Justiça

Bolsonaro violou ou tentou violar medidas cautelares cinco vezes

Ex-presidente acumulou suspeitas, episódios flagrantes e violações até chegar à prisão preventiva
Por Redação com ICL Noticias 24/11/2025 - 14:34
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Reprodução
Bolsonaro diz que queimou tornozeleira “por curiosidade”
Bolsonaro diz que queimou tornozeleira “por curiosidade”

A escalada que terminou com Jair Bolsonaro atrás das grades no fim de 2025 não começou na madrugada em que agentes da Polícia Federal bateram à sua porta para cumprir a prisão preventiva. O caminho até ali foi longo, marcado por suspeitas, manobras e violações explícitas das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal ao longo de dois anos. Cada episódio, isoladamente, já chamava atenção; juntos, formaram um retrato de afronta contínua às ordens judiciais.

Os primeiros sinais de desobediência surgiram ainda em 2024, mas ganharam força ao longo de 2025, quando Bolsonaro passou a tratar as restrições como parte de sua guerra política. As próprias declarações do ex-presidente ajudavam a expor a estratégia: minimizar as acusações, se vitimizar e testar, passo a passo, os limites das cautelares que o mantinham fora da prisão.

Em fevereiro de 2024, após ter o passaporte apreendido e ficar proibido de deixar o país, Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria. A visita, revelada depois pela imprensa internacional, gerou suspeitas de tentativa de obter proteção diplomática. Pressionado, ele negou qualquer plano de fuga e declarou: “Não vou fugir, não vou sair do Brasil.”

A partir daí, os confrontos com as cautelares ficaram mais evidentes. Em várias ocasiões, Bolsonaro adotou um discurso de desafio às ordens do Supremo. Segundo o ICL Notícias, em uma delas, ao exibir a tornozeleira, disse que aquilo era “um símbolo da máxima humilhação”. O gesto, porém, tinha menos de simbólico e mais de calculado: colocava a medida judicial como peça de sua narrativa política.

No meio desse percurso, os episódios se acumularam:


- Estada na embaixada da Hungria (fevereiro de 2024): dois dias na representação diplomática logo após perder o passaporte, levantando suspeitas de busca por asilo. Depois, Bolsonaro classificou as especulações como “perseguição política”.

- Discurso na Câmara divulgado nas redes por aliados (21 de julho de 2025): proibido de usar redes sociais direta ou indiretamente, Bolsonaro discursou no Congresso, exibiu a tornozeleira e teve o vídeo publicado por Eduardo Bolsonaro. Na fala, afirmou: “Sou inocente. Isso aqui é humilhação.”

- Ato de 3 de agosto de 2025: Bolsonaro participou por telefone de uma manifestação, e o áudio foi divulgado por seus filhos e aliados. No recado enviado ao público, disse que continuaria “lutando pelo Brasil”, apesar das restrições impostas. O episódio levou Moraes a decretar a prisão domiciliar.

- Contato com investigados no inquérito do golpe: relatório da PF apontou comunicação entre Bolsonaro e o general Braga Netto, além do rascunho de um pedido de asilo. O conjunto reforçou o risco de fuga e indicou violação da proibição de contato com outros investigados.

- Visitas políticas durante a domiciliar: mesmo proibido de receber visitas, Bolsonaro recebeu deputados e aliados em casa. Após a repercussão, a defesa pediu ao STF autorização formal para uma lista de visitantes.

- Tentativa de romper a tornozeleira eletrônica (21 de novembro de 2025): ponto de ruptura. Bolsonaro danificou o equipamento com um ferro de solda e, ao ser questionado, respondeu: “Eu meti ferro quente aí. Curiosidade.”

Cada um desses episódios ampliou a tensão entre o ex-presidente e o Judiciário. A resposta institucional endureceu a cada reincidência, até que, em novembro de 2025, a violação da tornozeleira eletrônica tornou insustentável qualquer medida alternativa.

A madrugada de 21 para 22 de novembro selou o desfecho: diante da violação do monitoramento eletrônico e da mobilização de apoiadores na porta da casa do ex-presidente, o ministro Alexandre de Moraes revogou a prisão domiciliar e determinou a prisão preventiva. Bolsonaro foi detido ao amanhecer, levado à Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

O conjunto das violações — das suspeitas iniciais às transgressões flagrantes — evidenciou, para o STF, que não havia mais condições de manter medidas alternativas. A prisão foi entendida como necessária para garantir a execução da lei e evitar novos episódios de desobediência.


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