BAIRROS AFUNDANDO
Pesquisadores lançam nota conjunta sobre isolamento dos Flexais, em Maceió
Ilhamento socioeconômico causado pela Braskem deixa famílias em abandono e condições precáriasUm grupo de pesquisadores independentes lançou nesta quarta-feira, 6, uma nota técnica denunciando a crise humanitária que impacta diversas comunidades em Maceió, afetadas pela mineração da Braskem. O documento — pode ser baixado ao final do texto — expõe a situação de áreas como Flexal de Cima e Marquês de Abrantes, onde famílias sofrem com abandono e condições precárias. A nota foi motivada pelo recente suicídio de Dona Pureza, moradora dos Flexais, que responsabilizou a mineradora.
Os especialistas destacam que as soluções propostas até o momento ignoram as reais necessidades das comunidades, como o direito à realocação segura e à assistência digna. A nota técnica é assinada por Camila Prates, doutora em Sociologia pela UFRGS; Charllane Synara Assis dos Santos, mestra em Educação pela UFAL; Isaac R. Ferreira, doutorando em Ciência da Informação pela UFPE; Juliane Verissimo, mestra em Sociologia pela UFAL; Lázaro Batista, doutor em Psicologia pela UFAL; Maria Auxiliadora Ribeiro, doutora em Psicologia pela UFAL; Nayara Campos, mestranda em Psicologia pela UFAL; e Rikartiany Cardoso Teles, mestra em Direito pela UFPE.
Os especialistas apontam que as soluções apresentadas até o momento desconsideram as necessidades reais dessas populações, como o direito a uma realocação segura e assistência de qualidade. Entre os signatários do documento estão doutores e mestres em sociologia, psicologia e direito, que ressaltam a urgência de uma intervenção que garanta justiça social e dignidade às famílias atingidas.
A nota também critica o plano de revitalização da área, assinado entre a Braskem e autoridades locais, que, segundo os moradores, não oferece o suporte necessário. Ao invés disso, câmeras instaladas para monitorar as atividades comunitárias são vistas como uma medida de controle e vigilância, intensificando o sentimento de isolamento e a falta de apoio.
"O Projeto Flexais é percebido pela maioria da população local como uma violência, uma vez que negligência suas reais necessidades e direitos e entre outras coisas mantém um sistema de videomonitoramento que observa movimentos de insurgência comunitária para debelá-los", diz trecho da nota.
Os pesquisadores enfatizam o impacto psicológico nas comunidades, que enfrentam condições insalubres, com barulho, poeira e falta de infraestrutura. Os moradores, afetados por estresse, ansiedade e depressão, alegam que o apoio psicológico oferecido pela mineradora é remoto e insuficiente para atender às necessidades locais. A nota defende que o acompanhamento seja contínuo e interdisciplinar, a fim de oferecer uma resposta adequada aos danos causados.
Apesar do desejo dos moradores pela realocação, as autoridades descartaram essa possibilidade, afirmando que a remoção seria um “último recurso.” Segundo o grupo, esse modelo de revitalização apenas oferece uma “participação simbólica,” em que as decisões são tomadas previamente, sem consulta às comunidades.
O documento termina com uma reivindicação de reconhecimento das comunidades como atingidas, exigindo acesso a direitos humanos e suporte integral. Em respeito a Dona Pureza e outros moradores, os pesquisadores questionam: “Quem guardará a memória de Dona Pureza e dos demais? E quem responderá pelos impactos na saúde mental de quem vive sob constante medo e insegurança?”