Conteúdo do impresso Edição 1330

ELEIÇÕES 2026

Futuro político de Lessa inclui até nau da trairagem

Pressionados, líderes do PDT sugerem que vice de Dantas enfrente Renan Filho
30/08/2025 - 06:00
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ERROL FLINN/VICE-GOVERNADORIA
Ronaldo Lessa está sendo orientado a disputar governo contra Renan Filho
Ronaldo Lessa está sendo orientado a disputar governo contra Renan Filho

O PDT ainda não sabe a po sição do vice-governador Ronaldo Lessa (PDT) nas eleições do próximo ano. Representantes de todo o estado se reuniram no dia 22 de agosto e puseram várias propostas na mesa. A mais inusitada: Lessa jogar tudo para o alto, embarcar na nau de traira gem e ser candidato a governador, enfrentando o ministro dos Trans portes, Renan Filho (MDB), que já adiantou: vai disputar a chefia do Executivo estadual em outubro de 2026. 

A hipótese não deve prosperar, porém ilustra que os nervos dos pedetistas não são de aço e a pres são do calendário eleitoral preocupa, sim, os dirigentes. Uma ala sugere que Lessa dispute o Senado, em acordo com Renan Calheiros (MDB) ou o deputado federal Arhur Lira (PP). Levam em conta uma aparente vantagem: o vice-governador, assim como o prefeito de Maceió, JHC (PL), estão bem avaliados entre os eleitores da região metropolitana. Estamos falando de 750 mil cabeças nos municípios localizados no entorno da capital alagoana. E 380 mil em Maceió reelegeram o prefeito. 

Outras ideias também vão sendo amadurecidas: o vice-governador deixar a administração estadual para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa. Creem que esse eleitor mais urbano dará vitória acachapante a Lessa e também puxa dois nomes para a Casa de Tavares Bastos. 

O cenário para o PDT não é dos melhores. A legenda tem um vereador em Maceió, Aldo Loureiro, que pode perder o mandato. O Ministério Público Eleitoral, autor da ação, acusa o partido de fraudar a cota de gênero. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) é que vai decidir. E se ele perder, João Catunda, do PP, é quem assume no lugar. 

Apesar de ser o partido do vice-governador, uma figura emble mática e popular, o PDT não tem deputado estadual. Por isso ganha força a proposta de Lessa disputar uma vaga a estadual, ganhar e atrair um ou dois nomes. Seja qual for o caminho, a com preensão é que ele precisa disputar um mandato para continuar na liderança do PDT estadual. Por isso até uma cartada surpresa, Lessa brigar por uma vaga a deputado federal, não está descartada. E até mesmo ir para o confronto em 2028 à cadeira de prefeito é especulada, sem, no entanto, animar tanto as sim os próprios líderes. 

Em abril do próximo ano, o vice de Paulo Dantas (MDB) completa 77 anos. A palavra aposentadoria não está nos planos. Tirando Lessa, o PDT não tem um nome à altura e com força nas urnas para alcançar mandatos e puxar mais gente. Alguns devem disputar as eleições: Léo Loureiro, Alex NSC, Kátia Born, Davi Maia, Ricardo Nezinho, professor Dilson, Ricardo Nazário, Professor Valério, Marina Dantas, João Folha, Cícero Al meida. 

Nesta lista, há dois ex-prefeitos de Maceió (Born e Almeida) que não conseguiram se manter por mais tempo na política após a passagem municipal. Born foi des cartada nas eleições de 2006 para governadora; Almeida sequer teve votos para uma cadeira de verea dor na capital. Marina Dantas só pode dis putar as eleições se o ex-marido Paulo Dantas deixar o governo. Ele mesmo descarta a possibi lidade e insiste em terminar o mandato. Eis a esperança do PDT: Paulo fora do governo significa Lessa assumindo a gestão estadual, indo para a reeleição e demolindo os planos dos Calheiros, preparando o retorno ao Pa lácio República dos Palmares. Poucos subestimam o capital eleitoral de Ronaldo Lessa. 

Tanto que JHC, quando disputou a Prefeitura de Maceió pela primeira vez, chamou Lessa para a posição de vice. Há uma memória afetiva no eleitor: quando era prefeito, Lessa abriu concursos públicos, dando chance a milhares de pessoas disputarem um emprego na máquina municipal sem terem parentes importantes nem amigos influentes. Até hoje, mais de 30 anos depois, os governantes usam o concurso como vitrine eleitoral. 

Em 2020 Ronaldo Lessa era candidato a prefeito de Maceió. JHC conseguiu um acordo com o PDT nacional, obrigando Lessa a abrir mão da campanha, mas ele aceitou ser vice de Jota. O resul tado é conhecido. Uma série de acordos não cumpridos obrigou Lessa a romper com JHC. Os Calheiros farejaram longe. Ofereceram a vaga de vice de Paulo Dantas, em pro cesso de reeleição ao governo do Estado. Funcionou. A chapa obte ve 145.225 votos (34,05%) apenas na capital, parte deles vindo dos saudosistas lessistas. 

A estratégia do calheirismo era dividir este eleitor, propenso a votar em Rodrigo Cunha, candidato ao governo e que obteve em Maceió 115.841 votos (27,16%). Enquanto o PDT não se deci de, e nem o próprio Ronaldo Lessa revela sua preferência, o vice-governador segue em um ritmo que parece o de uma campanha: organiza seminários para falar sobre política ou convida nomes ou ainda promove ações maio res, como no dia 1 de agosto, quando liderou a celebração dos 40 anos da redemocratização brasileira. 

No palco, uma homenagem ao ex-deputado federal José Thomaz Nonô, cujo campo ideológico sempre foi diferente de Lessa, mas ambos estavam do mesmo lado em 1985. Depois, ambos estiveram em lados opos tos na política. Também mostrou disposição ao lado do presidente Lula, de 79 anos e que vai disputar a reeleição. Lessa foi levar o recado alagoano: contra o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao que parece, as chuteiras seguem no pé do vice de Dantas. 


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