Elias Fragoso aponta saídas para o crescimento do estado

“NÃO PODEMOS PERDER A CHANCE DE DAR A VOLTA POR CIMA. A HORA É AGORA”
Por Maria Salésia 01/10/2018 - 09:17
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Foto: Bruno Fernandes
Foto: Bruno Fernandes

O olhar é de médio e longo prazo, mas o economista Elias Fragosos aposta que Alagoas tem jeito. Consultor empresarial, palestrante, com passagens de relevo pelos governos Federal, Estadual e Municipal e, vasta experiência na iniciativa privada, sindical, política e na área esportiva, Fragoso aponta o caminho: um projeto de desenvolvimento pautado em 5 pilares: educação “onde é preciso fazer uma revolução”, agronegócio “tecnificado e distante da agricultura rudimentar aqui praticada” turismo “precisa de uma revolução para adentrar no segmento de alto valor agregado”, indústria “precisamos sair urgente desse modelo arcaico de transformação primária.

O modelo de negócio do setor cloro químico tem que ser redesenhado, aprimorado, não podemos perder de explorar essa vocação natural do Estado”. E, o que ele cita como polêmico (mas no seu entendimento absolutamente factível), tornar o Estado numa das forças no país na área da inteligência artificial “via modelo de negócio próprio, privado e agressivamente engajado pelas forças politico-empresariais locais. Sonho?, garante que não. “Para o Estado sair do antepenúltimo lugar em termos de competitividade dentre os Estados Brasileiros, para as primeiras colocações só mesmo com uma agressiva ação de mudança do atual perfil socioeconômico de Alagoas. Alagoas tem jeito”.

Para ele, embora não exista receita pronta, os exemplos de estados e países em situação semelhante e até pior que a de Alagoas que, em poucas décadas se tornaram desenvolvidos, mostram o caminho e como fazer acontecer. Experiências como a de Melbourne (capital da Austrália) que nos anos 1980 era considerada inabitável e hoje é a melhor cidade do mundo para se viver; da Coréia do Sul que de terra arrasada na década de 1950 passou a ser um dos países de maior desenvolvimento econômico do mundo a partir anos 1990; além de países da Europa e o Japão que, praticamente aniquilados durante a segunda guerra mundial em menos de três décadas estão em um patamar ainda melhor que a anterior. Se seguir o livrinho da economia real, ele projeta que em 30 anos Alagoas esteja longe do atoleiro atual. Porém, para isso, alerta o especialista, “é preciso começar a agir agora”. É questão de “querer e saber fazer”, garante Fragoso. 

Os projetos devem ser implementados prioritariamente pela iniciativa privada. O Estado e os bancos de fomento atuariam, respectivamente, como indutores do processo de desenvolvimento via PPPs e outros instrumentos tão ou mais eficazes.

Especificamente aos setores priorizados, Fragoso receita que Alagoas precisa de uma revolução na educação. “Não há saída para qualquer modelo indutor de crescimento, sem mão de obra qualificada”. Em última instância, sem uma educação de qualidade para a população. Do mesmo modo, reitera que Alagoas precisa rapidamente implementar um novo modelo de negócio para a agricultura. Que a retire do século XIX e dê um salto quântico para o século XXI. “Quem não é o maior, pode muito bem, estar situado entre os melhores”. Com intervenções focadas na criação de polo (de alta produtividade e, portanto, de alta tecnologia) hortifrutigranjeiro, nos moldes de experiência altamente exitosa da qual foi partícipe direto no Distrito Federal (que saiu de uma dependência de 95% de hortigranjeiros para a autossuficiência em menos de 10 anos), localizados, respectivamente, no agreste (hortigranjeiros) e nas áreas de socupadas pela cana de açúcar e nos perímetros do aqueduto do Rio São Francisco (fruticultura para exportação e o mercado interno). Operadas exclusivamente pela iniciativa privada, nos moldes da economia da soja no Centro Oeste brasileiro (o economista participou diretamente das negociações do governo brasileiro com o governo do Japão para a captação dos recursos que levaram à abertura do Cerrado). Na área da pecuária, a saída, segundo ele, está em apoiar de forma mais enfática grupos locais que vem desenvolvendo excelente trabalho na área de melhoramento genético (portanto, alta tecnologia e maior valor agregado) de modo a, no médio prazo liderar qualitativamente fatias desse setor no mercado regional e nacional. “Temos um longo caminho já percorrido, com mais expertise técnica e visão de longo prazo é possível uma pecuária de alta performance”. 

