BOLSA DE VALORES

Ibovespa tem leve alta de 0,07%, com foco no arcabouço

Dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,2457, em alta 0,05%
Por Estadão Conteúdo 22/03/2023 - 04:20
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Dólar e Real, relação de altos e baixos
Dólar e Real, relação de altos e baixos

Das últimas dez sessões foi apenas o terceiro ganho, mas o Ibovespa, diferentemente de ontem, conseguiu se conectar em parte do dia, ainda que à distância, ao sinal positivo do exterior nesta véspera de decisão sobre juros no Brasil como nos Estados Unidos. No fechamento, a referência da B3 mostrava ainda leve alta de 0,07%, aos 100.998,13 pontos, ante avanço entre 0,98% (Dow Jones) e 1,58% (Nasdaq) para os três índices de Nova York - na Europa, os ganhos ficaram acima de 1% nas principais praças, com destaque para Londres (+1,79%) e Frankfurt (+1,75%), em meio à moderação do receio em torno da possibilidade de uma crise bancária global.

Aqui, o pouco fôlego mostrado nesta terça-feira se relaciona à certeza, agora, de que o novo arcabouço fiscal levará mais tempo para ser anunciado oficialmente do que se antevia. Hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a proposta será apresentada "por ocasião da remessa" do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 para o Congresso Nacional Depois, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, acrescentou, em entrevista à GloboNews, que a ideia do governo é de que o arcabouço seja apresentado até meados de abril, com a LDO.

Assim, sem catalisadores para induzir uma recuperação mais forte do Ibovespa, e com giro na B3 limitado a R$ 17,9 bilhões na sessão - ainda mais fraco do que ontem -, as ações de Petrobras (ON +2,21%, PN +2,05%), que ainda acumulam perdas agudas no mês - respectivamente, de 8,49% e 7,29% -, foram favorecidas hoje pelo sinal positivo do petróleo, em alta na casa de 2% para o Brent e o WTI. Os grandes bancos, outro carro-chefe do Ibovespa, também tiveram recuperação parcial nesta terça-feira, com Itaú (PN +2,05%) à frente na sessão, em que Bradesco ON (-0,34%) foi a exceção entre as maiores instituições. Vale ON cedeu hoje 0,84%.

"A reação coordenada de grandes BCs, com provisão de liquidez por meio da abertura de linhas de swap, foi fundamental para que os temores sobre crise bancária refluíssem, embora esteja claro que a questão permanecerá no foco de atenção do mercado, especialmente se outros bancos vierem a aparecer em dificuldade", diz Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

"O ambiente melhorou a partir do exterior, e mesmo a reiteração de críticas do presidente Lula ao nível da Selic, hoje, na véspera do Copom, não trouxe grande ruído", acrescenta. Se por um lado Haddad, ao comentar o futuro arcabouço fiscal, disse que o Brasil tem sido, há muito tempo, um "prisioneiro do curto prazo", por outro, Lula voltou a criticar instituições financeiras ao afirmar que os bancos brasileiros querem viver de "especulação" e das "taxas de juros do governo". "Não é correto, não é possível", afirmou o presidente, durante entrevista à TV 247.

Sem o arcabouço fiscal, e com o governo ainda na ofensiva contra o nível da Selic, o mais provável é que, amanhã, o comunicado do BC não traga muita novidade, o que reforça a expectativa para a ata do Copom, na semana que vem. Amanhã, atenção também para a deliberação do comitê de política monetária do Federal Reserve sobre a taxa de juros de referência dos Estados Unidos, com expectativa majoritária para alta de 25 pontos-base. "O mais provável é que o Fed trará um aumento de 25 pontos-base, levando em conta que é preciso ancorar ainda as expectativas de longo prazo", diz Paulo, da Manchester.

