HISTÓRICO DE COBRANÇAS

Acidente na Serra da Barriga: acesso ao Quilombo só foi asfaltado em 2019

Acidente com ônibus que despencou de barranco reacendeu discussões sobre o acesso ao Memorial
Por Adja Alvorável 30/11/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE

Divulgação/IPHAN
Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, interior de Alagoas
Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, interior de Alagoas

Há uma semana, um grave acidente envolvendo um ônibus na Serra da Barriga, em União dos Palmares, interior de Alagoas, deixou 20 mortos e 28 feridos. O veículo seguia com destino ao Memorial Quilombo dos Palmares quando o  apresentou uma falha mecânica, despencando de uma ribanceira de 20 metros. As causas do acidente ainda estão sendo investigadas pela Polícia Civil, mas as condições da estrada, que fica em local íngreme e de difícil acesso, e a falta de sinalização adequada podem ter contribuído para o acidente. O episódio reacendeu discussões sobre a segurança e o histórico de dificuldades de acesso ao Memorial.

Reconhecida como Patrimônio Histórico Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1986 e como Patrimônio Cultural do Mercosul em 2017, a Serra da Barriga é um marco da resistência negra no Brasil. Foi nesse território que Zumbi dos Palmares liderou o Quilombo dos Palmares, o maior e mais duradouro quilombo da história colonial. Hoje, o local atrai turistas e estudiosos interessados em conhecer esse símbolo da luta contra a escravidão. As visitas acontecem principalmente no mês de novembro, que é o mês de celebração da Consciência Negra.


Por décadas, moradores e lideranças locais reivindicaram melhores condições de acesso à Serra da Barriga. Estradas de barro e de difícil circulação afastavam visitantes e dificultavam a preservação do patrimônio. Reportagens de desde o início dos anos 2000 relatam que a população denunciava o descaso das autoridades, cobrando investimentos para alargar e pavimentar a via. De lá para cá, alguns acidentes aconteceram, como o que vitimou Ivone Buarque Tenório, de 69 anos, em 2009. Ela estava no banco de trás de uma caminhonete que caiu de uma ribanceira. O marido de Ivone, Nivaldo Buarque Tenório, 80, teve escoriações leves.

Em 2005, o então governador Ronaldo Lessa anunciou as obras do alargamento do acesso que liga União dos Palmares à Serra da Barriga. O serviço não foi para frente, entretanto, porque não daria tempo de fazer a obra durante o mandato de Lessa. “Não há recursos este ano para tal. Não disponho desse dinheiro para fazer essa estrada, mesmo sabendo que ela quando estiver pronta aumentará o fluxo de turistas em União dos Palmares”, disse Lessa à época ao jornal Gazeta de Alagoas.

Foi apenas 12 anos depois, em 2017, que o então governador Renan Filho assinou a ordem de serviço para a construção do acesso à Serra da Barriga, com o acesso feito de duas formas: parte em asfalto, da área urbana de União dos Palmares até a base da Serra da Barriga; e parte em paralelepípedo, dali até as proximidades do platô, no topo. Em 2019, o governo de Alagoas finalmente entregou a pavimentação da estrada que dá acesso ao platô da Serra da Barriga. O projeto trouxe visibilidade à história e melhorou o fluxo de visitantes. No entanto, moradores apontam que questões como sinalização precária, curvas perigosas e a ausência de dispositivos de segurança na via ainda colocam em risco quem transita pelo local.

Após o acidente mais recente, o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), anunciou a elaboração de um projeto para garantir mais segurança no acesso, incluindo sinalização e outras melhorias estruturais. Segundo o governador, a Secretaria de Estado do Transporte e Desenvolvimento Urbano (Setrand), juntamente com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a Prefeitura de União dos Palmares vão fazer uma nova avaliação da via que leva à Serra da Barriga.

Segundo o DER, uma reunião deve ser realizada nos próximos dias entre o governo de Alagoas e vários órgãos envolvidos no acesso à Serra da Barriga para discutir as medidas de segurança que podem ser adotadas para evitar novos acidentes na região.


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