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Zé Celso, o maior nome da dramaturgia nacional, falece aos 86 anos

Celso escolheu a anarquia oswaldiana como forma de desafiar a repressão da ditadura militar
Por Com agências 06/07/2023 - 10:09
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Divulgação
Zé Celso
Zé Celso

José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, foi o maior nome da dramaturgia nacional e o criador da linguagem tropicalista no teatro. Ele faleceu nesta quinta-feira (6) aos 86 anos, em São Paulo. Zé Celso encenou a folia, a orgia e a anarquia no Teatro Oficina, tornando-se uma figura emblemática do teatro brasileiro.

Nos anos 1960, Zé Celso escolheu a anarquia oswaldiana como forma de desafiar a repressão da ditadura militar. Ele foi um dos membros fundadores do Teatro Oficina, ao lado de Renato Borghi, Fauzi Arap, Etty Fraser, Amir Haddad e Ronaldo Daniel. O grupo se tornou um símbolo do teatro brasileiro.

Uma das montagens mais marcantes da companhia foi "O Rei da Vela", baseado no livro de mesmo nome escrito por Oswald de Andrade em 1933. Essa peça satirizou a política e o comportamento subserviente do Brasil em relação ao mundo desenvolvido. Sob a direção de Zé Celso, os atores Othon Bastos, Etty Fraser e Dina Staf ironizaram os filmes da Atlântida, as comédias de costume e o tom empolado das óperas. A história girava em torno de Abelardo, um agiota que enriquece às custas dos outros e acaba sendo trapaceado por alguém ainda mais desonesto.

Zé Celso foi responsável por estabelecer os fundamentos do Teatro Oficina e revolucionar a linguagem dramatúrgica. Como um pensador do teatro, ele resgatou o conceito da antropofagia modernista, que consistia em absorver e reinterpretar a cultura estrangeira, oferecendo ao público um verdadeiro banquete tropicalista. Ele rompeu com o estilo europeizado do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e trouxe sentido para a arte teatral brasileira na segunda metade do século XX.

Substituindo o bom gosto pela verdade, Zé Celso foi um profundo conhecedor do método de Constantin Stanislavski, o russo que trouxe mudanças significativas para a atuação brasileira. As peças deixaram de ser uma sequência de falas justapostas e passaram a ser um diálogo contínuo entre o elenco e a plateia.

Essa transformação trouxe um novo significado para o espaço cênico, semelhante a uma ágora, onde Zé Celso voltava-se para a essência do teatro, envolvendo-se em um jogo entre performance e catarse. A representação cedeu lugar à convivência em cena de múltiplas linguagens, tornando-se o aspecto mais interessante para o público.

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