marechal deodoro
Cristiano Matheus fazia pagamentos à vista para despistar PF
O superintendente da Polícia Federal em Alagoas, delegado Bernardo Gonçalves de Torres deu início à coletiva de imprensa afirmando que “a investigação apontou um cardápio nefasto de práticas criminosas que dilapidaram e vilipendiaram os cofres públicos de Marechal Deodoro”.
De acordo com o superintendente da PF, a Operação Kali investigou uma organização criminosa envolvida em desvio de recursos público (peculato), corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O superintendente explicou que a utilização de bens em nome de terceiros é uma prática comum a pessoas que pretendem ocultar o patrimônio.
“Há muito tempo não víamos a aquisição de consórcios de veículos em nome de terceiros. Essa organização voltou a fazer isso. Eles tentavam de tudo para despistar o destino do dinheiro e dificultar a investigação policial. Essa foi uma das mais difíceis investigações policiais conduzidas em Alagoas, tamanha quantidade de pessoas envolvidas como laranjas. Eles chegavam a comprar um único bem e repassavam a propriedade entre quatro ou cinco integrantes”, explicou.
Durante a operação, foram lacrados também três postos de combustíveis, um em Marechal Deodoro e outros dois em Maranhão. A operação foi coordenada pelo delegado Márcio Tenório, da PF em Pernambuco.
“Foram identificados bens que pertencem a Cristiano Matheus e estão em nome de 14 pessoas. O bando ocultava empresas, bens e desviava valores provenientes de fundos e programas de educação, destinados ao município enquanto o investigado era gestor”, detalhou.
Conforme a PF, o ex-prefeito Cristiano Matheus continuava movimentando dinheiro, apesar de ter tido os bens bloqueados, através de um irmão que fazia toda a movimentação financeira. Entre os laranjas, empregados, amigos e parentes.
Uma dessas transações envolveu um apartamento e camionetes de luxo no valor de R$ 530 mil. “Desse valor R$ 290 mil sumiram e ele não sabe explicar onde foi parar”, contou o delegado Márcio Tenório.
A empresária, cujo apartamento foi alvo de busca e apreensão hoje, é dona de uma construtora que, de acordo com a PF, tinha um contrato de R$ 17 milhões com o município de Marechal Deodoro.
“Em 2014, essa construtora pagou R$ 104 mil em uma reforma e ambientação do apartamento em que Cristiano Matheus morava. Ele chegou a pagar, à vista e em espécie R$ 110 mil, a uma empresa que faz moveis planejados. O próprio dono dessa empresa, renomada no Estado, se disse surpreso com o pagamento à vista”, disse o superintendente.
Durante a negociação, o prefeito ligou para o então secretário de finanças que teria levado o valor em espécie para o prefeito, para que o pagamento fosse executado.
Ainda segundo a PF, até mesmo o parto da ex-mulher de Cristiano Matheus foi pago por um amigo laranja. Os custos foram de R$ 4 mil. “Um dos amigos do ex-prefeito, que agia como laranja, movimentou em sete meses – de janeiro de 2015 e junho de 2016 – R$ 14 milhões na conta bancária”.
O superintendente citou um outro amigo de Cristiano Matheus, um empresário que adquiriu do dia pra noite uma frota de 20 veículos de grande porte e conseguiu concessões junto a Agência Reguladora de Serviços Públicos (Arsal) para operar em cidades do interior de Alagoas. O valor da frota está avaliado em R$ 5 milhões. Os veículos operam em Maceió, Barra de Santo Antônio e Paripueira.
O delegado da PF, Daniel Silvestre explicou que o nome dado à operação “Kali” é uma alusão à Deusa Hindu, considerada a destruidora da maldade e ceifadora de demônios, com vários braços “igual ao principal investigado”. A “Kali” é um desdobramento da “Operação Astaroth”.
Operação Astaroth – Investiga um esquema criminoso que, segundo a PF, teria desviado R$ 6 milhões dos cofres públicos. Na ocasião, foram cumpridos 17 mandatos de busca e apreensão e sequestro de bens nas cidades de Maceió, Santana do Ipanema, Marechal Deodoro e Pão de Açúcar. O prefeito foi afastado do cargo, depois da Operação.