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PERIGO REAL

Lixo plástico compromete qualidade ambiental e vida marinha nas praias de Alagoas

Estudo aponta que beleza paradisíaca do litoral alagoano esconde a destruição da natureza pelo descarte errado de lixo
Por TAMARA ALBUQUERQUE 28/09/2024 - 06:00

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Lixo encontrado por pesquisadores inclui bitucas de cigarro
Lixo encontrado por pesquisadores inclui bitucas de cigarro

O Ser humano destrói o planeta como se não precisasse dele para viver. Inúmeras ações concorrem efetivamente para destruir a natureza que mantém vivo e equilibrado o globo terrestre, tornando-o cada vez mais inabitável. O desmatamento, a poluição de rios, mares e florestas, queimadas, desenvolvimento industrial predador e a poluição do solo estão exaurindo a Terra e essa destruição da natureza pelos humanos é suicida.

Os resultados da agressão ao meio ambiente há séculos castigam a população, porém as pessoas resistem a ter consciência de que pequenos gestos, como o descarte irregular do lixo, contribuem para destruir o planeta. Recente estudo realizado pelo Instituto Oceanográfico da USP, a Universidade de São Paulo, e idealizado pela ONG Sea Shepherd Brasil, revelou dados alarmantes de como o lixo, especialmente os plásticos, está destruindo o oceano. Nele, é comprovado que 100% das praias do litoral brasileiro são poluídas por macroplásticos e microplásticos (partículas até 5mm de tamanho).

Alagoas, com seu exuberante litoral com 230 Km quilômetros de extensão e cenários paradisíacos, não possui nenhuma praia entre as que menos apresenta poluição por resíduos plásticos, mesmo sem ser urbana. O plástico representa de 60% a 70% do lixo encontrado no oceano e nas praias, sendo grande parte de origem terrestre e de uso único. É comum encontrar nas praias do litoral alagoano os principais macrorresíduos plásticos apontados no estudo, como garrafas, tampas e embalagens descartáveis, bitucas de cigarro (1 a cada 4 resíduos encontrados) e apetrechos de pesca.

RAIO X DOS RESÍDUOS

O “Raio X dos resíduos na costa brasileira” escancara o descaso do ser humano com um dos mais importantes ambientes do planeta. O oceano é essencial para a saúde do sistema terrestre inteiro, desempenhando um papel crucial na regulação do clima, na produção de oxigênio e na manutenção da biodiversidade. A saúde dos oceanos está diretamente ligada à saúde do planeta e à nossa própria sobrevivência, aponta o estudo cujos participantes percorreram todo o litoral brasileiro para detalhadamente mapear a poluição por plástico e outros resíduos. Foi analisada uma área de 156.600 m² em 201 municípios brasileiros e 306 praias. O trabalho propõe soluções para o problema.

Ao longo das 306 praias analisadas, foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos (resíduos plásticos maiores). Considerando a área total estudada, o estudo revela que, em média, encontram-se 4,5 microplásticos por m² e 0,5 macrorresíduo por m² de praia (portanto, 1 resíduo a cada 2 m² de praia) na orla marítima brasileira. Dos resíduos catalogados nas praias pelo estudo, 91% são plásticos.

As praias no litoral alagoano apresentam uma densidade maior de microplásticos por m² que as praias dos litorais do Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá. Apresentam ainda maior densidade de microrresíduos por m² que as praias de Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão. Já em relação à densidade de macroplásticos por m², o litoral belíssimo de Alagoas tem praias mais poluídas que os de Sergipe, Piauí, Bahia, Maranhão e Pará.

O estudo mostrou que, em meio a um cenário preocupante de poluição por plásticos nas praias brasileiras, Turiaçu (MA) se destacou como um oásis, com a ausência completa de microplásticos e níveis mínimos de macrorresíduos. Outras quatro cidades também não mostraram a presença de microplástico:

Amapá (AP), Campos dos Goytacases (RJ), Jaguaripe (BA) e Rio das Ostras (RJ). No litoral brasileiro, as cinco praias com maior densidade de microplásticos por m² são: Pântano do Sul (Florianópolis, SC), Praia do Centro (Mongaguá, SP), Praia do Rizzo (Florianópolis, SC), Praia do Botafogo (Rio de Janeiro, RJ) e Mariluz (Imbé, RS). As cinco praias com a maior densidade de macrorresíduos por m² são: Pântano do Sul, Praia das Vacas (São Vicente, SP), Itaquitanduva (São Vicente, SP), Praia Costa Azul (Jandaíra, BA) e Praia de Santa Rita (Extremoz, RN). A análise também apontou que as cinco praias com maior densidade de microplástico por m² são: Pântano do Sul, Praia das Vacas, São Vicente, Itaquitanduva, Praia Costa Azul e Praia de Santa Rita, no Rio Grande do Norte.

