VOLATILIDADE

Real é a moeda que mais oscila no mundo durante pandemia

Por Correio Braziliense 19/07/2020 - 14:42
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Divulgação
Desvalorização acumulada no ano frente ao dólar foi de 32,48%
Desvalorização acumulada no ano frente ao dólar foi de 32,48%

Em 2020, enquanto o Brasil busca a saída menos caótica possível para a crise do novo coronavírus e uma trégua nos problemas políticos, o real comporta-se como em uma montanha-russa. A moeda brasileira, hoje, é a que mais oscila no mundo. O câmbio instável preocupa não só analistas e investidores, que não conseguem acompanhar o ritmo da divisa, mas, também, os dirigentes do Banco Central, que dizem investigar a causa do problema.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou, na quinta-feira, em live do Itaú Unibanco, que “não há uma boa explicação” para a alta volatilidade da divisa brasileira. E o sobe e desce ao longo do dia é frequente. O que chama atenção nos últimos meses é o movimento instável em curtos períodos de tempo, não tanto a cotação final do pregão.

Nas últimas semanas, o real “oscilou que nem uma montanha-russa e terminou no zero a zero”, resume o economista Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset. A volatilidade é observada em vários mercados, com diversas moedas, do peso colombiano ao rublo russo, mas, no caso do real, assusta por ser “a mais alta do planeta”, afirma.

Com oscilações bruscas de preço, a moeda brasileira perdeu 32,48% do valor frente ao dólar entre 31 de dezembro de 2019 e 16 de julho deste ano, de acordo com levantamento de Eduardo Velho, estrategista da INVX Global Brasil. E, além de ocupar o topo do ranking, o real está bem longe do resto da lista, que, em muitos casos, começa a recuperar as perdas. O segundo colocado é o rand sul-africano, que desvalorizou 19,71% no período, e o terceiro, o peso mexicano, com 18,6%. O real caiu quase o dobro do registrado pela lira turca.

O que mais preocupa não é a desvalorização do real — que, em tese, teria como lado positivo o potencial de estimular entrada de dinheiro no Brasil, ao tornar o país um mercado mais barato. O problema é que os novos recursos não chegaram, observam especialistas. E um dos fatores que seguram os possíveis investimentos, segundo eles, é justamente a falta de previsibilidade da moeda. Quando não se tem ideia de para onde o câmbio vai, o risco sobe.

Como recentemente o dólar foi de R$ 5 a quase R$ 6 em um mesmo mês, não dá para saber qual será a média amanhã. Assim, com medo de que os ganhos caiam abruptamente de um mês para o outro, investidores deixam de fechar contratos no país. “Quando está muito volátil, é natural que evitem fazer negócios. Todos querem tranquilidade com moeda, que é o que o Brasil não tem hoje. Essa é a principal razão pela qual o dinheiro estrangeiro não está entrando”, afirma Spyer.

A incerteza gerada pela alta volatilidade da moeda também dificulta decisões de investimentos, em geral, pontua o gerente de Análise Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo. “Nesse cenário, você não sabe que preço vai conseguir colocar lá fora. Pode tomar decisões erradas ou pouco eficientes, tanto na escolha de insumos quanto ao estabelecer preços. Acaba que não consegue achar um preço comum”, explica.

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