ENTREVISTA / ELIAS FRAGOSO

Agroindústria, seus problemas e saídas

Por Redação 20/11/2018 - 15:11
A- A+
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

EXTRA - A crise da agroindústria canavieira a cada dia se agrava. O que está acontecendo? 

Prof. Elias Fragoso – Essa é a pergunta que vale milhões. Mas vamos tentar, em linhas gerais, nominar os principais aspectos envolvidos nesta problemática, e não necessariamente por ordem de importância. Uma das causas reside nas terras ocupadas pela cultura canavieira no estado cuja qualidade é sensivelmente inferior à das regiões Sudeste e Centro-Oeste, grandes produtoras de cana de açúcar e etanol e, portanto, demandantes de maior uso de insumos (que encarece a produção) e menor produtividade final comparativamente àquelas regiões, o que torna o produto alagoano menos competitivo no mercado nacional e internacional.

Prof. Edimilson Veras – Outra está relacionada à questão anterior e diz respeito à recorrente necessidade do setor de buscar subsídios e incentivos no âmbito governamental para zerar o diferencial competitivo em prol daquelas duas regiões. Com todas as implicações e distorções que isso impõe à economia local. O que explica o histórico domínio político do setor no estado (está diminuindo): trata-se para ele de questão de sobrevivência, mesmo à custa do restante da sociedade.

Prof. Elias Fragoso – Outro ponto a se considerar está vinculado ao uso da tecnologia no setor. Como regra, os pacotes tecnológicos (maquinário das usinas, colheita mecanizada, irrigação por gotejamento (e não por pivô central, grande consumidora de água e muito mais cara), uso de variedades mais produtivas na reforma da lavoura (nesse quesito específico, existem experimentos já comprovados em pilotos que poderiam alavancar enormemente a produtividade atual) e outros, ou estão superados, ou simplesmente não existem. E é razão direta do baixo desempenho da produtividade do setor (média de 60kg de açúcar por hectare contra mais de 80 t/há no Sudeste e Centro Oeste). 

Prof. Edimilson Veras – O enorme endividamento das empresas do setor (em dólar) que pode se agravar nos próximos anos com a tendência de aumento da moeda americana, o modelo de gestão familiar ou baixa qualificação profissional, a rasa utilização da tecnologia da informação, especialmente de ferramentas mais adensadas de gestão e para medição de performance, dentre outros aspectos, também colaboram para o quadro ora desenhado. 

EXTRA - Existem saídas? 

Prof. Elias Fragoso – O setor precisa acordar de tentar as soluções recorrentes de sempre. É necessário mudar o modelo de negócio, o de gestão e o de produção ou os problemas se agravarão. Por questão de espaço, vamos abordar o tema rapidamente. É sabido que Alagoas importa mais de 95% do que consome de produtos hortícolas e de frutas. Por que não usar as terras em descanso na entressafra para abastecer o Estado? Tecnologia existe, recursos  idem. O mesmo vale para as áreas ora disponíveis pela retração da cana. Ao invés de ocupar com pecuária extensiva – como vem sendo feito, por que não fazer horticultura e fruticultura de curta duração? Só como exemplo, o hectare ocupado extensivamente com boi gera receita bruta de pouco mais de 2 mil reais em 18 meses. Já o tomate, alcança faturamento bruto na mesma área de 200 mil reais. Fui participe direto do programa de consolidação do polo hortícola do DF (à época importava 90% do que consumia, hoje produz 90% do que consome). É possível de fazer. E é ótima oportunidade para o setor sair do problema em que se encontra reinventando-se, e para o estado como um todo. 

EXTRA - Sabemos que Alagoas é importador líquido de produtos industrializados da cadeia da horticultura, fruticultura, laticínios, carne de frango e carne suína, dentre outros produtos agroindustriais. Novamente e recorrentemente: por que isso acontece?

