BAIRROS DESTRUÍDOS
Vítimas da Braskem esperam fim de ‘relatórios burocráticos’ com mudança
Para atingidos, gestão da Semarh falhou diante da destruição causada pela BraskemA mudança no comando da Secretaria do Meio Am biente e Recursos Hídri cos (Semarh), anunciada esta semana pelo governador Paulo Dantas (MDB), reacendeu a es perança das vítimas do maior desastre ambiental e humano de Maceió. A saída de Gino Cé sar e a chegada do ex-deputado Judson Cabral são vistas como oportunidade de romper com uma gestão, segundo as víti mas, marcada pela apatia e pelo distanciamento.
Para os atingidos, a Semarh falhou diante da destruição causada pela Braskem. “A se cretaria limitou-se a relatórios burocráticos que em muitos casos soaram mais como defesa da mineradora do que como instrumento de enfrentamento em favor das comunidades”, afirma Maurício Sarmento, pre sidente da Associação do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).
Segundo ele, o resultado foi a falta de protagonismo político e de com promisso real com a proteção ambiental. O desastre, que obrigou milhares de famílias a abandonarem cinco bairros da capital, também devastou 17 hectares de manguezais, alterando pai sagens e modos de vida.
Segundo Sarmento, a omissão do Estado ampliou o sofrimento de moradores que perderam casas, laços sociais e referências culturais. “O silêncio institucional custou caro. As famílias foram deslocadas sem que houvesse acolhimento ou políticas públicas adequadas”, acrescenta a entidade.
No dia 22 de agosto o Ministério Público Federal (MPF) cobrou da Braskem o andamento do Plano Ambiental do Meio Biótico (PAMB). O plano prevê restaurar 47,19 hectares de manguezal, em compensação à perda dos 17 causada pelo afundamento do solo. Até agora, apenas 3,08 hectares foram plantados.
A reunião contou com representantes da Advoca cia-Geral da União (AGU), do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) e da Tetra Tech. Foi concedido prazo de 30 dias para a Braskem apresentar soluções técnicas e jurídicas, em diálogo com a Superintendência do Patrimônio da União em Alagoas (SPU-AL), detalhando o que será feito, como e em quanto tempo. A chegada de Judson Cabral cria expectativa de mudanças.
Engenheiro com especia lização em gestão ambiental e histórico de militância política no PT, ele é lembrado por sua trajetória de diálogo. “O que esperamos é coragem política para enfrentar a mineradora e colocar o Estado ao lado de seu povo”, dizem as lideranças do movimento.
Outra frente que desperta atenção é a Secretaria de Di reitos Humanos, agora coman dada por Marcelo Nascimento, advogado e militante de pautas sociais. Até então, a pasta foi criticada por não oferecer acolhimento às famílias atingidas. Mesmo após relatório contundente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, a secretaria estadual não conseguiu se colocar ao lado das vítimas. “A au sência foi sentida de forma dolo rosa”, diz o movimento.
As reivindicações, no entanto, permanecem as mesmas: repara ção justa, reconhecimento oficial e políticas públicas que assegurem vida digna. “Não pedimos favores. Exigimos o que é de direito. Queremos um Estado que assuma sua responsabilidade e não se limite a intermediar negociações com a Braskem”, reafirma o MUVB.