JUSTIÇA
Veja como foi o 1º dia do julgamento dos acusados de matar João de Assis
Auditor fiscal foi assassinado durante fiscalização em um estabelecimento em 2022Começou nesta quinta-feira, 31, no fórum do Barro Duro, em Maceió, o júri popular dos acusados de assassinar o auditor fiscal da Receita Federal João de Assis. O crime aconteceu em 2022 e comoveu a sociedade.
João de Assis, à época com 62 anos, foi assassinado, teve o corpo queimado e desovado em um canavial. O auditor cumpria seu papel e teria incomodado os donos de um estabelecimento comercial que o mataram por encontrar possíveis irregularidades fiscais no local.
No primeiro dia de júri, foram ouvidas 34 testemunhas - as da acusação pela manhã e as de defesa, à tarde. Até a última atualização desta matéria, os acusados tinham começado a ser ouvidos. Após o depoimento de todos eles, o julgamento será encerrado e retomado na sexta-feira, 1º.
Sentados no banco dos réus estão os irmãos Ronaldo Gomes de Araújo, Ricardo Gomes de Araújo da Silva e João Marcos Gomes de Araújo; a mãe deles, Maria Selma Gomes Meira; e Vinicius Ricardo de Araújo Silva.
Os irmãos Ronaldo e Ricardo teriam sido responsáveis por torturar e matar o servidor público. Vinicius, Maria Selma e João Marcos são acusados de suporte moral aos executores para que lograssem êxito no plano criminoso. Os cinco foram denunciados por homicídio triplamente qualificado, além dos crimes conexos de fraude processual, corrupção de menor e ocultação de cadáver.
Confira alguns momentos do primeiro dia de julgamento:
Família em luto
Marta Magalhães Pinto, viúva de João de Assis, contou como foi o dia do crime para ela.
Marta relatou que no dia do crime achou estranho João se Assis não manter contato, o que não era comum. "Eu comecei a ter um apeto no coração. Quando liguei, uma voz feminina atendeu e perguntou quem era. Eu disse que era a esposa do dono do telefone e a mulher disse que havia achado o aparelho no mato, vibrando e eu fui olhar".
Marta pediu para a mulher guardar o celular porque tinha fotos de família. Em seguida, pediu o endereço da mulher e foi buscar o celular junto com o filho. "Era mais de 18h, meu filho achava o local perigoso e não que eu fosse, [queria] que voltasse para casa com minha filha, que mandaria um amigo dele ir, mas eu não quis".
Segundo Marta, os objetos pessoais de João desapareceram e que os cheques do auditor fiscal foram usados.
A viúva contou que João era apaixonado pelo que fazia e que era um bom pai, sempre incentivou os dois a estudarem. Emocionada, ela disse ainda a morte trouxe como consequência problemas psicológicos, que o filho passou por tratamento e que o pai não teve o prazer de ver o filho ser oficial do Bope.
Pedido de socorro
Uma das testemunhas, que à época do crime era menor de idade, afirmou que Ricardo e Vinicius teriam matado João de Assis. A testemunha relatou que foi chamada por Ricardo para ir à um posto de gasolina de moto, comprar gasolina para um vasilhame de cinco litros.
A testemunha contou que viu Ronaldo arrastando a vítima pelo braço e Ricardo segurando pelos pés. Disse ainda que Ricardo chamou o irmão, João Marcos, para ir ao estabelecimento. A testemunha contou que ouviu os gritos de João de Assis dizendo: "Socorro, meu Deus!", e depois silenciou.
Após o crime, segundo a testemunha, Ricardo tirou a camisa suja de sangue, vestiu outra e continuou a atender normalmente como se nada tivesse acontecido. A testemunha disse ainda que a mãe e o pai deles chegaram ao local em seguida e que o Vinícius foi quem dirigiu o carro que levou o corpo.
'Era preciso limpar, não ia deixar aquela sujeira'
Em seu depoimento, o pai dos irmãos Ricardo e Ronaldo afirmou, sobre a limpeza do local do crime: "Foi limpo sim, doutor. Era preciso limpar, não ia deixar aquela sujeira. Se não me engano, quem limpou foi minha esposa e minha nora".
Selma confessou que chegou a limpar uma parte do local do crime. Disse que não sabe quem matou, mas que João Marcos, assim que ela chegou, avisou: "Mãe aconteceu um crime aqui", e ela perguntou quem tinha matado. João Marcos teria dito que achava que foi Vinicius e Ronaldo.
No depoimento anterior, Selma afirmou que Ronaldo, Ricardo e Vinicius estariam sujos de sangue. Depois, ela disse que Ronaldo estava com a barriga suja de sangue e Ricardo com o pé e que não lembrava do Vinicius. Disse ainda que a sugestão para retirarem o carro da Sefaz da porta foi dela.
A promotora pediu para colocar o depoimento da ré em juízo, na tentativa de fazê-la lembrar do que havia falado e mostrar que ela entra em contradição. Por fim, Selma manteve o que disse: os três realmente estavam sujos de sangue e ela limpou o local com vassoura e pano.
Assassino confesso
Ronaldo foi o primeiro dos réus a ser ouvido, por volta das 18h. Ele disse que esfaqueou João de Assis e colocou o corpo no carro dirigido por Vinícius. Ronaldo disse que agiu sozinho. O réu disse que a vítima caiu no primeiro golpe e que saiu muito sangue do corpo de João de Assis.
Ronaldo disse ainda que Ricardo foi quem retirou o carro da Sefaz do local do crime, mas não sabe onde ele abandonou o veículo.
Segundo o Ministério Público de Alagoas (MP-AL), a tese da defesa é fazer Ronaldo assumir tudo para tentar a liberdade dos irmãos.
O segundo réu a depor foi Ricardo. Ele confirmou o que o irmão Ronaldo disse. Ricardo já tem crime de homicídio no Rio Grande do Norte. Inicialmente, Ricardo negou ter visto a vítima, mas depois disse que viu a vítima morta, cheia de sangue.
Contradição
O terceiro réu a depor foi Vinicius, que já foi preso por furto. Ele confessou queestava na frente do estabelecimento com Jamerson e João Marcose que fecharam a porta do local por causa do crime. Disse que Ronaldo pediu pra ele pegar o carro pra colocar o corpo.
Vinícius disse que Ronaldo colocou gasolina e tocou fogo no corpo e que depois de tudo voltaram para o estabelecimento. Que Ronaldo pediu pra ele dirigir porque estava com a mão cortada.
Vinicius entrou em contradição, disse anteriormente que Ricardo arrastou a vítima, depois disse que foi Ronaldo. A promotora questionou as duas versões e ele justificou que no primeiro momento estava afetado psicologicamente. Ele também havia dito que Ronaldo pediu para levar o carro para o lava-jato, mas depois disse que não procede.
Vinícius foi questionado se, como o Ronaldo teria entregue o volante para ele porque não conseguia dirigir por causa da mão cortada, como, então, o Ronaldo conseguiu colocar sozinho o corpo no carro.