CRISE NO FACEBOOK

Acadêmico de Cambridge diz estar sendo usado como bode expiatório

Por BBC 21/03/2018 - 13:49

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Foto: Divulgação
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O pesquisador da Universidade de Cambridge Aleksandr Kogan, que criou o aplicativo que permitiu coletar os dados de 50 milhões de usuários do Facebook usados pela empresa Cambridge Analytica, afirmou à BBC que está servindo de "bode expiatório" para as duas empresas.

O psicólogo diz que completou em 2014 seu trabalho para a Cambridge Analytica (que, embora tenha esse nome, não tem relação alguma com a universidade), e que não tinha ideia de que os dados seriam usados ​​para beneficiar a campanha de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos.

Kogan sustentou que queria os dados para poder traçar um perfil comportamental humano por meio das redes sociais.

O acadêmico, que nasceu na Rússia e cresceu nos Estados Unidos, onde se formou na Universidade da Califórnia em Berkeley, desenvolveu um aplicativo de pesquisa de personalidade chamado This is Your Digital Life ("Essa é sua vida digital", em inglês).

Dados de cerca de 270 mil usuários foram coletados, mas o aplicativo também registrava informações públicas dos amigos desses usuários, o que permitiu a multiplicação desse volume.

Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica que revelou o caso aos jornais The Guardian e The New York Times, disse que, como resultado, os dados de cerca de 50 milhões de usuários foram colhidos para a empresa.

Tanto o Facebook quanto a Cambridge Analytica negam que tenham feito qualquer coisa errada.

A rede social afirma que o Kogan violou as políticas do site. Segundo um porta-voz, o acadêmico não podia transferir dados para Cambridge Analytica para ser usado para fins comerciais.

Em sua defesa, Kogan disse à Radio 4, da BBC, estar "chocado" com as acusações feitas contra ele, já que havia sido informado de que o aplicativo era inteiramente legal.

"A minha visão é que eu estou sendo basicamente usado como bode expiatório pelo Facebook e pela Cambridge Analytica quando... nós pensamos que estávamos fazendo algo que era normal", afirmou. "A Cambridge Analytica nos assegurou de que tudo era perfeitamente legal e dentro dos termos de serviço".

O pesquisador disse que estava seguindo as orientações dadas pela empresa e acrescentou que não tinha "motivos para duvidar" de que estaria quebrando qualquer política do Facebook. "Um dos meus maiores erros aqui foi simplesmente não ter feito perguntas suficientes."

Ele também argumentou que a precisão dos dados coletados foi "exagerada" pela Cambridge Analytica e que seria mais provável que essas informações prejudicassem a campanha de Trump, em vez de ajudá-la.

Alexander Nix chega à sede da Cambridge Analytica
O ex-diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix (ao centro), foi gravado secretamente dizendo que a empresa vendeu dados para a campanha de Trump

Como funcionava a coleta de dados

Em 2014, um app no Facebook convidou os usuários da rede a fazer um teste e descobrir seu tipo de personalidade.

O aplicativo se aproveitou de uma "brecha" nas normas do Facebook à época, que permitia também a coleta de dados de amigos do usuário - mas que deveriam usados apenas para melhorar a experiência do próprio usuário no aplicativo.

O ex-funcionário Christopher Wylie afirma que os dados de cerca de 50 milhões de usuários, principalmente nos EUA, foram colhidos sem consentimento explícito por meio das redes de seus amigos.

Ele afirma que esses dados foram vendidos para a Cambridge Analytica, que usou esse material para traçar o perfil dessas pessoas. A empresa em seguida vendeu esse material para ser usado na campanha de Trump.

A Cambridge Analytica é uma empresa de análise de dados que trabalhou com o time responsável para campanha vencedora de Trump nas eleições americanas de 2016. A firma é propriedade do bilionário do mercado financeiro Robert Mercer e era presidida, à época, por Steve Bannon, que depois de transformou em um dos principais assessores de Trump antes de deixar seu governo

Na noite da segunda, a rede de TV britânica Channel 4 veiculou uma reportagem em que o diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, foi filmado secretamente falando do uso de suborno, ex-espiões e prostitutas para encurralar políticos.

Nix disse ainda que a Cambridge Analytica operou a campanha digital de Donald Trump durante as eleições dos EUA de 2016. E disse que o trabalho da empresa, incluindo pesquisas, análises e campanhas específicas, permitiu que o candidato republicano ganhasse com uma estreita margem de "40 mil" em três Estados. Esses dados, segundo ele, definiram toda a estratégia da candidatura do magnata.

Nesta terça-feira, a Cambridge Analytica afirmou que Nix foi suspenso de sua diretoria e que seus comentários, registrados pela reportagem do Channel 4, "não representam os valores ou a operação da empresa".

A empresa também afirma ter apagado todos os dados coletados quando o Facebook a pediu para que o fizesse.

Mark Zuckerberg
CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, foi chamado a prestar esclarecimentos no Congresso americano

Quais investigações estão em andamento?

Nesta terça-feira, uma comissão parlamentar do Reino Unido pediu ao CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, que ceda provas sobre o uso de dados pessoais de usuários da plataforma pela Cambridge Analytica. Ele foi convocado para depor diante de um comitê legislativo e tem até o dia 26 de março para responder.

O deputado britânico Damian Collins acusou a rede social de "enganar" o comitê anteriormente e disse que agora era "o momento de ouvir um executivo-sênior do Facebook com autoridade suficiente para dar a exata dimensão dessa catastrófica falha nesses processos".

O chefe do Parlamento Europeu também disse que investigaria se os dados foram mal utilizados.

Enquanto isso, os senadores dos EUA pediram a Zuckerberg que testemunhe no Congresso sobre como o Facebook protege seus usuários. A empresa enviaria representantes a Washington nesta quarta-feira para responder às perguntas dos congressistas americanos.

O órgão de controle do consumidor da Comissão Federal de Comércio dos EUA - que tem o poder de aplicar grandes multas - também abriu uma investigação contra o Facebook.

Nesta terça-feira, um porta-voz da Universidade de Cambridge disse que seus representantes "procuraram e receberam garantias" do pesquisador Kogan de que nenhum dado, recursos ou instalações da instituição foram usados ​​para o seu trabalho e não encontraram nenhuma evidência para contradizer isso, mas que mesmo assim estavam pedindo informações ao Facebook.

A comissária da Informação do Reino Unido, Elizabeth Denham, disse que pediria permissão judicial para buscas na sede da Cambridge Analytica.

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