PERIGO VIRTUAL

Desafio Momo pode levar criança a tentar suicídio

Boneca do mal tem chamado a atenção e preocupado pais e educadores
Por Maria Salésia com assessoria 23/03/2019 - 13:20
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Uma simples pesquisa de como fazer um slime no YouTube Kids ou assistir vídeo da Peppa Pig pode ser uma armadilha e se transformar em filme de terror para crianças e adolescentes. De repente, aquela imagem inofensiva pode ser substituída pelo chamado desafio Momo, jogo suicida onde pessoas desconhecidas entram em contato com crianças e dão o comando, passo a passo, para cortar os pulsos. A boneca Momo, por si só, é assustadora. Tem olhos esbugalhados, pele pálida, sorriso sinistro e patas de pássaro.

A literatura aponta que não há relatos fundamentados de crianças que tenham sido influenciadas por alguém a fazer o "Desafio Momo", ou levadas ao suicídio. Porém, o fenômeno se estendeu por todo o mundo e esta semana o assunto veio à tona após uma mãe em Campinas, São Paulo, alertar que mesmo tendo colocado filtros nos vídeos, a filha teve acesso ao conteúdo através do Youtube Kids- plataforma infantil lançada em 2016 para atender a demanda dos pais e da sociedade a respeito da segurança do conteúdo destinado às crianças. No entanto, especialistas afirmam que o Youtube Kids é um caminho, mas ainda há carência de uma legislação específica para definir o que é ou não aceitável veicular para as crianças na internet.

O que chama a atenção é que antes de aterrorizar nas redes sociais, a Momo, como ficou conhecida na internet, era apenas mais uma escultura de silicone do artista japonês Keisuke Aiso, que em 2016 a exibiu numa exposição no Vanilla Gallery, em Tóquio, mas já foi descartada. Seu criador disse que ficou perplexo por ter se tornado um fenômeno na web e também se sentiu responsável pelo uso negativo que internautas fizeram da imagem de sua obra. Ele tenta acalmar as crianças ao garantir que ela não existe mais, foi jogada no lixo. “As crianças podem ter certeza de que Momo está morta. Ela não existe e a maldição se foi", garantiu.

A recomendação é que se alguém estiver "conversando" com a Momo e ela pedir algo indevido - se houver uma extorsão ou um pedido de foto, por exemplo -, deve-se salvar a conversa e procurar uma autoridade. E mais: não basta dar "print" na conversa. É preciso exportar a conversa para si mesmo.

Tempo na rede

A Academia Americana de Pediatria (AAP) indica no máximo 1 hora de tela dos 18 meses aos 5 anos, período que deve ser fracionado ao longo do dia e com conteúdo pedagogicamente responsável. A partir dos 6 anos, cabe aos pais estabelecer esse limite – o tempo usado para atividades escolares no computador, no caso de crianças mais velhas ou adolescentes, fica de fora dessa conta.

Em relação ao caso “desafio Momo”, o YouTube diz que não existem vídeos da Momo em sua plataforma. Inclusive, seu departamento de comunicação emitiu nota em que diz: "Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente. Também oferecemos a todos os usuários formas de denunciar conteúdo, tanto no YouTube Kids como no YouTube. O uso da plataforma por menores de 13 anos deve sempre ser feito pelo YouTube Kids", esclareceu.

O alerta sobre o caso está por toda a rede. Em agosto de 2018, a SaferNet Brasil- Organização não governamental que tem a missão de defender e promover os direitos humanos na internet- publicou um artigo no site com orientações para pais e educadores sobre o suposto desafio que colocava em risco a segurança de crianças e adolescentes.

A SaferNet mantém um canal de denúncias anônimas para crimes cibernéticos. As próprias redes sociais também têm ferramentas para denúncias de conteúdos impróprios. A Safernet também possui um canal de ajuda para orientar pais e responsáveis sobre como proceder em situações semelhantes.

Vale ressaltar que o “fenômeno” ocorre através de uma mensagem com pedido para o usuário iniciar uma conversa com um número desconhecido que envia convite com perguntas e desafios. Se a pessoa cair na armadilha e aceitar o contato, seu número de celular, sua foto e demais informações disponíveis no perfil do aplicativo ficam acessíveis para o administrador do perfil “da MOMO”. Em seguida, os golpistas podem buscar mais informações e ampliar as ameaças dizendo que sabem detalhes da vida da vítima, nomes de pessoas próximas e até senha de aplicativos (muitas vezes disponíveis na própria Internet em sites que agrupam vazamentos de senhas).

Diante da facilidade ou distração, a Safernet alerta para os riscos. "É mais uma isca usada por criminosos para roubar dados e extorquir pessoas na internet", diz. E mais: é melhor ignorar desafios absurdos que entram na moda no WhatsApp". A advertência para os pais é que orientem seus filhos de que é mais um golpe e deixe claro para eles que é importante proteger seus dados pessoais na internet, pois ter domínio do aparelho não significa ter maturidade para reconhecer situações de perigo.

Há quem diga que o fenômeno Momo é o novo 'Baleia Azul- desafio que se tornou viral em abril de 2017 e sobre o qual as autoridades levantaram alertas porque incitava o suicídio. Porém, no caso da Momo, seu principal meio de disseminação é o WhatsApp, mas também se popularizou através do jogo Minecraft, que tem mais de mil jogadores por dia.

Origem do desáfio

 A origem do “desafio Momo” é misteriosa. Segundo informações, um caso de suicídio na Argentina de um garoto de 12 anos teria sido provocado pelo jogo em julho de 2018, e assim o boato passou a circular nas redes sociais e se espalhou pelo mundo. Polícias de diversos países emitiram alertas sobre o tema, só que nenhum dano real ou morte até agora foi comprovadamente ligado ao personagem. Menos mal.


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