PANORAMA BRASILEIRO

No panorama brasileiro, o estudo revela que a Região Sudeste lidera quando o assunto é resíduos plásticos maiores, chamados de macrorresíduos. Porém, quando se olha especificamente para a presença de macroplásticos (pedaços grandes de plástico), a Região Sul empata com o Sudeste. Além disso, o Sul se destaca com uma quantidade muito maior de microplásticos em comparação com outras regiões. Em relação aos apetrechos de pesca, esses representam 1 em cada 10 itens encontrados na costa brasileira, indicando falhas na fiscalização, especialmente em áreas de proteção integral. Apetrechos de pesca correspondem a 11,2% dos plásticos e 10,3% de todos os itens analisados na costa brasileira. O Rio Grande do Sul destaca-se com uma quantidade de resíduos relacionados a apetrechos de pesca três vezes superior à média nacional. Áreas rurais e de proteção integral são as mais afetadas, sugerindo que o isolamento e a falta de fiscalização nessas áreas favorecem tanto a pesca ilegal quanto o descarte irregular dos apetrechos.

Ao analisar a presença de resíduos plásticos nas praias, o estudo observou que, em geral, quando há mais macroplásticos, como garrafas e sacolas, também encontramos mais microplásticos. “No entanto, essa relação não é muito forte. Isso quer dizer que, apesar de uma tendência, outros fatores também influenciam a quantidade de microplásticos, como o tipo de praia, a estação do ano e a proximidade com áreas urbanas”, aponta. Os plásticos maiores, quando expostos ao sol, ao vento e à ação das ondas, podem se quebrar em pedaços menores. Com o tempo, esses fragmentos se transformam em microplásticos, que são mais difíceis de serem removidos e podem ser ingeridos por animais marinhos. Ou seja, limpar as praias removendo os plásticos maiores ajuda a evitar que eles se transformem em microplásticos no futuro. A poluição por microplásticos é crescente, já que eles podem prejudicar a vida marinha através da cadeia alimentar. Por isso, a remoção dos plásticos maiores nas praias é uma medida importante para proteger o meio ambiente e a saúde dos oceanos.

RECOMENDAÇÕES AOS ESTADOS

O estudo recomenda aos estados as seguintes ações para contribuir com a despoluição das praias por plástico:

- Desenvolvimento de planos estaduais de gestão de resíduos: criar ou atualizar planos estaduais para incluir a gestão específica de microplásticos e macrorresíduos plásticos.

- Iniciativas de redução de plásticos em zonas costeiras: implementar programas estaduais para reduzir o uso de plásticos nas zonas costeiras, com ênfase em municípios mais afetados, como na Baixada Santista, em Florianópolis, entre outros.

- Monitoramento e controle de poluição costeira: estabelecer estações de monitoramento regular para avaliar a concentração de plásticos nas praias e tomar medidas corretivas.

- Parceria com o setor privado e ONGs: incentivar parcerias com empresas para promover práticas sustentáveis e apoiar iniciativas de limpeza das praias por ONGs.

- Educação sobre resíduos, consumo e descarte consciente como parte do currículo fundamental das escolas públicas de cada estado.

- Formação de consórcios para resolver gargalos estruturais e financeiros na disposição final ambientalmente adequada.

RECOMENDAÇÕES AOS MUNICÍPIOS

- Programas locais de reciclagem: estabelecer programas eficazes de coleta e reciclagem com previsão orçamentária e financiamento a longo prazo das prefeituras, que incluem infraestrutura para coletar e triar para retornar à cadeia de produção os plásticos de alta reciclabilidade.

- Limpeza regular e eficaz das praias: implementar métodos de limpeza que não apenas removem resíduos visíveis, mas também microplásticos enterrados (como técnicas de peneiração).

- Campanhas de sensibilização comunitária: desenvolver campanhas locais para educar a população sobre o impacto do lixo plástico e do descarte adequado, incentivando práticas de descarte responsável.

- Proibição de materiais plásticos descartáveis: considerar regulamentos locais para banir o uso de plásticos descartáveis e de uso único em estabelecimentos comerciais, eventos públicos e locais turísticos.

- Educação sobre resíduos, consumo e descarte consciente como parte do currículo fundamental das escolas públicas da cidade.

- Promoção de mutirões de limpeza constantes com cidadãos e organizações locais, como feito pela Sea Shepherd Brasil em parceria com prefeituras e organizações locais de diversas partes do país, na campanha Ondas Limpas.



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