Elias Fragoso aponta saídas para o crescimento do estado
“NÃO PODEMOS PERDER A CHANCE DE DAR A VOLTA POR CIMA. A HORA É AGORA”
O olhar é de médio e longo prazo, mas o economista Elias Fragosos aposta que Alagoas tem jeito. Consultor empresarial, palestrante, com passagens de relevo pelos governos Federal, Estadual e Municipal e, vasta experiência na iniciativa privada, sindical, política e na área esportiva, Fragoso aponta o caminho: um projeto de desenvolvimento pautado em 5 pilares: educação “onde é preciso fazer uma revolução”, agronegócio “tecnificado e distante da agricultura rudimentar aqui praticada” turismo “precisa de uma revolução para adentrar no segmento de alto valor agregado”, indústria “precisamos sair urgente desse modelo arcaico de transformação primária.
O modelo de negócio do setor cloro químico tem que ser redesenhado, aprimorado, não podemos perder de explorar essa vocação natural do Estado”. E, o que ele cita como polêmico (mas no seu entendimento absolutamente factível), tornar o Estado numa das forças no país na área da inteligência artificial “via modelo de negócio próprio, privado e agressivamente engajado pelas forças politico-empresariais locais. Sonho?, garante que não. “Para o Estado sair do antepenúltimo lugar em termos de competitividade dentre os Estados Brasileiros, para as primeiras colocações só mesmo com uma agressiva ação de mudança do atual perfil socioeconômico de Alagoas. Alagoas tem jeito”.
Para ele, embora não exista
receita pronta, os exemplos de
estados e países em situação semelhante
e até pior que a de Alagoas
que, em poucas décadas se
tornaram desenvolvidos, mostram
o caminho e como fazer acontecer.
Experiências como a de Melbourne
(capital da Austrália) que nos anos
1980 era considerada inabitável e
hoje é a melhor cidade do mundo para se viver; da Coréia do Sul que
de terra arrasada na década de
1950 passou a ser um dos países
de maior desenvolvimento econômico
do mundo a partir anos
1990; além de países da Europa e
o Japão que, praticamente aniquilados
durante a segunda guerra
mundial em menos de três décadas
estão em um patamar ainda
melhor que a anterior. Se seguir o
livrinho da economia real, ele projeta
que em 30 anos Alagoas esteja
longe do atoleiro atual. Porém,
para isso, alerta o especialista, “é
preciso começar a agir agora”. É
questão de “querer e saber fazer”,
garante Fragoso.
Os projetos devem ser implementados
prioritariamente pela
iniciativa privada. O Estado e os
bancos de fomento atuariam, respectivamente,
como indutores do
processo de desenvolvimento via
PPPs e outros instrumentos tão ou
mais eficazes.
Especificamente aos setores
priorizados, Fragoso receita que
Alagoas precisa de uma revolução
na educação. “Não há saída para
qualquer modelo indutor de crescimento,
sem mão de obra qualificada”.
Em última instância, sem
uma educação de qualidade para
a população. Do mesmo modo,
reitera que Alagoas precisa rapidamente
implementar um novo
modelo de negócio para a agricultura.
Que a retire do século XIX e
dê um salto quântico para o século
XXI. “Quem não é o maior, pode
muito bem, estar situado entre os
melhores”. Com intervenções focadas
na criação de polo (de alta
produtividade e, portanto, de alta
tecnologia) hortifrutigranjeiro, nos
moldes de experiência altamente
exitosa da qual foi partícipe direto
no Distrito Federal (que saiu de
uma dependência de 95% de hortigranjeiros
para a autossuficiência
em menos de 10 anos), localizados,
respectivamente, no agreste
(hortigranjeiros) e nas áreas de socupadas pela cana de açúcar e
nos perímetros do aqueduto do Rio
São Francisco (fruticultura para
exportação e o mercado interno).
Operadas exclusivamente pela
iniciativa privada, nos moldes da
economia da soja no Centro Oeste
brasileiro (o economista participou
diretamente das negociações do governo
brasileiro com o governo do
Japão para a captação dos recursos
que levaram à abertura do Cerrado).
Na área da pecuária, a saída,
segundo ele, está em apoiar de
forma mais enfática grupos locais
que vem desenvolvendo excelente
trabalho na área de melhoramento
genético (portanto, alta tecnologia
e maior valor agregado) de modo a,
no médio prazo liderar qualitativamente
fatias desse setor no mercado
regional e nacional. “Temos um
longo caminho já percorrido, com
mais expertise técnica e visão de
longo prazo é possível uma pecuária
de alta performance”.
