conflito

Filósofo explica dilemas da guerra entre Palestina e Israel

Combate ganhou narrativas, contextos diferentes e se digitalizou ao longo dos últimos 70 anos
Por Bruno Fernandes 20/11/2023 - 16:38
Atualização: 20/11/2023 - 16:41
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Destruição na Palestina
Destruição na Palestina

O conflito atual entre o Hamas e Israel não é apenas uma disputa regional; é um emaranhado complexo de questões que envolvem história, política e religião, como explica, ao EXTRA, o renomado filósofo e sociólogo Luiz Felipe Gonçalves de Carvalho.

Num panorama histórico, o conflito tem raízes na disputa ancestral por territórios que foram ocupados por diversos povos, incluindo hebreus e filisteus, formando as bases para a atual presença de israelenses e palestinos. Guerras, ocupações e deslocamentos se sucederam, criando uma narrativa complexa e sangrenta.

A tensão, que mistura elementos políticos e religiosos, perdura por mais de sete décadas, resultando em milhares de mortes de ambos os lados. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a criação de dois estados, judeu e árabe, mas a recusa árabe gerou a criação de Israel em 1948, desencadeando a Guerra Árabe-Israelense.

Desde então, o conflito se estendeu, marcado por eventos como a Guerra dos Seis Dias em 1967, onde Israel tomou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Tentativas de paz, como os Acordos de Oslo em 1993, não resolveram a disputa, e a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP) em 2012 não trouxe estabilidade.

Gonçalves de Carvalho destaca alguns pontos cruciais. Primeiramente, a transformação do Hamas, de uma organização não-estatal a uma força militar significativa, redefine o conceito de terrorismo, desafiando a estabilidade global. Essa mudança nas dinâmicas regionais escapa do controle das grandes potências, enfraquecendo as alianças históricas de Israel.

"O Hamas, por meio de sua campanha, transcendeu o papel de uma organização não-estatal convencional. Sua abordagem militar e táticas de guerra redefinem o conceito de terrorismo, conferindo-lhe status de potência bélica. Isso desafia a estabilidade global", explica o filósofo.

A cooperação entre Rússia e China, evidenciada no Mar Negro, ilustra uma nova configuração geopolítica, enquanto a recusa de Israel em aceitar resoluções da ONU destaca um panorama em transformação, desafiando a eficácia dessas instituições internacionais.

A religião desempenha um papel crucial, com Israel se definindo como um "Estado Judeu e Democrático" e a Palestina tendo raízes islâmicas profundas. Essa interseção de religião e política destaca a necessidade de equilíbrio entre diversidade religiosa e valores laicos.

Na era digital, o conflito é amplificado, propagando narrativas polarizadas que podem impactar a política global, que por fim acaba tornando-se um campo de batalha ideológico, exigindo uma reflexão sobre como preservar a diversidade e o respeito às opiniões em sociedades digitais.

"Se valendo dessa estratégia de criar inimigos para se legitimar, seguindo a ideia de Carl Schmitt. Algoritmos da internet amplificam essa polarização, exigindo um debate sobre como preservar a diversidade e o respeito às opiniões em sociedades digitais", completa.

Brasileiros deixam Gaza


A primeira leva de brasileiros que solicitaram às autoridades ajuda para deixar Gaza — território palestino invadido e bombardeado por Israel em retaliação aos ataques de 7 de outubro feitos pelo grupo militante Hamas — deixaram Gaza na última segunda-feira.

A inclusão do Brasil na lista dos países autorizados a repatriar seus cidadãos foi confirmada pelo Itamaraty na quinta-feira, 9. O grupo de brasileiros e seus familiares dessa primeira lista estava dividido entre duas cidades palestinas antes de se deslocar para as proximidades da fronteira: 18 estavam na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a Faixa de Gaza ao Egito; e 16 em Khan Yunis, perto da mesma fronteira.

De acordo com o Itamaraty, duas pessoas desistiram de ir para o Egito e ficaram em Gaza.

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