alagoana combativa

PSOL teme efeitos colaterais da possível posse de Heloísa Helena na Câmara

Política da Rede assumirá vaga de Glauber Braga caso ele seja cassado
Por Redação 14/04/2025 - 07:37
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Reprodução/Redes sociais
Heloísa Helena
Heloísa Helena

A possível cassação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) tem causado apreensão dentro da federação PSOL/Rede, não apenas pelas circunstâncias do processo que ameaça seu mandato, mas também pelas implicações políticas da provável posse de sua suplente, a ex-senadora e ex-ministra Heloísa Helena (Rede-RJ). As informações são da Folha de S.Paulo.

Integrantes da federação e aliados do governo Lula (PT) demonstram preocupação com o estilo combativo de Heloísa, que pode trazer atritos dentro da bancada e com o próprio Palácio do Planalto. Crítica histórica do petismo, a ex-parlamentar tem um histórico de embates tanto com lideranças partidárias quanto com integrantes do governo federal. Segundo interlocutores ouvidos pela Folha, o temor é que sua chegada à Câmara dificulte a articulação de votações importantes para o governo.

Um dirigente do PSOL, sob reserva, afirmou que, apesar de Glauber Braga estar isolado internamente, é considerado menos problemático por ser figura de menor projeção nacional em comparação com Heloísa. A ex-senadora foi candidata à Presidência da República em 2006 pelo PSOL, obtendo 7% dos votos — resultado que continua sendo a maior votação alcançada pela legenda em pleitos presidenciais.

Heloísa Helena acumula um histórico de confrontos dentro de todos os partidos pelos quais passou. Expulsa do PT em 2003, após votar contra a reforma da Previdência proposta por Lula, ela foi uma das fundadoras do PSOL, legenda que deixou em 2015 por discordar da aproximação com os petistas no contexto do impeachment de Dilma Rousseff. Hoje, está em meio a uma disputa interna na Rede com a ala ligada à ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e já protagonizou desentendimentos com o deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), inclusive sendo apontada como responsável pela retirada da pré-candidatura dele à prefeitura do Recife em 2023.

Caso assuma o mandato, Heloísa será, ao lado de Gadêlha, uma das duas representantes da Rede na Câmara. Dirigentes temem que o convívio conturbado leve o deputado pernambucano, que já flerta com um retorno ao PDT, a deixar a sigla. Além das tensões internas, há o receio de que Heloísa vote contra pautas do Executivo, num momento em que o governo Lula enfrenta dificuldades para aprovar projetos importantes no Congresso. Por outro lado, alguns quadros do PSOL avaliam que o temor causado por sua possível chegada pode ser usado como trunfo nas articulações para barrar a cassação de Glauber Braga.

Segundo fontes da federação, a ex-senadora é vista como uma antagonista direta da família do deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara e apontado como principal articulador da perda de mandato de Braga. O psolista criticou duramente o uso político das emendas parlamentares durante a gestão de Lira e chegou a chamá-lo de “bandido” em plenário. Um dirigente do PSOL afirmou que a sigla pretende alertar deputados de que a entrada de Heloísa pode ser ainda mais incômoda para Lira e sua base aliada. Em 2010, o pai de Arthur Lira, o ex-senador Benedito de Lira, elegeu-se ao Senado após fazer campanha contra Heloísa, que liderava as pesquisas naquele ano em Alagoas.

Procurada pela reportagem, Heloísa Helena manifestou solidariedade a Glauber Braga, mas não comentou os receios de colegas sobre sua eventual posse. “Glauber tem minha total e irrestrita solidariedade, é um processo escandaloso de dosimetria completamente desproporcional. Glauber é um homem honrado, tem meu apoio incondicional”, disse.

Após sucessivas derrotas eleitorais em Alagoas — para deputada federal em 2018 e vereadora de Maceió em 2020 —, Heloísa transferiu seu domicílio eleitoral para o Rio de Janeiro. Em 2022, obteve 38.161 votos, ficando como primeira suplente da federação. No ano seguinte, disputou uma vaga na Câmara de Vereadores da capital fluminense, mas não se elegeu. A campanha foi a mais cara da sigla no estado, custando R$ 1,9 milhão oriundos do fundo eleitoral. A correligionária Ingrid Oliveira, então candidata em Niterói, chegou a acusá-la de abuso de poder econômico e ingressou na Justiça com pedido de bloqueio das contas da Rede.

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