HISTÓRIA
Jaraguá: como o bairro que nasceu da boêmia moldou Maceió
Bairro que já foi o coração pulsante de Maceió, hoje é visto como espaço de arte e cultura
Por muito tempo, o bairro de Jaraguá foi o coração pulsante de Maceió. Hoje visto como espaço de arte e cultura, suas origens estão ligadas a um passado marcado pela prostituição, bares, marinheiros e pela vida noturna que se consolidou no fim do século XIX. Foi entre os casarões e o porto que a capital alagoana encontrou as bases do seu crescimento.
No auge da atividade portuária, Jaraguá se transformou na principal porta de entrada da cidade. O fluxo constante de estrangeiros e trabalhadores marítimos deu vida a noites movimentadas, embaladas por música, jogos e cabarés. A rua Sá e Albuquerque, endereço do famoso Beco da Rapariga, tornou-se símbolo desse período. O nome, que resiste até hoje, faz referência às mulheres que, embora marginalizadas, tiveram papel central na dinâmica social e até na preservação de parte da arquitetura local.
“Jaraguá era mais importante porque era da elite, mas também foi o bairro que se abriu aos gringos que desciam dos navios. A prostituição foi parte desse processo, não só no Beco, mas também em áreas próximas. Era uma vida boêmia que moldou a cidade”, explica o historiador Roberto Lima.
De um lado, a vida noturna movimentou as noites, de outro Jaraguá também abrigava a elite econômica de Maceió. Bancos, casas de comércio e empreendimentos de peso deram ao bairro o status de centro urbano mais valorizado da capital. Essa realidade, no entanto, começou a se desfazer ao longo do século XX. Com a migração de empresas e instituições para outras áreas, Jaraguá entrou em decadência: sobraram casarões abandonados e prostíbulos fechados.

A história do bairro, porém, não se resume à queda. No fim do século XIX, Jaraguá também foi símbolo de modernidade. Comerciantes e governantes construíram casarões em frente ao mar, residências de dois andares que eram orgulho da capital. Mas, quando os trapiches começaram a ser erguidos para atender à exportação de açúcar, o movimento do porto atraiu bares e prostíbulos. A elite se afastou e os casarões foram transformados em boates refinadas, frequentadas por coronéis, políticos e grandes figuras nacionais.
Por mais de 60 anos, Jaraguá foi sinônimo de boemia. As casas noturnas importavam bebidas do Recife, da Bahia e até da França. Em 1969, uma determinação da Secretaria de Segurança Pública decretou o fim da zona de prostituição. Com uma canetada, boates foram fechadas e a vida noturna que moldou o bairro chegou ao fim.
O vazio deixado pela boemia abriu espaço para a especulação imobiliária. Parte dos casarões foi derrubada para dar lugar a prédios modernos. Foi nesse momento que artistas, arquitetos e intelectuais se mobilizaram em defesa do patrimônio histórico. O movimento conseguiu o tombamento dos casarões, garantindo a preservação do conjunto arquitetônico que ainda hoje diferencia Jaraguá de outros bairros da capital.
Nos últimos anos, o espaço passou a ser ressignificado. Festivais, feiras e eventos culturais ocupam os mesmos becos que um dia foram território de exclusão social. O Beco da Rapariga, em especial, tornou-se patrimônio da memória coletiva, lembrando que a história de Maceió não foi feita só pelos nomes da elite, mas também pelas mulheres anônimas que, mesmo à margem, ajudaram a conservar o bairro e legaram à cidade um dos mais importantes acervos arquitetônicos do país.
Beco da Rapariga
O nome "Beco da Rapariga Desconhecida" se deve à boemia do bairro de Jaraguá em Maceió, no fim do século XIX, quando a região abrigava bares e boates e se consolidou como uma zona de prostituição. O nome é uma homenagem às mulheres que frequentavam e trabalhavam no local, preservando a memória daquele período e do bairro.

Em setembro, a tradicional placa do Beco da Rapariga Desconhecida, no bairro do Jaraguá, chegou a ser removida do local por determinação da Prefeitura de Maceió, mas voltou ao seu lugar pouco tempo depois, após forte mobilização de moradores, artistas e frequentadores da região. O letreiro turístico havia sido retirado e substituído por uma placa de cunho comercial, o que provocou indignação e protestos nas redes sociais.