mercado de trabalho
Em dois anos, ingresso de mulheres na construção civil cresce 22%
Histórias de superação em Alagoas mostram como mulheres se destacam
O número de mulheres na construção civil no Brasil aumentou 22% entre 2022 e 2024, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O avanço, embora ainda modesto diante da predominância masculina no setor, representa uma mudança estrutural e simbólica. Em Alagoas, histórias de superação e conquista se multiplicam em canteiros de obras, departamentos técnicos e cargos de gestão.
Ser mulher, negra e engenheira civil ainda é um desafio diário, e é exatamente essa trajetória que define Marcela Tavares. Com mais de 20 anos de experiência como técnica em Edificações e oito como engenheira, ela acaba de ser efetivada pela incorporadora Moura Dubeux, em Alagoas, onde assumiu a coordenação de obras do empreendimento Jardins do Parque, no bairro de Cruz das Almas, em Maceió.
“Quando comecei, ainda no estágio, havia resistência. Limitavam-me a funções consideradas femininas, como qualidade e organização, mas eu insistia em ir para o campo. Aos poucos, conquistei espaço e fui a primeira mulher contratada como técnica na empresa em que iniciei, abrindo caminho para outras”, recorda.
Marcela ressalta que a mulher traz um olhar sensível e analítico que contribui para a eficiência e a harmonia das equipes. Para ela, ocupar cargos de liderança é também um ato inspirador: “A presença feminina na construção civil ainda é um tabu, mas com preparo e determinação, somos capazes de ocupar qualquer espaço. Todo lugar cabe à mulher, somos fortes, resilientes e mostramos isso diariamente”.
Elas conquistam espaço nos canteiros e na gestão
Nos canteiros da Moura Dubeux, essa transformação é visível. Mulheres atuam em todas as etapas, da limpeza à gestão, refletindo o crescimento feminino no setor. A Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do MTE aponta que o número de trabalhadoras na construção civil no Brasil cresceu 22% entre 2022 e 2024, chegando a 340 mil profissionais, ritmo superior ao dos homens, cujo aumento foi de 9% no mesmo período.
A técnica de segurança Betânia Pereira de Araújo é uma dessas profissionais que vêm se destacando. “É um desafio diário, porque ainda é um ambiente muito masculino, mas é um trabalho que amo. Aqui mostramos que temos conhecimento técnico e desenvoltura, além de aprendermos e trocarmos experiências. É um espaço de muito aprendizado”, ressalta.
Outro exemplo é o de Celle de Oliveira Rodrigues, que começou como auxiliar de limpeza e, há oito meses, atua como servente de obras. “Quis crescer, demonstrei interesse e me deram a oportunidade. Muita gente fica admirada quando digo que sou servente e fico feliz em mostrar que a mulher pode fazer qualquer coisa”, afirma. “Tenho certeza de que somos até mais desenroladas que os homens”, brinca.
A arquiteta Clara Bandeira, gerente de incorporação há mais de dois anos na Moura Dubeux, também compartilha sua visão sobre liderar equipes. “Trabalhar com outras mulheres torna o ambiente mais leve e colaborativo. Competência não tem gênero, e ver mulheres em posições de liderança nos dá segurança e inspiração”, afirma. “Estamos presentes em todos os níveis, do canteiro à gestão, provando que podemos e devemos ocupar qualquer cargo”, acrescenta.
Política de inclusão e liderança consolidada
Os avanços refletem a política de inclusão da incorporadora, estruturada em três eixos: formação e acesso, desenvolvimento e representatividade, e cultura e conscientização contínua. Por meio do programa MD Social, a empresa oferece cursos de qualificação com turmas mistas e exclusivas para mulheres. “Muitas dessas mulheres são as únicas responsáveis por suas famílias e, após o curso, acabam contratadas pela própria empresa”, destaca Maria Lúcia, diretora de Gente, Gestão e Cultura.
Ela reforça que 42% das posições de liderança da Moura Dubeux hoje são ocupadas por mulheres, da engenharia à diretoria. “A construção civil precisa ser mais diversa e inclusiva. Trabalhamos para garantir que as mulheres tenham espaço e apoio para crescer em um setor historicamente masculino. Nosso propósito é formar, empregar e transformar realidades”, enfatiza.
A gestora também cita o Projeto Lugar Delas, que promove encontros mensais sobre igualdade de gênero e empoderamento. “Essas ações criam um ambiente seguro para o desenvolvimento profissional, reduzem vieses e fortalecem o protagonismo feminino em toda a empresa”, complementa Lúcia.
O programa de inclusão já recebeu vários reconhecimentos nacionais do setor de recursos humanos e do mercado imobiliário, como Prêmio Ser Humano 2025 da Associação Brasileira de Recursos Humanos Seccional Pernambuco (ABRH/PE), Prêmio Ser Humano 2024 da ABRH/CE e GRI Awards 2023 na categoria de impacto social.



