EVENTO INTERNACIONAL

Chefe da COP30 garante evento em Belém após queixas: 'Não há plano B'

Brasil e ONU buscam ampliar subsídios para viabilizar delegações mais pobres
Por Redação 01/08/2025 - 18:50
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Fernando Frazão/Agência Brasil
André Corrêa do Lago reafirma Belém como sede da COP30 apesar da pressão
André Corrêa do Lago reafirma Belém como sede da COP30 apesar da pressão

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou nesta sexta-feira, 1º, que o Brasil mantém Belém como sede da conferência e não trabalha com “plano B”, apesar das pressões por causa dos altos preços de hospedagem. Segundo ele, o país atua para garantir a presença de todos os países, inclusive os mais pobres.

“Mais de dois terços dos países da ONU são consideravelmente mais pobres que o Brasil. Eles esperam vir para um país em desenvolvimento e encontrar uma maneira de poder estar presentes com os preços que podem pagar”, afirmou.

A declaração foi feita durante conversa virtual com jornalistas, no marco dos 100 dias para a COP, cuja contagem começa neste sábado, 2.

Corrêa do Lago reconheceu a insatisfação de delegações de países menos desenvolvidos, pequenas ilhas e do grupo africano, que relataram dificuldades para participar do evento devido aos custos. “Esses países se manifestaram de maneira muito clara na reunião. Disseram que, com a diária de 143 dólares que recebem, precisam de quartos entre 50 e 70 dólares para poder participar”, explicou. “Se você olhar hoje os preços em Belém, há centenas de quartos nessa faixa. Mas nas datas da COP, os valores disparam.”

Ele destacou que o problema não está na quantidade de hospedagem, mas nos preços. “Os hotéis estão botando preços tão altos que se tornaram referência. Esses valores estão sendo transferidos para os preços dos apartamentos também. A questão não é a quantidade de hospedagem, é o preço nitidamente acima do que esses países podem pagar.”

O governo brasileiro e a ONU estudam ampliar os subsídios às delegações mais vulneráveis, mas a legislação nacional não permite impor limites de preços a hotéis ou a plataformas como Airbnb e Booking. Ainda assim, a Secretaria Extraordinária da COP30 informou que 2.500 quartos com tarifas entre US$ 100 e US$ 600 já estão disponíveis. Para os 73 países menos desenvolvidos, foram reservados 15 quartos por delegação com tarifas mais baixas, entre US$ 100 e US$ 200.

“Queremos uma COP inclusiva, com todos os países membros (...). A ausência dos países mais pobres comprometeria a legitimidade da conferência”, afirmou Corrêa do Lago.

Segundo ele, a conferência precisa garantir espaço também para a sociedade civil, ONGs, setor privado e cientistas. “A Rio-92 mostrou a força da participação popular. A COP30 tem que manter esse espírito.”

A CEO da COP30, Ana Toni, reforçou: “O governo acredita no Plano A.”

Pressão para mudar sede

Na quinta-feira, 31, o embaixador comentou a pressão internacional para transferir a COP de Belém. “Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou.

Ele disse que em alguns casos os valores das diárias foram multiplicados por 15, o que provocou mal-estar diplomático e pedidos formais de realocação do evento. “Ficou público que países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém.”

O diplomata afirmou que o governo coordena um grupo de trabalho com a Casa Civil para tentar conter os preços, mas lembrou que a única alternativa legal é o diálogo. “O que nos resta é o diálogo.”

ONU cobra soluções

A situação levou a ONU a convocar reunião de emergência na terça-feira, 29. Segundo Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores, o Brasil se comprometeu a apresentar soluções até domingo, 11. “Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados”, disse à Reuters.

Muyungi ressaltou que o grupo não pretende reduzir sua participação e cobra ações concretas do Brasil. “O Brasil tem muitas opções em termos de ter uma COP melhor, uma boa COP.”

Navios-hotel e oferta limitada

Para ampliar a capacidade, o governo brasileiro anunciou a contratação de dois navios de cruzeiro, com 6 mil leitos, e liberou reservas para países em desenvolvimento com diárias de até US$ 220. No entanto, o valor ainda ultrapassa o auxílio-moradia da ONU, fixado em US$ 149 para Belém.

Diplomatas relataram ter recebido orçamentos de cerca de US$ 700 por pessoa por noite. Representantes de seis países, incluindo nações europeias, disseram não ter conseguido acomodações e avaliam reduzir suas delegações. A Holanda pode cortar pela metade o número de enviados, e a Polônia cogita até não participar.

A COP30 será a primeira conferência climática da ONU realizada na Amazônia. A expectativa é reunir cerca de 50 mil pessoas, incluindo chefes de Estado, ministros, diplomatas, ONGs, empresas, cientistas, comunidades indígenas e movimentos sociais.


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