"Tanto o dólar como a Bolsa operaram perto da estabilidade, com pouca volatilidade. Desde os últimos acontecimentos relacionados a bancos, cresceu a expectativa sobre a orientação das políticas monetárias, sobre para onde os BCs estão indo, com a percepção dos agentes econômicos de que o nível de juros já afetou a economia e o sistema financeiro, com a escassez de crédito, que traz desaceleração da atividade e resulta em precificação de corte de juros mais à frente", diz Matheus Willrich, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Assim, com poucos fatores de estímulo ao apetite por risco, no recorte das últimas 10 sessões, iniciado em 8 de março de forma positiva, com ganho de 2,22% a 106,5 mil pontos, o Ibovespa acumula retração em torno de 5,5 mil pontos, oscilando na faixa em torno de 101 a 103 mil desde o dia 10, nos fechamentos - ontem, testou o nível de 100 mil, ao encerrar a 100.922,89 pontos, e hoje se manteve aos 100.998.

Na ponta do Ibovespa nesta terça-feira, destaque para Alpargatas (+3,44%), Yduqs (+3,38%), Fleury (+3,36%) e Petz (+3,31%), com Locaweb (-5,97%), Carrefour Brasil (-4,20%), CSN Mineração (-4,05%) e Raízen (-3,64%) no lado oposto.

Eletrobras encerrou o dia em baixa (ON -3,48%, PNB -3,37%, mínima do dia no fechamento), após o presidente Lula ter voltado a se queixar da privatização da empresa, processo ao qual o mandatário se referiu como um "crime". O presidente criticou também a norma que determinou que a União tem limitação do poder de voto, de no máximo 10% em assembleias de acionistas, embora possua mais de 40% dos papéis com direito a voto. E disse que espera que, um dia, o Brasil volte a ser dono de sua "maior" empresa de energia.

Dólar


O mercado de câmbio doméstico trabalhou em marcha lenta nesta terça-feira, 21, véspera das decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos - eventos que ganharam ainda relevância diante dos temores recessivos provocados pelos problemas de liquidez dos bancos médios americanos. Com volume reduzido e trocas de sinais ao longo da sessão, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,2457, em alta 0,05%. No exterior, a moeda americana apresentou comportamento misto tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.

Pela manhã, o dólar chegou a superar pontualmente o teto de R$ 5,25 e registrou máxima a R$ 5,2544 (+0,22%), em meio a críticas do presidente Lula ao nível da taxa de juros e à informação de que a divulgação da proposta do novo arcabouço fiscal, prevista para esta semana, ficará para depois da visita presidencial à China, de 26 a 31 de março. Na mínima, nos primeiros negócios do pregão, o dólar desceu até R$ 5,2179 (-0,48%).

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia dado sinais de que as regras fiscais poderiam vir a público antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), no início da noite desta quarta-feira, 22. De posse das novas diretrizes para gestão das contas públicas e diante de deterioração do mercado de crédito, aqui e lá fora, especulava-se que o colegiado do BC poderia acenar no comunicado com redução da taxa Selic ainda no primeiro semestre.

Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast afirmaram que o presidente Lula adiou a divulgação do arcabouço porque pretende encontrar um mecanismo para ampliar os gastos com saúde e educação. O presidente ontem disse que recursos destinados a essas áreas não podem ser classificados como "gastos". Mais cedo, Haddad afirmou que as novas regras fiscais serão apresentadas "por ocasião da remessa" do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 ao Congresso, cujo prazo legal é 15 de abril. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse à tarde, em entrevista à GloboNews, reiterou que a nova será apresentada em meados de abril.

O analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, observa que investidores mostraram apetite muito reduzido por negócios, com receio de exposição mais elevada na véspera de reunião do Federal Reserve e do Copom. "Havia expectativa em relação ao novo arcabouço fiscal, mas a divulgação acabou sendo adiada para o mês que vem. Apesar de o governo pressionar novamente o BC por causa dos juros, a perspectiva é de manutenção da Selic", afirma Gusmão, ressaltando que a taxa de câmbio trabalha em uma faixa mais estreita, entre R$ 5,20 e R$ 5,25.

O Bank of America (BofA) diminuiu a sua projeção para a taxa Selic no fim de 2023 de 11,75% para 11,0%, antecipando a expectativa de início do ciclo de cortes dos juros - hoje em 13,75% - de agosto para maio. A revisão de cenário leva em conta o aperto das condições de crédito do Brasil, embora sua concretização ainda vá depender dos termos do novo arcabouço fiscal, segundo o banco.