Como ele já havia argumentado não se faz revolução com analfabetos. E aponta o senso de 2016 em que 25% dos agricultores alagoanos são identificados como analfabetos. E quase 80% analfabetos funcionais. “O modelo de desenvolvimento agrícola se dará pela alocação de recursos a empresas e/ou profissionais da área (agrônomos, veterinários, técnicos agrícolas) que irão liderar a implantação. A mão-de-obra atual, reciclada, será aproveitada nos milhares de empregos que o setor do setor”. O modelo de financiamento é similar ao do agronegócio da soja. Tendo o Estado como indutor, nunca como produtor.

“Quem quer crescer tem que ter um setor industrial importante. Essa é a regra. Todos os países que passaram por um processo de desenvolvimento se sustentaram em sua fase intermediária na indústria de substituição de importações e num momento mais avançado em produtos manufaturados de alto valor agregado. Em Alagoas, tivemos – continuamos a ter – uma oportunidade ímpar: o polo cloroquímico que seria a redenção econômica do Estado. Mas não foi. Ainda.” Assim entende o professor Fragoso. “Nesta área é preciso dar um salto quântico. Retomar o projeto de consolidação do polo cloroquímico de uma vez por todas”. E para isso, segue ele, “é preciso alta capacidade de articulação política e expertise negocial, quase sempre inexistente neste caso”.

O modelo de negócio que os economistas Elias Fragoso e Edmilson Veras e outos especialistas desenham para o turismo alagoano passa necessariamente por uma guinada na orientação do vetor de baixo valor agregado atual, para a composição de um mix de médio e alto valor agregado,“única forma de se sair do turismo quantitativo de baixo rendimento para o turismo qualitativo, com produtos e serviços de médio e alto valor agregado. Sempre perseguido, mas nunca implementado”. E segue o professor Fragoso. “É preciso maximizar o potencial turístico de Alagoas. Um excelente produto capaz de concorrer – e vencer – mercados similares de todo o mundo. Mas, ainda muito mal explorado”. 

Completa o naipe de prioridades a proposta de fazer de Alagoas, mais especificamente de Maceió um competitivo polo tecnológico referenciado do mundo 4G e 5G e sucessoras. Segundo Elias Fragoso “estamos a anos-luz do mundo digital, o Brasil e Alagoas. Mas, absolutamente nada nos impede de dar, e nesse caso a palavra é muito bem aplicada, o salto quântico que nos leve à modernidade do mundo tecnológico”. E esse roteiro precisa ser seguido pois “é preciso fugir da armadilha da renda média (ou inovação média)” acontecida em países ou estados que, após superarem a renda baixa apresentaram crescimento insuficiente para dar o próximo salto. “Apenas Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Ilhas Maurício, Cingapura, Israel e Japão, lograram sucesso nessa empreitada”, disse ele. Entre os dilemas para evitar cair nessa armadilha estariam questões relacionadas à elevação do nível de educação e o seu consequente aumento de produtividade.

E ele explica: “Até mesmo os países e estados que contornaram a armadilha da renda e da inovação média correm o risco de sofrer limitações no crescimento se não desenvolverem capacidade de inovação que vá além do seu atual bom desempenho operacional.”. E é nesse espírito que se insere a proposta do polo de tecnologia de alto desempenho de Alagoas. Para dar a sustentação e o suporte para o salto competitivo que o Estado dará. Afinal, como disse ele, “Quem não é o maior, pode muito bem estar entre os melhores”.

O projeto Alagoas 2050, segundo o professor Fragoso, é uma proposta de desenvolvimento para o Estado a ser discutida com a sociedade e disponibilizada a todos que se interessem pelo tema, ou com ele queira se envolver. Seu escopo é ajudar as forças vidas da sociedade alagoana na tomada de decisões vitais para as próximas gerações e para Alagoas. Será executado pelo Instituto Alagoas 2050, em constituição.

“Nós estamos dando esse pontapé inicial por acreditarmos na capacidade da nossa gente. Mas, sobretudo em agradecimento ao que essa terra maravilhosa – mas tão sofrida – nos proporcionou em novas vidas pessoais e profissionais. Gratidão é o nosso sentimento. Responsabilidade a nossa visão. Compromisso com a mudança, nosso desejo”, destacam os professores Elias Fragoso e Edimilson Veras.

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