O XERIFE DAS CONTRADIÇÕES
Qual Alfredo Gaspar é o verdadeiro: o do MP ou o candidato de Arthur Lira?
Ex-procurador-geral de Justiça lutou pela condenação do presidente da Câmara por desvio de recursos da Assembleia Legislativa e tentou impedir candidatura dele em 2018
O ex-procurador-geral de Justiça e hoje candidato a uma vaga na Câmara Federal Alfredo Gaspar de Mendonça Neto (União) vive um dilema pessoal: escolher pela narrativa de combatente da corrupção ou receber os R$ 3,5 milhões prometidos pelo fundo eleitoral do União Brasil, partido comandado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. De um lado, sua atuação no Ministério Público Estadual (MPE), onde assinou petição para impedir que o seu atual líder político se candidatasse em 2018. Do outro, as alianças que armou para garantir seu primeiro mandato eleitoral.
Enquanto procurador, Alfredo Gaspar buscava ser a “pedra no sapato” de políticos com que hoje divide o palanque. Agora candidato, troca apertos de mão, elogios e posa para fotos ao lado dos mesmos políticos que acusava por crimes contra o patrimônio público. Um desses políticos, o presidente da Câmara Federal Arthur Lira (PP), por ironia do destino, aparece hoje como maior esperança de Alfredo Gaspar em conquistar a tão sonhada vaga no Congresso. Entre os anos de 2007 e 2016, Alfredo atuou diretamente nas ações ajuizadas pelo MPE contra os acusados de envolvimento no desvio de R$ 302 milhões em recursos da Assembleia Legislativa, inclusive Arthur Lira.
Em 2012, 12 deputados e ex-deputados investigados pela Operação Taturana foram condenados pela Justiça de 1º grau. Os acusados recorreram da sentença, que previa a perda de mandato, inelegibilidade, multa e devolução do dinheiro desviado por meio de empréstimos bancários pagos de forma ilegal com dinheiro da verba de gabinete da Assembleia - no caso de Arthur Lira, R$ 182.830,22. A sentença foi mantida em segunda instância no ano de 2016 e novos recursos foram apresentados, sempre contestados pelo então procurador Alfredo Gaspar.
Em 2018, às vésperas das eleições daquele ano, já como procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar solicitou à Justiça a inclusão do nome de Arthur Lira no Cadastro Nacional de Condenações por Atos de Improbidade, estabelecido pela Lei da Ficha Limpa. A medida visava impedir a candidatura de Lira à Câmara Federal. Porém, uma decisão monocrática do desembargador Celyrio Adamastor suspendeu os efeitos da medida e permitiu a candidatura de Lira. Alfredo Gaspar chegou a recorrer da decisão no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), sem êxito.
“O Ministério Público vai continuar lutando muito pela convicção de que todos os réus condenados não têm condições de disputar eleição, por conta da incidência e dos pressupostos da Lei de Ficha Limpa”, chegou a afirmar Alfredo Gaspar à imprensa. Porém, a convicção de Alfredo Gaspar com relação aos atos de improbidade de Arthur Lira desapareceu no último ano. Os abraços e os sorrisos vistos nos palanques de 2022 nem de longe lembram a guerra jurídica em um passado recente. Hoje, com R$ 540 mil já depositados na sua conta de campanha, o que importa são os votos dos alagoanos, que pouco se lembram da Operação Taturana. Mas resta a dúvida: Alfredo estava errado no passado ou está errado em 2022?
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