Como ele já havia argumentado
não se faz revolução com analfabetos.
E aponta o senso de 2016 em
que 25% dos agricultores alagoanos
são identificados como analfabetos.
E quase 80% analfabetos
funcionais. “O modelo de desenvolvimento
agrícola se dará pela alocação de recursos a empresas
e/ou profissionais da área (agrônomos,
veterinários, técnicos agrícolas)
que irão liderar a implantação.
A mão-de-obra atual, reciclada,
será aproveitada nos milhares de
empregos que o setor do setor”. O
modelo de financiamento é similar
ao do agronegócio da soja. Tendo o
Estado como indutor, nunca como
produtor.
“Quem quer crescer tem que
ter um setor industrial importante.
Essa é a regra. Todos os países que
passaram por um processo de desenvolvimento
se sustentaram em
sua fase intermediária na indústria
de substituição de importações e
num momento mais avançado em
produtos manufaturados de alto valor
agregado. Em Alagoas, tivemos
– continuamos a ter – uma oportunidade
ímpar: o polo cloroquímico
que seria a redenção econômica do
Estado. Mas não foi. Ainda.” Assim
entende o professor Fragoso.
“Nesta área é preciso dar um salto
quântico. Retomar o projeto de consolidação
do polo cloroquímico de
uma vez por todas”. E para isso, segue
ele, “é preciso alta capacidade
de articulação política e expertise
negocial, quase sempre inexistente
neste caso”.
O modelo de negócio que os
economistas Elias Fragoso e Edmilson
Veras e outos especialistas
desenham para o turismo alagoano
passa necessariamente por uma
guinada na orientação do vetor de
baixo valor agregado atual, para a
composição de um mix de médio e
alto valor agregado,“única forma de
se sair do turismo quantitativo de
baixo rendimento para o turismo
qualitativo, com produtos e serviços
de médio e alto valor agregado.
Sempre perseguido, mas nunca implementado”.
E segue o professor
Fragoso. “É preciso maximizar o
potencial turístico de Alagoas. Um
excelente produto capaz de concorrer
– e vencer – mercados similares
de todo o mundo. Mas, ainda muito
mal explorado”.
Completa o naipe de prioridades
a proposta de fazer de Alagoas,
mais especificamente de Maceió
um competitivo polo tecnológico
referenciado do mundo 4G e 5G e
sucessoras. Segundo Elias Fragoso
“estamos a anos-luz do mundo digital,
o Brasil e Alagoas. Mas, absolutamente nada nos impede de dar, e
nesse caso a palavra é muito bem
aplicada, o salto quântico que nos
leve à modernidade do mundo tecnológico”.
E esse roteiro precisa ser
seguido pois “é preciso fugir da armadilha
da renda média (ou inovação
média)” acontecida em países
ou estados que, após superarem a
renda baixa apresentaram crescimento
insuficiente para dar o próximo
salto. “Apenas Coréia do Sul,
Taiwan, Hong Kong, Ilhas Maurício,
Cingapura, Israel e Japão,
lograram sucesso nessa empreitada”,
disse ele. Entre os dilemas
para evitar cair nessa armadilha
estariam questões relacionadas à
elevação do nível de educação e o
seu consequente aumento de produtividade.
E ele explica: “Até mesmo os países e estados que contornaram a armadilha da renda e da inovação média correm o risco de sofrer limitações no crescimento se não desenvolverem capacidade de inovação que vá além do seu atual bom desempenho operacional.”. E é nesse espírito que se insere a proposta do polo de tecnologia de alto desempenho de Alagoas. Para dar a sustentação e o suporte para o salto competitivo que o Estado dará. Afinal, como disse ele, “Quem não é o maior, pode muito bem estar entre os melhores”.
O projeto Alagoas 2050, segundo
o professor Fragoso, é uma proposta
de desenvolvimento para o
Estado a ser discutida com a sociedade
e disponibilizada a todos que
se interessem pelo tema, ou com
ele queira se envolver. Seu escopo
é ajudar as forças vidas da sociedade
alagoana na tomada de decisões
vitais para as próximas gerações e
para Alagoas. Será executado pelo
Instituto Alagoas 2050, em constituição.
“Nós estamos dando esse pontapé
inicial por acreditarmos na
capacidade da nossa gente. Mas,
sobretudo em agradecimento ao
que essa terra maravilhosa – mas
tão sofrida – nos proporcionou em
novas vidas pessoais e profissionais.
Gratidão é o nosso sentimento.
Responsabilidade a nossa visão.
Compromisso com a mudança, nosso
desejo”, destacam os professores
Elias Fragoso e Edimilson Veras.