No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes - operou entre ligeira queda e estabilidade, com perdas da moeda americana frente ao euro e alta na comparação com o iene. Entre divisas emergentes e de exportadores de commodities, com destaque para os ganhos de dois principais pares do real, o peso mexicano e o chileno.

Monitoramento do CME Group mostra quem são amplamente majoritárias as apostas de que o Federal Reserve vai anuncie amanhã à tarde uma elevação da taxa básica americana em 25 pontos-base. Na semana passada, sob impacto dos temores recessivos despertados pelos problemas no setor bancário, a possibilidade de pausa do processo de alto de juros chegou a rivalizar com a chance de novo aumento.

Juros


Os juros futuros terminaram a terça-feira de lado, com viés de alta em alguns contratos, numa sessão novamente limitada pelas expectativas em torno das decisões de política monetária do Copom e Federal Reserve amanhã, uma vez adiada para abril a apresentação do novo arcabouço fiscal. A curva ensaiou uma melhora no período da tarde, quando chegou a oscilar em leve baixa, mas o alívio foi limitado, com as taxas voltando para os ajustes anteriores. Nem mesmo a forte correção no segmento de Treasuries conseguiu dar uma direção firme. A falta de apetite para os negócios transpareceu também no leilão de NTN-B do Tesouro, com lotes menores tanto em termos de volume quanto de risco para o mercado.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,02%, de 12,98% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 12,08% pra 12,12%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,43%, de 12,44% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029, em 12,91%, de 12,89%.

Embora um pouco acima do registrado ontem, o volume de contratos negociados continuou abaixo do padrão dos últimos 30 dias, uma vez que o investidor prefere aguardar pela sinalização dos bancos centrais amanhã. "O mercado esteve de lado, esperando pelo Fed e pelo Copom", resumiu Marcos Iório, gestor da Integral Investimentos, que acredita tanto na manutenção da Selic em 13,75% quanto no tom do comunicado da última reunião, com as variáveis de risco ainda apontando em ambas as direções.

Se de um lado, desde o Copom de janeiro, a perspectiva de apertos monetários agressivos pelos BCs refluiu - até pelo abalo gerado pelos problemas nos bancos -, por outro as expectativas de inflação pioraram, se afastando ainda mais das metas. "Apesar das pressões do governo por corte da Selic, o comunicado deve ser mantido", disse Iório. E a postergação do anúncio do arcabouço só reforça a ideia de que não deverá haver grandes mudanças. "Quando sair e for crível, aí pode abrir espaço para alteração", previu.

Desde ontem, o mercado já tentava se ajustar à possibilidade de a nova regra não sair antes do Copom, mas a movimentação do governo indicava que sairia nos próximos dias. De acordo com Lula, o marco fiscal será divulgado apenas após a viagem à China, que começa neste fim de semana e da qual o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará parte, e não teria disponibilidade para discutir e explicar o teor da proposta.

Segundo fontes ouvidas pelo Estadão, o presidente adiou a divulgação para a definição sobre o incremento dos gastos com saúde e educação.

As taxas chegaram a ensaiar uma melhora no meio da tarde, tocando mínimas e com queda moderada na ponta longa, atribuída à informação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de que Lula aprovou os nomes apresentados por Haddad como indicação às diretorias de Fiscalização e Política Monetária do Banco Central No último dia 10, Haddad havia dito que sugeriu a Lula nomes de perfil acadêmico, técnico e de mercado.

Na gestão da dívida pública, o Tesouro vendeu 940.850 NTN-B, da oferta de 1,05 milhão. Enquanto os lotes mais curtos, de 750 mil e 150 mil para 2026 e 2033, foram absorvidos, não houve demanda integral pelos 150 mil títulos para 2050. Na semana passada, a instituição havia vendido 1,481 milhão de títulos.

*com Giordanna Neves e Sofia Aguiar

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