Abandono e degradação no Memorial Quilombo dos Palmares

Por 07/09/2011 - 00:00
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O Parque Memorial Zumbi dos Palmares erguido em 2007 na Serra da Barriga, local que abrigou o Quilombo dos Palmares, está abandonado. Apesar de ter custado mais de R$ 1,5 milhão aos cofres públicos e a promessa de melhoria, a estrada de acesso de barro, no parque a cobertura de palha das construções está se desfazendo, as cabaças, usadas como luminárias, estão quebradas e no mirante, as tábuas começam a se soltar e a ferrugem corrói as li-xeiras. Quem chega ao topo da Serra da Barriga sai decepcionado, pois encontra um lugar desolador e sem nenhum atrativo.

Na época da construção, o governo do Estado gastou apenas com o acesso a Serra o valor de R$ 341.000 para pavimentação que não foi concluída e o local conti-nua com difícil acesso. A promessa era transformar o espaço em uma rota do tu-rismo étnico, o que não ocorreu. Durante a inauguração do parque, o então Ministro da Cultura, Gilberto Gil destacou a liberação de R$ 1,2 milhão para a promoção de projetos culturais e ações que valorizem e conservem o Parque Memorial.

O descaso com o patrimônio vem de longas datas. Em junho de 2008 Patrícia Mourão foi afastada pela direção da Fundação Palmares, ligada ao Mi-nistério da Cultura. A ex-secretária estadual de Tu-rismo no governo Lessa gerenciou a construção do parque por meio de uma entidade da qual também é a fundadora - a Magna Matter. Mourão perdeu o controle sobre o restaurante, ocas e outras construções erguidas no platô da Serra. Na verdade, esses equipamentos seis meses após inauguração já estavam sem funcionar. Com a saída de Mourão, a administração passou para uma ONG de Brasília.

O representante da Fundação Cultural Palmares em União dos Palmares, Severino Cláudio, disse que assumiu o cargo em março, mas que neste 1º de setembro foi nomeado outro representante. Por isso, quem teria mais detalhes sobre o problema seria o representante de Brasília. No entanto, garantiu que em relação à deterioração do parque foram tomadas as providências cabíveis. Inclusive, vieram técnicos da fundação em Brasília e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a partir daí fazer a licitação para a manutenção e reforma do parque em dois meses. "O projeto é em caráter de urgência e emergência. De fato, o local necessita de reparos", disse Severino.

A reportagem do jornal Extra manteve contato, por telefone, com a secretária de Turismo de União dos Palmares, Izabel Helena Maia, que esclareceu que Patricía Mourão nunca foi gestora do parque e que através de sua ONG Magna Matter fez o projeto. Segundo ela, a gestora é a Fundação Cultural Palmares. Izabel informou ainda que apesar do município ser parceiro, não participa de nenhum serviço relacionado ao parque, pois a gestão total é da Fundação.
"Queríamos ter uma gestão compartilhada, pois nosso inte-resse é que o parque seja mantido.

Recebemos 1500 turistas por mês e com a aproximação de novembro esse número aumenta consideravelmente. Mas, infelizmente, há dois anos não há manutenção dos áudios, as palhas há três anos não foram trocadas e torcemos que a recuperação seja de imediato".

A secretária acrescentou ainda que no dia 13 de novembro o Parque será palco de um grande marco para a história quando serão jogadas as cinzas de Abdias Nascimento. O ativista morreu dia 24 de maios de 2011, aos 97 anos, no Rio de Janeiro. Abdias foi o responsável por criar o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro) , deputado fede-ral, senador e secretário de Defesa e Promoção das Po-pulações Afro-Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro, de 1991 a 1994.

Parque - Construído na Serra da Barriga, o local que foi a sede do Quilombo dos Palmares é considerado o templo da resistência negra, além de ser enquadrado como Patrimônio Nacional, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O Parque possui 11 mil metros quadrados e ocupa 280 hectares. A área foi tombada por meio do Decreto 95.855 de 21 de março de 1988, sob a responsabilidade e zeladoria do Ministério da Cultura, por meio da Fundação Cultural Palmares.
Foram dois anos de trabalho, desde a idealização, pesquisa, sensibilização e construção, executado por uma equipe constituída por aproximadamente 250 pessoas, dentre: pesquisadores, consultores, historiadores, turismólogos, produtores, artistas, artesãos, engenheiros, arquitetos, arqueólogos e moradores da Serra.

A infraestrutura é composta pelo Restaurante Kúuku-Wáana (banquete familiar), Onjó de Farinha (casa de farinha), Casa de Apoio aos Religiosos Onjó Cruzambê (Casa do Campo Santo), Terreiro das Ervas (Oxile das Ervas), Ocas Indígenas, Espaço Batucajé (dança ao som de tambores) com espaço para roda de capoeira, loja de artesanato e posto de informações turísticas, ocas indígenas e o Muxima de Palmares (coração de Palmares), todos em formato de pau-a-pique, cobertura vegetal e madeira de eucalipto alto clavado.

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