa Mundaú.
No Plano Diretor de Maceió (Lei Municipal nº 5486, de 30/12/2005), em vigor, os Flexais já são apresentados como áreas de restrição urbana e área de ris[1]co. Nesta situação, estão todas as encostas ou grotas com declividade igual ou superior a 30° (trinta graus).
“A estabilidade dos mate[1]riais sobre terrenos inclinados é menor quanto maior for o ângulo de inclinação. Associados a chuvas e outros fatores antrópicos [resultantes da ação humana], as encostas dos Flexais são suscetíveis a deslizamentos, especialmente porque estão desprovidas de cobertura vegetal e há altas declividades nos vales”, aponta o estudo. Além disso, para haver segurança na parte de baixo [no Flexal de Baixo] a borda lagunar deveria apresentar faixa de proteção de pelo menos 30m de cada lado das margens dos cursos d’água.
O estudo lembra que as ocorrências de deslizamentos nos Flexais acontecem desde o século passado. “Toda época chuvosa, a Defesa Civil do Município de Maceió reforça a necessidade de monitoramento dos Flexais devido à alta declividade de suas encostas desmatadas, associadas à alta pluviometria nesta porção da região do complexo lagunar”, enfatiza o trabalho.
“Desta forma, a área [Flexais], pela sua condição topográfica - que isola a região - , é suscetível à desestabilização do solo, associada aos fatores apontados legalmente pela legislação municipal e federal como área de restrição urbana, devido à sua condição geomorfológica. Tudo isso faz com que exista a iminência de deslizamento do morro, a partir da perda de coesão e estabilidade do solo. Há risco iminente de que o morro desça até a base das encostas onde estão as quebradas e Flexais de Baixo, o que reforça ainda mais a [necessidade de] realocação destas comunidades”, alerta o estudo.
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