Conteúdo do impresso Edição 1299

LEGADO

Benedito de Lira morre aos 82 anos e deixa marca na memória política do país

Biu ficou conhecido como o parlamentar que mais enviou recursos federais para Alagoas
Por Redação 18/01/2025 - 09:18
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Divulgação
Alagoas perde Biu de Lira
Alagoas perde Biu de Lira

O mundo político se despediu esta semana de uma figura icônica. Aos 82 anos, o eternizado senador Benedito de Lira (PP) não resistiu ao avanço do câncer e faleceu no último dia 14, em Maceió. Biu de Lira, como sempre foi chamado pelos alagoanos, saiu vitorioso das eleições municipais de 2024 para um segundo mandato na Prefeitura da Barra de São Miguel, na região metropolitana de Maceió. Não pode comparecer à posse, pois precisou se submeter a um procedimento cirúrgico de emergência, sua última internação hospitalar.

Benedito de Lira iniciou a vida política em Junqueiro, sua cidade natal, quando ocupou o cargo de vereador em 1966, aos 24 anos de idade. Desde então, não ficou muito tempo sem mandato, pois sempre foi reeleito para os cargos que exercia. Assumiu por duas vezes uma vaga na Câmara Municipal de Maceió (1973/1982), foi deputado estadual por três mandatos consecutivos (1982/1990) e chegou ao Congresso Nacional como deputado federal em 1994. Tinha, então, 52 anos e uma carreira política robusta, que permitiu seu retorno à Câmara Federal em 2002, onde permaneceu até 2006. Quando decidiu disputar uma vaga no Senado, em 2010, alcançou um feito histórico, sendo o candidato mais votado e eleito com 904 mil votos válidos aos 68 anos.

Sua trajetória política é longa, assim como foi sua vida e legado. Na avaliação do analista político Marcelo Bastos, Biu de Lira tinha na personalidade uma característica peculiar: era “muito” habilidoso no trato com seus pares e no exercício de suas funções. 

Ficou conhecido pela capacidade de conquistar recursos em Brasília para seus projetos e os de aliados políticos em Alagoas. “Se destacou tanto como deputado federal, trazendo recursos para o nosso estado que, com essa performance, Benedito de Lira foi eleito senador, sendo o mais votado na eleição em que conquistou a vaga”, comentou o analista.

Casado há 21 anos com Tereza Palmeira, pai de Adriana, Aline e Arthur Lira, que herdou o gosto pela política desde cedo e hoje é presidente da Câmara dos Deputados, Biu de Lira foi homenageado na última quarta-feira como nunca ao longo da sua vida. Uma verdadeira romaria de políticos de todas as correntes, amigos, familiares e cidadãos comuns acompanharam as informações, as notas de pesar, considerações e histórias protagonizadas pelo alagoano até sua despedida final, no Campo Santo Parque das Flores.

“Foi autor da lei que permite o uso de medicamentos genéricos na medicina veterinária e estabelece preferência para eles nas compras governamentais”, lembra um texto da Câmara, onde integrou as comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania; e de Desenvolvimento Urbano, entre outros colegiados.

Como deputado e também como senador, conseguiu aprovar mais de R$700 milhões de reais para obras e serviços em Alagoas: R$110 milhões para o VLT de Rio Largo, R$40 milhões para o novo Mercado da Produção em Maceió; R$10 milhões para o Centro de Convenções; R$12 milhões para a expansão da produção de leite de Pindorama; R$11 milhões para a rodovia ligando Chã Preta à Correntes (PE); R$10 milhões para a ligação do Passo à Matriz de Camaragibe; R$5 milhões para urbanização em Atalaia; R$356 milhões de reais consignados em favor de Maceió e que foram aplicados em vários bairros como Benedito Bentes, Selma Bandeira e nas obras do Minha Casa Minha Vida. Não dá para listar 60 anos de atividade política.

Biu de Lira chegou à convenção que marcou o início dos trabalhos pela sua reeleição na Barra de São Miguel, caminhando ao lado do filho Arthur com auxílio de uma muleta. Nos eventos de campanha, exibiu dificuldades para fazer a “dancinha com passos de forró”, sua marca registrada em comícios e eventos políticos em eleições anteriores. O slogan “Biu dança, mas faz!” virou um dos memes políticos mais populares do estado.

Benedito de Lira, que tem formação em advocacia, não se restringia apenas às atividades políticas. Ele também era sócio da D’Lira Agropecuária e Eventos, ao lado do filho Arthur. A empresa está ligada à criação de gado nelore e à realização de vaquejadas no interior alagoano. Construiu um patrimônio milionário desde que saiu de Junqueiro, declarando à Justiça Eleitoral R$ 1.2 milhão em bens, sendo os mais valorizados a Fazenda Estrela e a Fazenda Santa Quitéria, ambas no município de Quipapá, em Pernambuco.

Denúncias de corrupção

A trajetória política de Benedito de Lira também foi marcada por polêmicas e denúncias de corrupção, das quais o alagoano foi inocentado. Em 2006, o caso dos “sanguessugas”, que tratava do desvio de verbas públicas para a compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares, foi um deles.

A Operação Sanguessuga foi deflagrada pela Polícia Federal em 4 de maio de 2006. Na ocasião, 48 pessoas foram presas e 53 mandados de busca e apreensão cumpridos. Todos respondem aos processos em liberdade. De acordo com estimativas feitas à época, o grupo movimentou R$ 110 milhões.

Segundo as investigações, o grupo liderado pelos empresários Luiz Antônio Vedoin e Darci Vedoin, donos da Planam, pagava propina a parlamentares em troca de emendas destinadas à compra de ambulâncias e materiais hospitalares. Ainda de acordo com a denúncia, um grupo de parlamentares viabilizou a aprovação das emendas e intercedeu nas prefeituras para direcionar as licitações para as empresas da família Vedoin vencerem as disputas.

Anos depois, o nome de Lira novamente foi associado à operação Lava Jato. A Polícia Federal apontou indícios de corrupção passiva após a conclusão dos inquéritos abertos para apurar a participação do deputado Arthur Lira e de seu pai, o então senador Benedito de Lira, no esquema de corrupção que atuava na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.

De acordo com as investigações, havia suspeita de que os dois parlamentares recebiam quantias periódicas indevidas de empresas que tinham contratos com a Petrobras, em razão do controle pelo Partido Progressista (PP) da Diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa.

Em dezembro de 2017, a Segunda Turma do STF rejeitou as denúncias apresentadas contra Benedito de Lira e Arthur Lira.


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