MARECHAL DEODORO

Ex-paciente denuncia agressões em clínica de reabilitação: "Tortura diária"

Homem relata espancamentos, dopagem e cárcere privado na unidade
Por Redação 15/08/2025 - 18:30
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Reprodução/vídeo
Em vídeo, ex-paciente mostra cicatrizes causadas enquanto estava internado
Em vídeo, ex-paciente mostra cicatrizes causadas enquanto estava internado

Um boletim de ocorrência registrado por um ex-paciente descreve uma estadia de tortura e maus-tratos na Comunidade Terapêutica Luz e Vida, em Marechal Deodoro, no interior de Alagoas. A unidade se tornou alvo da Polícia Civil após a morte de Cláudia Pollyanne Farias de Sant Anna, de 41 anos, que morreu na unidade no último sábado, 9. Uma das proprietárias da clínica foi presa em flagrante nesta sexta-feira, 15.

No documento, ao qual o EXTRA teve acesso, o ex-paciente afirma ter sofrido abusos entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Segundo ele, banhos eram cronometrados em dois minutos, a comida era tratada como “lavagem” e os pacientes eram dopados diariamente. O denunciante aponta agressões físicas, ameaças e cárcere privado. Ele relata ter tido três costelas quebradas após ser espancado pelo proprietário da clínica, identificado como Anchieta.

"Sofri violações diversas que feriram minha honra e minha sanidade [...] Meu ingresso na clinica foi voluntário, mas a permanência neste local se tornou forçada a partir do momento que éramos impedidos de ter contato com nossos familiares e tudo que eram repassado para eles não condizia com nossas condições", afirma em um trecho do boletim de ocorrência.

A vítima afirma que os pacientes eram submetidos a sessões de “despertar manual”, com corridas em jejum sob sol forte e exercícios físicos, mesmo sob efeito de medicamentos. 

"Essa tortura era diária. só consegui ser resgatado pela minha família, pois uma foto minha chegou ao conhecimento do meu irmão que percebeu que eu não estava bem e decidiu ir até lá e me salvou", diz.

O ex-paciente mostrou em um vídeo cicatrizes no pulso e braço, alegando que foram causados por amarras feitas de fios usados para “prender” os internos durante espancamentos. Ele também mostra a região das costelas que foram quebradas.

“Ele nos amarravam com fio e praticavam os espancamentos”, relata na gravação. "Três costelas quebradas, inclusive me dói bastante".

Morte de paciente e prisão da proprietária

A clínica está sendo investigada desde a morte de Cláudia Pollyanne. O dono da unidade alegou que ela sofreu um surto de abstinência e passou mal, mas os médicos da UPA informaram que ela já estava morta há cerca de quatro horas ao dar entrada no local. A família contou que o corpo da paciente tinha vários hematomas.

Nesta sexta-feira, 15, a Polícia Civil prendeu em flagrante a dona do estabelecimento, Jéssica da Conceição Vilela. Segundo a delegada Liana Franca, ela tinha conhecimento dos abusos cometidos e acobertava o marido, Mauricio Anchieta de Souza, apontado como o responsável pelas agressões. Ele está foragido e é procurado.

Com o avanço das investigações, mais ex-internos passaram a procurar a polícia com relatos de maus-tratos. A delegacia segue colhendo depoimentos para responsabilização criminal dos envolvidos.

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