colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Caso Braskem: a cumplicidade da omissão

03/08/2025 - 09:08
Atualização: 03/08/2025 - 10:36
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Enquanto a terra cede sob os Flexais, Bom Parto, Quebradas e Rua Marquês de Abrantes, as instituições que deveriam proteger a população se movem a passos de cágado ou de bicho-preguiça. A tragédia da Braskem já não é apenas um desastre ambiental; tornou-se um escândalo moral nacional, um atestado da falta de humanidade, uma prova viva de que a anomia e a prevaricação corroem as estruturas de poder envolvidas com o caso.

O relatório da CPI do Senado Federal confirmou o que todos já sabiam: a Braskem é a principal culpada e o poder público, omisso. No entanto, mesmo com essa validação, o que se vê é uma inércia revoltante que se materializa em omissões e escolhas políticas ultrajantes. 

Enquanto isso, as comunidades dos Flexais e as outras agonizam, e onde estão as autoridades que deveriam defendê-las? À exceção da Defensoria Pública Estadual, a regra e a hiper lentidão de cada processo e a recusa em agir. Formas de tortura e pura maldade contra os que vivem sob rachaduras nas paredes e o medo constante do colapso.

Em meio a esse cenário, a Defesa Civil Municipal persiste em uma conduta que desafia a lógica. E a justiça. Sua liderança, que em depoimento à CPI do Senado teve a credibilidade pulverizada ao ser acusada de mentir publicamente à Comissão em defesa dos interesses da Braskem, continua a impor uma narrativa que contradiz peritos e as conclusões do próprio inquérito federal.

Essa persistência na prevaricação do dever de proteger a população não é um erro técnico, mas uma escolha que envergonha a instituição e a todos que nela confiam. A mais gritante dessas afrontas levanta uma pergunta que ecoa nas ruas como um grito de indignação: como o prefeito de Maceió pode coonestar com essas aberrações? São seus eleitores prefeitos, os que lá estão sofrendo, uns dos 80% dos votos que o senhor teve. Aja. Não se esconda. Tenha humanidade.

E o que falta para as polícias — Federal e Civil — deflagrarem as investigações criminais que o caso clama? A CPI deu o ponto de partida, fornecendo indícios de crimes e a recomendação de indiciamento. O que impede a ação enérgica para apurar não apenas o desastre, mas a obstrução de justiça e o desrespeito aos laudos oficiais? O silêncio das forças de segurança é ensurdecedor e alimenta a percepção de que há uma blindagem, um pacto de omissão para proteger os poderosos.

E a Justiça Federal, responsável pela condução do Caso Braskem, que deveria ser o último refúgio das vítimas, lamentavelmente se move em uma velocidade que contribui para a erosão da confiança pública. O que se observa é que o processo se arrasta em um ritmo tão lento que, na prática, tem o efeito de esvaziar a memória da tragédia, permitindo que a Braskem escape da responsabilização plena.

A morosidade do judiciário, intencional ou não, torna-se uma arma nas mãos dos poderosos, esmagando a esperança dos mais fracos e prolongando o seu tormento.

A falta de celeridade não é apenas uma ineficiência; é um ato de desumanidade que prolonga a dor e a incerteza de milhares de famílias. A lentidão burocrática se torna uma arma nas mãos dos poderosos, esmagando a esperança dos mais fracos e transformando a espera pela justiça em um tormento sem fim. 

É um cenário de total abandono. A vida nos Flexais e demais localidades aqui citadas é uma lenta, dolorosa degradação, enquanto a sociedade organizada assiste em silêncio. São corresponsáveis.

A pergunta final que fica não é mais sobre a Braskem, mas sobre a própria alma de Maceió: o que falta para a justiça prevalecer? O que é necessário para que a razão e a humanidade voltem a guiar as ações de quem deveria servir o povo? O clamor dos Flexais e demais bairros ecoa como uma sentença contra a cumplicidade e a indiferença. A impunidade, nesta tragédia de proporções inomináveis, não pode ser tolerada. O ponto final na omissão e na prevaricação precisa ser colocado agora, antes que a tragédia se amplie.

Libertem os Flexais. Libertem o Bom Parto. Libertem as Quebradas e a Rua Marques de Abrantes!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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