Mineração criminosa

Engenheiro atribui rachaduras no Bom Parto à mina que pode estar colapsando

Abel Galindo nega que argila expansiva seja causa para danos nos imóveis na região
Por Tamara Albuquerque 23/07/2025 - 12:13
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MPF/AL
Inspeção judicial realizada em imóveis no bairro do Bom Parto, em Maceió
Inspeção judicial realizada em imóveis no bairro do Bom Parto, em Maceió

Causou estranheza a explicação que o coordenador da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, teria dado a técnicos e demais participantes da inspeção judicial realizada nesta terça-feira, 22, para justificar as rachaduras nas paredes e afundamento dos imóveis no Bom Parto, área de monitoramento em função dos efeitos da mineração da Braskem no local.

Segundo informações de pessoas que acompanharam o trabalho, Abelardo Nobre teria dito que os danos nos imóveis seriam fruto da presença de "argila expansiva no subsolo", expressão nunca antes utilizada nos estudos sobre os fenômenos que acometeram  bairros destruídos pela atividade mineradora da empresa.

Argilas expansivas são características de solos argilosos que sofrem grandes alterações de volume (inchaço e encolhimento) em resposta a variações no teor de água. Essas mudanças podem causar problemas em construções, como rachaduras em casas, devido à expansão e retração do solo. 

O professor e engenheiro Abel Galindo, um dos maiores especialistas em solo no Brasil, garante que não existe no subsolo do Bom Perto e de bairro "nenhum" de Maceió, a "tal argila expansiva" que o coordenador teria citado como causadora das rachaduras nas residências do bairro.

"Gente, faço investigações do solo de Maceió, de todos os bairros, para estudos de suporte carga, a quase 50 anos. Tenho, aproximadamente, 20 mil furos para investigações do tipo de solo que temos no subsolo de todas as áreas de Maceió. Posso garantir que não existe no subsolo do Bom Parto e de bairro nenhum, a tal argila expansiva que o senhor Abelardo atribuiu como causadora das rachaduras nos imóveis", esclarece  Abel Galindo.

Segundo o engenheiro, o motivo das rachaduras nas casas do Bom Perto é o mesmo dos demais bairros destruídos, como Pinheiro, Bebedouro e Mutange: a mineração da Braskem.

Abel Galindo atribui os danos nos imóveis à mina de número 34, a mais próxima ao Bom Parto. Segundo ele, provavelmente a mina está subindo em direção à superfície. "Em 2020, empresas francesa, italiana e holandesa, contratadas pela Braskem, por exigência da Agência Nacional de Mineração, afirmaram que a mina 34 é uma das que podem subir até a superfície, a exemplo da mina 18. E a medida que uma mina sobe, ela provoca deformações na superfície e consequentemente as rachaduras nos imóveis", informou o engenheiro.

A vistoria realizada terça-feira foi solicitada para fornecer subsídios técnicos ao juiz responsável por decidir sobre pedidos da Defensoria Pública da União, entre eles a concessão de realocação facultativa aos moradores do Bom Parto. Segundo a Defesa Civil de Maceió, não há risco iminente de colapso estrutural ou afundamento súbito do solo na área 01, o que afasta a necessidade de remoção.

Defesa Civil

A Defesa Civil enviou ao EXTRA uma nota onde reforça a informação de que a região do Bom Parto é "monitorada de forma contínua, tanto por meio dos equipamentos de alta tecnologia instalados na área quanto por visitas técnicas periódicas realizadas pelas equipes do órgão".

Afirma que a "localidade é classificada como área de risco desde 2007, conforme o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), por estar situada às margens da Laguna Mundaú. Essa condição geográfica a torna suscetível a inundações e contribui para o surgimento de patologias estruturais nas residências, em razão das características do solo".

Disse ainda que as "vistorias realizadas na última terça-feira, 22,  não têm como objetivo a ampliação do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias. A finalidade da ação foi fornecer subsídios ao juiz federal para embasar decisões relacionadas às demandas apresentadas pela Defensoria Pública da União".

A nota não menciona nenhum comentário sobre os danos nos imóveis como fruto da presença de "argila expansiva no subsolo".

ESCLARECIMENTO DA BRASKEM

A Braskem informa que realiza, desde 2019, estudos de sonar na cavidade 34 periodicamente. Os dados mais recentes indicam que a cavidade permanece estável, sem tendência de movimentação ascendente.
Conforme atualização do Plano de Fechamento de Mina, bem como o último Relatório Consolidado, referente ao mês de junho de 2025, apresentados à Agência Nacional de Mineração (ANM) e as demais autoridades públicas competentes, o preenchimento da cavidade 34 está previsto para iniciar no primeiro semestre de 2026.


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