ADEUS AO ARTISTA

Sepultamento do artista Edmilson Oliveira ocorreu hoje em Paulo Jacinto

O corpo foi velado na Rua Siqueira Campos, no Centro de Paulo Jacinto
Por Maria Salésia 01/07/2025 - 16:34
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O artista plástico Edmilson Oliveira
O artista plástico Edmilson Oliveira

O município de Paulo Jacinto amanheceu de luto com a partida precoce de seu filho ilustre, o artista plástico, grafiteiro, escultor, pintor e artesão Edmilson Silva de Oliveira, o Edmilson pintor. Autodidata, Ed Oliveira, como também é conhecido no mundo das artes, foi sepultado hoje, terça-feira, 1º de julho, às 16h, no cemitério da cidade. O corpo foi velado na Rua Siqueira Campos, 107, no Centro de Paulo Jacinto. O filho de dona Cícera Carlos e irmão da jornalista Elen Oliveira e da educadora Eronilde Oliveira, deixa quatro filhos e netos. Ed partiu aos 56 anos, em decorrência de parada cardíaca.

Na terra natal sua arte virou cartão postal. Nas esquinas, nas residências ou estabelecimentos comerciais é possível esbarrar em alguns de seus trabalhos. Passear pela Terra do Baile da Chita é mergulhar na arte desse artista. Inclusive, é dele a arte que remete ao tema da festa. É dele o gigante mural no muro da piscina do clube da cidade.

Aos 10 anos sentiu a necessidade de aprender o ofício, mas aos seis anos já arriscou os primeiros rabiscos. Não era lá essas coisas, como costumava dizer, e até foi apelidado na escola de Picasso. Aos 11 anos pintou primeiro quadro e a partir daí mergulhou nos estudos da história da arte, passeou por várias escolas, estilos e formas se identificando em Pablo Picasso, amava Portinari, Tarsila do Amaral. Mas Ed era mesmo aquele menino que se inspirava no homem do campo, no cotidiano das pessoas do interior, da arte popular. Sua sensibilidade o fez desenvolver a arte em auto relevo, para que as pessoas com visão tocassem, sentissem, se sensibilizassem. Foi assim com o agricultor colhendo algodão, o trem de passageiro parado na estação, com São Francisco, os pássaros e as flores. Com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e sua gente.

Ainda em Paulo Jacinto, aos 17 anos, restaurou o acervo da Matriz de Nossa Senhora das Graças, em sua terra natal. Ed cresceu em conhecimentos e vontade de fazer cada vez melhor. Seu trabalho ganhou asas, voou. Em Quebrangulo-AL, contribuiu com a Nordeste Reflorestamento e Educação Ambiental- organização não governamental com sede na Suiça. Na Terra de Graciliano Ramos ensinou os jovens da cidade a desenhar, pintar, reciclar, amar a arte. Foi lá que fez esculturas gigante do grupo folclórico Nega da Costa, retratou animais da Mata Atlântica, esculpiu um sapo dentro do rio a partir de uma pedra.

Em Maceió, o talento do garoto de Paulo Jacinto foi imortalizado de norte a sul da capital alagoana. Na sede do Ministério Público Federal (MPF), no viaduto próximo ao aeroporto Zumbi dos Palmares, no muro do cais do porto, no viaduto do trevo do Francês, em residências.

Participou de exposições em Palmeira dos Índios e Maceió e entendeu que deveria dividir seus conhecimentos além das fronteiras. Em 2004 passou uma temporada no Rio Grande do Norte e passou a difundir a arte em outros estados brasileiros.

Ed virou artista internacional. Levou sua arte para Portugal, Alemanha, Suiça, Estados Unidos, Itália e Suécia. Nunca perdeu a simplicidade. Vivia prometendo pintar retrato dos amigos e familiares e nem sempre cumpria. Se cobrado, mostrava aquele sorriso lago e dizia que não esqueceu. Era um amigo e camarada. Não almejava muito. Queria que a arte fosse valorizada, queria ensinar para futuras gerações. Queria ver sua arte fluir, ganhar o mundo, se multiplicar.

Como falou certa vez: “sem arte sou somente o Edmilson, normal. A arte é meu refúgio, onde descanso e, ao mesmo tempo, viajo por lugares imagináveis. A arte para mim é tudo”. E assim, com tantos sonhos e vontade de fazer a Terra do Baile da Chita se despede de seu pintor, do menino que criou asas, voou, mas sempre voltava para sua casa. E em Paulo Jacinto, diante da comoção de amigos e fãs, Edmilson foi pintar, colorir, desenhar, fazer arte em outra dimensão.

COMOÇÃO

Sob forte emoção, Edmilson Oliveira foi sepultado no cemitério municipal. Paulo Jacinto ficou pequena para amigos, familiares e admiradores que vieram se despedir daquele que respirava arte, vivia da arte e para a arte. A banda fanfarra Graciliano Ramos, do município vizinho Quebrangulo, deu um show à parte durante o cortejo pelas ruas de Paulo Jacinto até a sepultura. Ao som de “Amigos para sempre” a tristeza deu lugar a uma comoção pouco vista na Terra do Baile da Chita. As lágrimas se mesclavam junto a dor do adeus ao amigo e parente que tanto tinha a oferecer.

Na despedida, Edmilson Pintor recebeu carinho, foi homenageado. Sua partida precoce e repentina mexeu com todo mundo. Nas redes sociais as pessoas prestaram suas homenagens, falaram do legado que ele deixou, da bondade de todo o seu ser. Edmilson foi querido e continuará presente na vida de cada um que teve o privilégio de o ter por perto, de ter trocado uma ideia, de testemunhar seu amor pela arte.

Como diz Mário Quintana, “a morte ode levar alguém fisicamente, mas as memórias, o amor e as histórias que construímos permanecem”. Descanse em paz, Edmilson. Sua história continuará viva.


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