Conteúdo do impresso Edição 1276

CASO BRASKEM

Solo dos bairros destruídos pela mineração continua afundando em direção à Lagoa Mundaú

Movimentação é mais acentuada nos bairros Mutange, Bebedouro, Pinheiro e Bom Parto
Por TAMARA ALBUQUERQUE 27/07/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE

Divulgação
Retrato da destruição no Pinheiro
Retrato da destruição no Pinheiro


O solo dos bairros destruídos pela mineração criminosa da Braskem em Maceió continua em movimentação, a despeito do preenchimento das minas de sal-gema. Um relatório técnico de monitoramento dos deslocamentos do terreno, englobando as áreas onde a Braskem operava na cidade e produzido em maio deste ano pela empresa TRE Altamira, mostra um fenômeno de deslocamento de solo importante afetando os bairros Mutange, Bebedouro, Pinheiro e Bom Parto, com um incremento progressivo na magnitude dos deslocamentos em direção à margem da Lagoa Mundaú.

Segundo o trabalho, existem dois focos principais de movimento do solo no perímetro afetado pela mineração, sendo as áreas mais proeminentes a dos bairros Pinheiro e Mutange e suas adjacências, Farol e Flexal. Os bairros Bom Parto e Levada também apresentam movimento relevante do solo, porém de menor magnitude em relação à área anterior, de acordo com o estudo. Para a área de Pinheiro-Mutange, há movimentação significativa nas componentes de deslocamento vertical e horizontal, enquanto na área de Bom Parto-Levada há apenas movimentação significativa na componente vertical.

O relatório da TRE Altamira faz parte de um conjunto de documentos enviados pela Braskem à Agência Nacional de Mineração (ANM) em Alagoas no dia 15 deste mês. São documentos solicitados em reunião que aconteceu em junho passado, quando a ANM exigiu informações sobre os critérios técnicos utilizados para alocação dos instrumentos que fazem o monitoramento geotécnico da encosta do Mutange, assim como mapa de detalhe com a localização desses instrumentos e justificativa para escolha dos mesmos.

O relatório da empresa informa que os bairros Pinheiro e Mutange compreendem a área com maior deslocamento geral de solo na região do estudo. Aponta que o deslocamento é progressivo, sendo maior na margem da Lagoa Mundaú, incluindo a região onde a Braskem operava. A empresa afirma que, em função da área Pinheiro-Mutange apresentar maior variação e intensidade de movimentos do solo, passou a elaborar mapas de deslocamento cumulativo para as duas componentes (vertical e horizontal) num período de um ano, três meses e um mês, a fim de destacar os pontos com maior incremento no deslocamento do solo. Como resultado, afirma “que no período de um ano há um gradiente de deformação significativo na região”.

O estudo técnico diz que nos últimos três meses a atenuação do movimento de deslocamento às margens da lagoa continua. Já para o mapa de deslocamento cumulativo mensal, essa deformação continua a se mostrar com “menor magnitude, o que sugere uma tendência de estabilização no movimento em direção a oeste presente na área”. Essa tendência será objeto de observação nas atualizações subsequentes dos dados emitidos pelos equipamentos de monitoração.

A monitoração do solo é feita pela empresa através do processamento de imagens de radar de alta resolução, banda X, captadas pelo satélite TerraSAR-X, utilizando uma técnica que extrai informação estatística das imagens, identifica alvos no terreno e fornece séries temporais de deslocamento com precisão milimétrica.

O relatório da TRE Altamira tem potencial para subsidiar órgãos, como a Defensoria Pública de Alagoas, que defendem a indenização e a realocação dos moradores dos Flexais e da Rua Marquês de Abrantes, no Bebedouro. São inúmeras famílias que sofrem com o isolamento socioeconômico, a desvalorização dos imóveis no mercado e os danos na estrutura de suas casas. Esses moradores lutam para ser incluídos no programa de indenização às vítimas da mineração.

As informações da TRE Altamira também endossam um relatório produzido no ano passado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (FAU/Ufal) que justifica a necessidade de evacuação dos Flexais. De acordo com o estudo da FAU, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao governo federal, define claramente que a região [Flexais] 

“é área sujeita a deslizamento de encostas, o que seria uma imprudência, ou mesmo prevaricação do poder público, ter ciência deste parecer geológico e manter os Flexais na iminência de uma tragédia urbana por deslizamento de solo. Não é apenas um problema de isolamento e ilhamento social; estamos diante de um problema ambiental também, devido à área florestal ser protegida por rigoroso regramento jurídico e ambiental federal”, afirma.



Encontrou algum erro? Entre em contato