Conteúdo do impresso Edição 1301

JOGO DO PODER

Lula busca encaixar Lira em ministério

Enquanto isso, Renan não expõe empecilhos e os dois fazem acordo
Por ODILON RIOS 01/02/2025 - 06:00
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Agência Câmara
Arthur Lira deixa comando da Câmara, mas não quer perder poder
Arthur Lira deixa comando da Câmara, mas não quer perder poder

Seguindo a máxima “2026 já começou”, o presidente Lula (PT) busca encaixar o já ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP) no governo. Talvez como ministro da Agricultura ou da Casa Civil. Ruralista, Lira tem interlocução com as maiores fortunas do agro no país, aquelas com capacidade de interferir em milhares de votos, maioria conservadora. Além disso, atua como ponte entre as demandas da Câmara e o Executivo.

Lira oferece suas habilidades, mas a dúvida mesmo é saber se, após a passagem pelo cargo máximo no Legislativo em Brasília, ele terá alguma relevância com a ascensão de Hugo Motta, sucessor do alagoano. O horizonte também carrega incertezas. As investigações sobre emendas parlamentares (incluindo as de relator) devem respingar em Lira, e ele deve precisar de aliados poderosos após a passagem de comando no Legislativo.

A julgar pelas pedras do xadrez alagoano, Lira e o senador Renan Calheiros (MDB) convergem para um entendimento. Ao menos a roupa suja que os dois lavavam publicamente agora ficou restrita a quatro paredes.

Olhando de Brasília em direção a Alagoas:

- O presidente do PP, Ciro Nogueira, avisa que o partido não vai apoiar uma possível entrada de Lira no governo federal. É um jogo de cena do líder do Centrão, sempre em busca de mais espaços na gestão, agora sob Lula;

- O possível encaixe de Arthur Lira em algum ministério tem consequências diretas no jogo eleitoral local. Renan e Lira já se entendem no revezamento de poder na Associação dos Municípios Alagoanos (AMA). Graças a um novo acordo entre ambos, o prefeito de Coruripe, Marcelo Beltrão – que era do PP e migrou para o MDB – assumiu a associação. E o prefeito de Pão de Açúcar, Jorge Dantas, deverá ser o substituto de Beltrão, mais adiante;

- Ainda sobre a situação da AMA: a futura vice-presidente será Pauline Pereira, também diretora financeira do Hospital Veredas, instituição sob forte influência de Arthur Lira. Renan não se opôs, apesar de, no passado, denunciar que o hospital era uma lavanderia de dinheiro público, via Lira;

- Outro entendimento vem da migração de prefeitos, antes liristas e agora calheiristas. Isso não deve atrapalhar as conversas sobre o segundo voto ao Senado: 90 prefeitos fecharam acordo com Renan, o restante está com Lira, mas nenhum dos grupos se opõe em fechar o primeiro voto em Renan e o segundo em Lira e vice-versa;

- Lira deve manter alguma influência em cargos federais. A expectativa é que permaneçam seus indicados no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e talvez alguma influência no Porto de Maceió, agora gerido por uma estatal criada sob medida para Alagoas. Uma sede local da Companhia Docas, tudo articulado por Lira;

- Codevasf, DNOCS e CBTU estão entre os cargos mais valiosos e ainda estão sob influência do deputado federal. Após a saída do parlamentar do comando da Câmara, deverá existir uma dança das cadeiras.

Aos poucos, também, lideranças próximas aos Calheiros seguem pautas em comum. O deputado federal Paulão (PT) – sempre calheirista – anunciou seu apoio à procuradora Marluce Caldas para assumir vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Marluce é tia do prefeito de Maceió, JHC (PL), aliado de Arthur Lira e apoiador da procuradora.

Os Calheiros ainda não disseram publicamente se apoiam Marluce. O maior impedimento são os interesses, diferentes entre os dois grupos. JHC quer lançar ele próprio ou talvez seu vice Rodrigo Cunha (Podemos) para a disputa ao governo e os Calheiros, em reação, terão Renan Filho.

Enquanto isso, Arthur Lira prevê que deve deixar preparada a indicação de Marluce Caldas como ministra, selando a aliança dele e Lula, além do prefeito JHC, que deve deixar o PL, ingressar em um partido da base presidencial e abrir espaços para o PT alagoano, hoje ultraconcentrado na gestão Paulo Dantas (MDB).

POPULARIDADE

As conversas com Lira acontecem num instante em que a popularidade de Lula balança principalmente no Nordeste, região que ajudou a definir a disputa presidencial em 2022.

O Palácio do Planalto interpreta a queda como o efeito da regulação do Pix. Com Arthur Lira, Lula busca um ‘caminho de volta’ com mais lideranças.

Antes disso, há a eleição de Hugo Motta neste sábado, 1, para o comando da Câmara. Lira ajudou a unir as bancadas do Rio e São Paulo para alinhar propostas conjuntas, algumas enfrentando Lula: o controle das emendas parlamentares e a dívida dos estados.


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