Atlas da Violência

Alagoas registra 63 mortes violentas de crianças e adolescentes em 2023

Apesar de preocupante, número de casos é menor que o notificado em cinco estados do Nordeste
Por Tamara Albuquerque 23/06/2025 - 12:51
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Reprodução/instagram/arquivo
Corpo de jovem encontrado morto no Benedito Bentes é identificado
Corpo de jovem encontrado morto no Benedito Bentes é identificado

Alagoas registrou 63 assassinatos de crianças e adolescentes com idade entre 5 e 19 anos em 2023. Apesar de preocupante, o número é o sexto menor da região Nordeste, segundo dados do Atlas da Violência 2025, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Desse total, em 58 casos as vítimas tinham entre 15 e 19 anos, já em 5 casos, a idade era entre 5 a 14 anos. pelos dados, a violência envolvendo esse público é maior na Paraíba (95 e 05 casos), Piauí (118 e 09 casos), Ceará (226 e 22asos), Pernambuco (347 e 48 casos) e Bahia (945 e 48 casos).

Entre os baianos, as mortes violentas dessa amostra da população lideram o ranking nacional. Foram 945 assassinatos de adolescentes e 48 homicídios de crianças somente em 2023.

Para identificar o total de jovens assassinados, a publicação do Ipea calcula o número de homicídios na região pela soma dos óbitos causados por agressão, intervenção legal e operações de guerra.

Proporcionalmente, a Bahia é ainda o segundo ente federativo com a maior taxa de homicídios de adolescentes. Foram registradas 83,4 mortes a cada 100 mil habitantes. Entre as crianças, a taxa é de 2,3 mortes por 100 mil habitantes e o estado fica, proporcionalmente, em terceiro lugar no indignante ranking dos que mais perdem meninos e meninas para a violência no Brasil.

Tráfico potencializa violências

De acordo com o advogado Roberto Moura, pesquisador de ciências criminais e diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, os homicídios estão diretamente ligados aos mercados ilegais, especialmente de drogas. O especialista foi ouvido pela Agência Tatu.

De acordo com o especialista, a região Nordeste passa por uma expansão faccional que é fruto de décadas de políticas neoliberais que devastaram as economias locais, criaram desemprego estrutural e deixaram o Estado presente apenas através da polícia e do sistema penal, segundo o profissional.

O Atlas mostra que essas vítimas têm um perfil muito claro: homens jovens, negros, pobres, moradores de periferias. "Isso não é coincidência – é produto direto do racismo estrutural e do controle social que tem matriz colonial escravagista”, explica Moura.

Para o advogado, o estado da Bahia lidera esse ranking porque se tornou epicentro da expansão desses mercados ilegais e o estado respondeu apenas com mais repressão policial, criando um ciclo vicioso de violência.

“As políticas de segurança pública implementadas na Bahia nas últimas duas décadas demonstram que o fracasso nesta área transcende questões partidárias ou ideológicas. Observamos a manutenção de práticas autoritárias que se legitimam através do discurso de combate à criminalidade, mas que na realidade configuram um estado de guerra, terrorismo de Estado e negação sistemática de direitos fundamentais”, conclui.


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