ELEIÇÕES 2026
JHC transforma Maceió em laboratório de votos
Prefeito avalia 2026, testando e confundindo aliados
Ao abrir as portas da Prefeitura para receber dois vereadores como secretários do município, o prefeito de Maceió, JHC (PL), segue os mesmos caminhos do senador Renan Calheiros (MDB) quando o governador Paulo Dantas (MDB) atraiu os ex-prefeitos Julio Cezar (Palmeira dos Índios) e Areski Freitas (União dos Palmares) para compor o secretariado.
Ou seja: oferece secretarias inexpressivas politicamente, com orçamento minúsculo para investimentos, porém cheias de cargos comissionados (votos) para os vereadores dividirem entre si, turbinarem a própria eleição ou de aliados para a Assembleia Legislativa e Câmara Federal.
A estratégia animou os representantes do povo na Câmara. Tanto que eles aparecem em peso nas últimas inaugurações, como da Praça Maria Onça e Areninha no Conjunto Carminha, parte alta da capital alagoana, e das praças São José e Othon Bezerra de Melo, no histórico bairro de Fernão Velho.
E JHC nem precisou gastar tanto assim. A Secretaria de Esporte, do vereador Eduardo Canuto (PL), tem orçamento para 2025 de R$ 16.058.809,00. Pouco mais de R$ 1 milhão/mês, valor irrisório se levarmos em conta o potencial da pasta movimentar bairros não apenas na promoção de eventos, mas também obras nos bairros.
Quanto à Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do vereador Brivaldo Marques (PL), o valor é ainda menor: R$ 3.432.842,00, pouco mais de R$ 250 mil/mês, dinheiro – lógico – que será revertido para a folha de pessoal composta, na maioria, por comissionados.
Ter estes dois vereadores é estratégico para o prefeito, se ele for mesmo candidato em 2026 ou lançar familiares na política.
Marques foi o 11º vereador mais votado na capital, sua maior força eleitoral está no Benedito Bentes. Segundo o Censo 2022, realizado pelo IBGE, o Benedito Bentes tem 110.746 habitantes.
Eduardo Canuto foi o 22º mais votado na Câmara e sua base eleitoral é mais espalhada, ligada a eventos realizados nos bairros como campeonatos, corridas, basicamente ligados aos esportes, área onde o longevo vereador se destacou antes de entrar na política.
Atrair estes dois vereadores também significa consolidar a maioria governista na Câmara, já que os cargos nas duas secretarias são repartidos entre os colegas, além também de agradar ao deputado Cabo Bebeto (PL), que assistiu ao filho Caio sair da suplência e virar vereador, ainda que provisório.
Caio foi o 31º mais votado nas eleições municipais. Porém, o simbolismo é que o ultraconservador está surfando na onda do bolsonarismo na única capital nordestina onde Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula (PT) na disputa presidencial.
A família Bebeto tem mais votos na capital, aos poucos está penetrando no interior alagoano, mas (ainda) sem força política para reivindicar o comando do PL, hoje presidido por JHC.
Há, porém, uma brecha em aberto. Em julho o diretório do PL de Maceió foi dissolvido a pedido da direção estadual. Os Bebeto devem assumir a liderança, o que viria a calhar na estratégia do prefeito se lançar a governador ou senador.
Eis o ponto de discórdia: os vereadores aliados ao prefeito preferem JHC disputando o governo (por sonharem com uma estrutura maior, de cargos comissionados) e não o Senado (por costurarem, abaixo dos panos, acordo para a reeleição de Renan Calheiros e Arthur Lira).
Calheiros, porém, sinalizou várias vezes preferir JHC na disputa ao Senado. Há dois motivos:
1) o prefeito não retira votos do calheirismo, mas de Lira;
2) o ministro dos Transportes, Renan Filho, terá uma estrada ampla, sem curvas nem obstáculos, para vencer, quase que por WO, o governo, levando em conta as pesquisas oficiais (aquelas tornadas públicas) e as de gaveta, feitas sob encomenda e para o público interno.
JHC sinaliza para Arthur Lira que não vai disputar o Senado. Ao mesmo tempo, o prefeito aparece nas redes sociais do deputado federal em fotos antigas, quando o contexto parecia ser outro. E o cenário político-eleitoral também.
Fato é que Lira parece ter se tornado uma figura incômoda, apesar do poder e influência que possui na gestão do sucessor Hugo Motta, presidente da Câmara.
Os Calheiros se unem em um coro só, ao atacar Lira associando-o à chantagem ao burocratizar a aprovação de projetos do governo federal na Câmara dos Deputados.
Os Calheiros expressam – ainda que indiretamente – a insatisfação do presidente Lula com o poder lirista. Além, também, de acompanhar as pesquisas que mostram a insatisfação da população crescer diante do Legislativo comandado pelo Centrão.
Lira preserva trunfos maiores, como o comando de estatais federais em Alagoas. Na lista, Codevasf, CBTU e Incra. Elas podem ajudar a definir uma eleição pelo orçamento bilionário que carregam ou, no caso do Incra, definindo a velocidade da reforma agrária em Alagoas principalmente em terras que entraram como garantia de pagamento de dívidas por usinas de açúcar e álcool, e as dívidas não foram pagas, portanto as terras acabaram apropriadas pelos bancos públicos.