REAÇÃO
Agronegócio equilibra economia afetada pela pandemia e deve crescer 2,5% este ano
Estudo mostra que exportações do setor garantem ao país maior capacidade de superar a crise
A pandemia de Covid-19 atingiu os setores produtivos no mundo, retraiu a economia industrial, área de serviço e, claro, o agronegócio. Um dos principais efeitos colaterais da pandemia ocorre no comércio internacional, segundo avaliação de especialistas. Eles apontam um estudo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que revela a diminuição da ordem de 32% no nível das trocas internacionais em decorrência da pandemia. Entretanto, afirmam que o Brasil tem melhores condições de suportar essa crise sobretudo em razão das exportações do agronegócio.
No ano passado, as exportações no setor agro brasileiro somaram US$ 96,79 bilhões e o superávit comercial foi de US$ 83 bilhões. Este ano, mesmo com a epidemia e apesar de toda retração mundial, a estimativa do mercado é de que o PIB do agronegócio brasileiro cresça 2,5%. A reportagem do Agroeconomia teve acesso ao estudo “Impactos do Novo Coronavírus no Agronegócio Brasileiro”, divulgado recentemente pela Consultoria Legislativa do Senado e que reforça o agronegócio como um motor importante da economia, uma área complexa e essencial para o crescimento do país.
O autor do estudo, consultor e mestre em economia do setor público, Fernando Lagares Távora, afirmou em entrevista acompanhada pela reportagem do Agroeconomia que o impacto da pandemia no agro é diferenciado por multifatores, como a pulverização do setor. Segundo o economista, os segmentos do agro que conseguiram fazer uma negociação prévia dos seus produtos registram menor impacto. É o caso dos contratos de longo prazo e negociações antecipadas da soja e de outros produtos com demandas aquecidas complementares. Já setores como o de frutas, legumes, vegetais, flores e produtos orgânicos, por exemplo, que são sensíveis ao isolamento social e outras medidas para conter a disseminação do vírus, amargam prejuízos maiores.
O estudo também aponta que os negócios envolvendo proteína animal e grãos estão com demanda aquecida e vão continuar com bom desempenho, apesar da pandemia. “Os efeitos negativos afetam mais intensamente os produtos perecíveis, como os hortifrutigranjeiros. Em relação aos produtos sucroenergéticos, e aí incluo o milho que é utilizado para a produção de energia, vai depender da redução da produção mundial de petróleo. Esse é o panorama do agronegócio“, resume Távora.
O presidente da Associação dos Criadores de Alagoas (ACA), Domício Arruda Silva, reforça que o setor pecuário no país demonstra bom desempenho apesar da pandemia. Segundo ele, a pecuária de corte se mantém forte e aquecida no mercado interno, e as exportações registraram no começo do ano aumento em torno de 11% em relação ao mesmo período de 2019. O empresário reclama, no entanto, da política do preço do leite, que no Nordeste despencou entre 20% e 25%.
“Em Alagoas a produção de leite vem perdendo preço. Nossa produção é baseada em pequenas indústrias e esses empreendimentos investiram em produtos como queijo e manteiga, que têm mercado maior junto a bares, lanchonetes, restaurantes e outras empresa do setor de refeições fora de casa. Com o isolamento social, houve uma retração no consumo. As nossas indústrias de porte pequeno não têm capacidade para armazenar o produto ou capacidade financeira para tomar empréstimos e manter os estoques. O resultado dessa retração nas vendas reflete negativamente no preço do leite pago ao pequeno produtor rural”, explica.
REAÇÃO
As exportações do agronegócio no 1º quadritrimestre deste ano cresceram 17,5% e, na avaliação do economista, isso significa que o agro brasileiro está reagindo de forma positiva à crise da pandemia. Entretanto, não são todos os setores que participam com a mesma musculatura nessa cadeia produtiva e os pequenos produtores que trabalham com produtos perecíveis sofrem mais. “É importante que os governos implantem políticas compensatórias, prorroguem dívidas que estejam vencendo. Esses produtores são mais sensíveis porque perderam renda, têm menos capacidade de arcar com os prejuízos localizados. A implantação dessas políticas no agro é necessária para atender essa fatia do segmento com maior vulnerabilidade”, comenta.
A mesma avaliação é feita pela advogada Ana Paula Nazareth Babbulin, do grupo paulista DASA Advogados. Em entrevista ao portal Agrolink, ela defendeu que o “campo” receba maior investimento e maior segurança jurídica para suportar esse momento de incertezas e dificuldades gerados pela pandemia e possa continuar crescendo. “Os produtores rurais prejudicados pela crise da pandemia do Covid-19 devem ter acesso as ações emergenciais e apoio jurídico e econômico, com prorrogação de dívidas de custeio e investimento e a criação de linhas de crédito, mas nesse último quesito o que vivemos é a dificuldade de acesso ao crédito emergencial no sistema bancário”, comenta.
Ana Paula explica que é de suma importância que o produtor rural tenha clareza das suas melhores alternativas a fim de superar o momento de crise e aponta fatores positivos no campo e que são essenciais para amenizar os efeitos da pandemia. “O Brasil tem terra disponível para aumentar a área cultivada, tem tecnologia tropical sustentável, que vem aumentando a produtividade por hectare, e tem gente competente em todos os elos das cadeias produtivas do agronegócio”, afirma. Outros fatores, como água e clima também são citados pela especialista como auxiliares do bom desempenho do agro brasileiro.
“Sem dúvida alguma devemos, diante da grandeza e importância do agronegócio, considerar as diferentes alternativas ao produtor rural, que gera emprego, renda e impostos, fazendo isso com sabedoria e preservando nossa soberania”, reforça. Ana Paula explica que a segurança jurídica é de importância fundamental para o fortalecimento do agronegócio brasileiro. “Em curto, médio e longo prazo é preciso trazer às empresas, trabalhadores e produtores rurais normas e leis que ampliam a previsibilidade da atuação dos diversos players desse importante mercado e, portanto, guarda relação direta com o desenvolvimento econômico e o nível de investimentos no setor produtivo”.
O agronegócio responde atualmente por 20% do PIB brasileiro e é responsável por 1 a cada 5 empregos no país. O grande e próximo desafio do setor, segundo Távora, será ampliar a produção para fornecer produtos para a Ásia, Oriente Médio e África quando a pandemia acabar.
Na terça-feira, O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA) informou que o PIB do agronegócio brasileiro registrou alta de 1,2% em fevereiro. Com isso, a elevação no acumulado do ano já é de 2,42%. Segundo pesquisadores, pela ótica dos segmentos, o PIB do setor tem sido impulsionado principalmente pelo primário (ou “dentro da porteira”), que cresceu 3,86% no acumulado do bimestre. A agroindústria e os agrosserviços também tiveram alta, com redução do PIB apenas para o segmento de insumos. Pela perspectiva dos ramos, tanto o agrícola quanto o pecuário acumularam crescimentos no período, com destaque para o pecuário, com 4,61%.
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