Saúde

Homem desenvolve metástase após receber fígado com câncer em SP

Caso raro levou paciente a quimioterapia; família busca respostas
Por Larissa Cristovão - Estagiária sob supervisão 16/10/2025 - 20:50
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Reprodução
Geraldo Vaz Junior recebeu transplante de fígado com câncer
Geraldo Vaz Junior recebeu transplante de fígado com câncer

O paulista Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, enfrenta um caso extremamente raro: ele recebeu, em março de 2023, um fígado transplantado que já continha câncer. Meses depois, exames identificaram adenocarcinoma no órgão transplantado, e recentemente a doença evoluiu para metástase no pulmão.

A esposa de Junior, Márcia Helena Vaz, afirma que o casal luta por transparência e investigação sobre o que ocorreu. “Não cabe, nesse caso, um silêncio institucional. Isso dá margem para que o erro continue acontecendo”, disse.

O diagnóstico de que o tumor veio do fígado transplantado foi confirmado por exames de DNA analisados pela especialista em medicina legal Caroline Daitx.

“Cada pessoa tem uma ‘impressão digital genética’ única. Esse exame comparou o DNA do câncer com o DNA do Geraldo e com o da doadora. O resultado foi conclusivo: as células do tumor têm o DNA do doador, não do paciente”, explicou Caroline.

O laudo hospitalar evidencia ainda que as células cancerosas possuem cromossomos sexuais femininos (XX), enquanto Geraldo é homem cis (XY). “É como se as células do tumor ‘assinassem’ que vieram de uma mulher, não dele”, comentou a médica.

Retransplante e metástase

Em maio de 2024, Junior passou por retransplante de fígado devido ao adenocarcinoma proveniente do órgão doado. Em agosto, exames detectaram metástase no pulmão, com adenocarcinoma invasivo das mesmas características das células do fígado transplantado.

Caroline Daitx ressalta que casos de transmissão de câncer por doação de órgãos são extremamente raros, com incidência inferior a 0,03%. Segundo ela, o risco deve ser balanceado com a chance de morte na fila de espera.

O oncologista Paulo Hoff (FMUSP) reforça que, apesar da raridade, fatalidades podem ocorrer. Mesmo com triagem rigorosa, incluindo histórico médico, exames macroscópicos e laboratoriais, micrometástases podem não ser detectadas.

Ação do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde informou que não foram identificados problemas de saúde no doador antes da doação e que todas as normas internacionais foram cumpridas. A pasta acompanha a saúde de Junior junto à Central Estadual de Transplantes e ao hospital responsável.

A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP) destacou que os protocolos de doação e transplante seguem critérios rigorosos, com inspeção detalhada de órgãos, exames laboratoriais e avaliação clínica antes da captação.

Prognóstico e impacto na vida do paciente

Conforme a família, Junior está em metástase sem previsão de cura e fará quimioterapia contínua, considerada pelo casal como uma “sentença”. O paciente, que era técnico de eletrodomésticos, não pode mais trabalhar.

“Primeiro, precisamos saber onde ocorreu o erro. Hoje é o Geraldo, amanhã pode ser outro paciente”, afirmou Márcia Helena Vaz, que continua a campanha por esclarecimentos e mudanças nos processos de doação e transplante.

O caso de Geraldo Junior evidencia a complexidade e os riscos inerentes ao transplante de órgãos, reforçando a importância de triagem rigorosa, consentimento informado e acompanhamento médico contínuo para todos os receptores.


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