Prof. Edimilson Veras – De fato, são mais alguns outros segmentos em que nós, um estado paupérrimo, estamos produzindo riquezas para outros Estados ao invés de estarmos produzindo e criando valor para Alagoas. É um problema. Na área do agronegócio só não somos traço por que empreendimentos como a Cooperativa Pindorama, algumas poucas avícolas aqui instaladas e laticínios, produzem, mesmo que em grande parte, produtos de segunda linha. Como exemplo, o caso dos laticínios é emblemático: produzem quase que somente Leite tipo C – justamente o de menor valor agregado - destinado à merenda escolar e para doação à famílias carentes e adquiridos pelo governo. Na área de hortaliças e de legumes industrializados apenas Pindorama produz enlatados. Já no segmento agroindustrial do coco, Sococo e Pindorama dominam o mercado. A primeira inclusive como player no mercado nacional. Nas demais atividades são poucos, raro mesmo, estabelecimentos industriais relevantes do ponto de vista macroeconômico.

EXTRA - E o polo cloro químico? Por que não alcançou as metas previstas há 30 anos? 

Prof. Edimilson Veras - Essa questão envolve vários atores. O Estadom que nunca se preparou de verdade para conduzir o que seria o mais importante e redentor projeto de desenvolvimento para Alagoas. Não desenvolveu um adequado plano estratégico para tal, como regra, sempre ficou no tradicional, no mais do mesmo e em algumas ocasiões no passado, deixou escapar para Estados vizinhos as indústrias de segunda geração (hoje sem volta, já que cada planta representa investimento de alguns bilhões de dólares) fundamentais para dar sustentabilidade ao projeto de expansão do polo via implantação de dezenas de indústrias de terceira geração e centenas de quarta geração. Hoje estamos resumidos a 60 unidades de 4ª geração, justamente as de geração de menor valor agregado na cadeia do plástico.

Prof. Elias Fragoso – A enorme, quase interminável, demora para definir a localização do polo, as idas e vindas no tocante à relação com os players globais e nacionais do setor – conheço alguns casos  –  o despreparo técnico da mão de obra local que persiste, zero envolvimento da academia, mormente nos momentos decisivos iniciais, para articulação e estruturação de projetos de pesquisas e desenvolvimento voltados para a cadeia do plástico, problemas de fornecimento de energia e de infraestrutura (que não chegava) nos primórdios da implantação do polo, além de praticamente nenhuma resistência da bancada alagoana à transferência das unidades de segunda geração para outros Estados, completam o quadro de inação que nos trouxe até aqui. 

EXTRA - E o que fazer para retomar em outros termos essa caminhada, tão importante para o desenvolvimento do estado? 

Prof. Edimilson Veras – Bem, embora mais difícil por conta do já citado anteriormente, Alagoas ainda tem alguns handicaps a seu favor como sua localização geográfica estratégica em relação ao Estados do Nordeste e um atrativo programa de incentivos. Agora, o que sempre pegou de verdade para a vinda de empresas da cadeia do plástico para o Estado é a crônica deficiência no fornecimento de energia elétrica. Há muitos anos a Ceal deixou de ter qualquer condição de ser fornecedor confiável até para as empresas já instaladas. O outro aspecto é que a inexistência em Alagoas de indústrias de segunda geração obrigam as empresas instaladas (e a se instalar) a importar os produtos (que deveriam estar sendo produzidos aqui) para suas linhas de produção de segunda ou terceira geração, o que elas apelidaram de “passeio molecular”: a Braskem (primeira geração produz, envia para as indústrias de segunda geração processarem (em outros estados) que por sua vez “devolvem” o plástico para as indústrias (locais ou situadas em outros estados) de terceira e quarta geração produzirem os produtos a serem comercializados no mercado.

Prof. Elias Fragoso – No momento as indústrias da cadeia do plástico do polo cloro químico são 60 unidades que representam 14% do PIB do estado. Nós agradecemos as dicas e orientações do engenheiro químico Gilvan Severiano Leite, diretor da Indústria e Comércio Ltda., pioneiro do setor do plástico em Alagoas é profundo conhecedor dos problemas do segmento em nosso estado e no Brasil, pela colaboração e dicas no tocante a este que tem tudo para ser o mais importante setor econômico de Alagoas.


Encontrou algum erro? Entre em contato