ESTRATÉGIA
Alvo no caso dos portos busca aproximação com a Procuradoria
Um dos grupos investigados por suposto favorecimento no setor portuário montou uma estratégia para se aproximar da Procuradoria-Geral da República para evitar uma denúncia.
A família Torrealba, sócia do grupo Libra, do setor portuário, contratou o advogado Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral da República, para fazer a interlocução com a atual chefe da PGR, Raquel Dodge.
O Libra é investigado no inquérito da Polícia Federal que apura suposto pagamento de propina na edição de um decreto do setor portuário assinado por Michel Temer em maio de 2017.
O próprio presidente é alvo da investigação sob a suspeita de ter recebido recursos indevidos em razão do decreto e de ter usado imóveis de familiares para lavar dinheiro. Ele nega irregularidades.
Nas buscas da Operação Skala, em março de 2018, a PF apreendeu um contrato celebrado entre o Libra e a Argeplan, empresa do coronel aposentado João Baptista Lima Filho, amigo de Temer e suspeito de ser um elo de propina do emedebista.
A expectativa é que a PF conclua nas próximas semanas o seu trabalho. A partir daí, caberá a Dodge decidir por denunciar ou não os envolvidos, incluindo o presidente.
Nos bastidores, o grupo Libra não descarta caminhos para uma delação, mas tem dito que, apesar de querer colaborar com documentos e informações, não há crimes para serem confessados.
Autor da denúncia do mensalão, Antonio Fernando Souza ocupou o cargo de procurador-geral entre 2005 e 2009, tem boa relação com Dodge e trabalhou com alguns dos principais assessores dela na época do caso: Raquel Branquinho, José Alfredo e Alexandre Espinosa. Eles são os atuais responsáveis pela área criminal da PGR.
Souza tem mantido diálogo com os integrantes da Procuradoria. Apesar de o grupo de procuradores ser considerado duro e fechado, a avaliação de pessoas ligadas ao caso é que o ex-PGR funciona como um "termômetro" da investigação.
Junto com a advogada da família, Ilcilene Bottari, ele orienta os empresários sobre documentos que ocasionalmente devem ser apresentados, questões relativas a outras empresas que são pertinentes à investigação em torno do grupo e fatos que precisam ser esclarecidos.
As conversas não oferecem garantia de benefício aos investigados. O objetivo inicial é evitar que os empresários sejam apontados como integrantes do núcleo econômico em uma eventual denúncia por organização criminosa ou corrupção. Esse tipo de iniciativa é unilateral e pode ajudar na dosagem de eventual punição administrativa ou cível.
Gonçalo Torrealba, um dos executivos da família, disse à PF ser próximo ao ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) e negou envolvimento em irregularidades.
Entre os esclarecimentos que os Torrealba devem prestar à PGR estão as justificativas para as doações eleitorais feitas pela companhia e por pessoas físicas nas eleições de 2010, 2012 e 2014.
Uma das principais linhas de investigação trata de pagamento de propina travestido de doação eleitoral oficial.
A PF identificou doações no valor de R$ 19,84 milhões por parte da família e da empresa.