"INTRUSO"

Pesquisadores da Ufal estudam espécie exótica de sururu na laguna Mundaú

O chamado “sururu branco” já é predominante e ameaça espécie nativa
Por Com Assessoria 13/03/2023 - 20:58
Atualização: 13/03/2023 - 21:07

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Edilson Omena
Predominância do sururu branco preocupa instituições, pescadores e marisqueiras
Predominância do sururu branco preocupa instituições, pescadores e marisqueiras

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas investigam a presença de uma espécie exótica de sururu na laguna Mundaú. O "sururu branco" (Mytilopsis sallei) tem preocupado órgãos ambientais, desafiado estudiosos e colocado em risco o "sururu preto" (Mytilopsis charruana). O novo "intruso" pode, ainda, comprometer a renda de cerca de 3.000 pessoas que dependem da pesca e tratamento do molusco para sobreviver.

O "sururu branco" se desenvolve em um ambiente de baixa oxigenação, águas poluídas com carga excessiva de sedimento e metais pesados, e alto índice de salinidade e temperatura - condições que encontra na própria laguna Mundaú. 

Há 11 meses, o sururu nativo, patrimônio imaterial do Estado de Alagoas, não era mais encontrado na laguna. Recentemente, pescadores comemoraram a volta do molusco em um ponto específico da orla lagunar, embora em menor volume. Mas, para o professor e pesquisador Emerson Soares, a situação ainda é crítica.

“Ali é o habitat natural do sururu nativo, então em algum momento ele retornaria, mas vimos que ele não voltou na quantidade que deveria e só se desenvolveu em alguns pontos”, ponderou Soares.

Além disso, os sururus nativos encontrados estão pequenos, muito novos, então seriam necessárias também medidas de conscientização, como explica a professora Jucilene Cavali, bolsista de pós-doutorado no Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática (Laqua) da Ufal e professora da Universidade Federal de Rondônia (Unir). relacionadas_direita

“O ideal seria que esses moluscos não fossem capturados nessa idade, porque a espécie já tem sofrido com a competição e pressão do sururu branco, então a pesca se soma a esses fatores, por não deixá-lo chegar a um tamanho adequado”, explicou.

Segundo os pesquisadores, para garantir a recuperação da espécie, faz-se necessário uma política de manejo do sururu nativo, um planejamento estratégico de captura. 

“Os gestores (federal, estadual e municipais) precisam trabalhar juntos, para garantir saneamento básico, reflorestamento, educação ambiental e planejamento urbano. Só assim os problemas do complexo lagunar serão, de fato, solucionados, porque os ecossistemas terão condições de regeneração”, destacou Soares, pontuando que a limpeza e a dragagem das lagoas são importantes, mas são medidas paliativas.

A preocupação com a espécie exótica do sururu também chegou à Laguna Manguaba e tem preocupado pescadores e gestores de outros municípios do complexo estuarino lagunar Mundaú-Manguaba, como Pilar. 

O Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (Linqa) da Ufal está avaliando a composição físico-química e contaminantes, além da composição nutricional da espécie exótica, em parceria com os Laboratórios de Bromatologia também da Ufal e o Laboratório de Ciência da Carne (LCC), da Universidade Federal de Rondônia (Unir). “Já fizemos a primeira coleta e estamos em processo de análise desse bivalve, a fim de avaliar as possibilidades de aproveitamento, tendo em vista ser uma espécie mais resistente”, explicou o professor Josué Carinhanha, coordenador do Linqa/Ufal.

As pesquisas estão sendo realizadas no âmbito do Projeto Laguna Viva, que tem como objetivo investigar, compreender e propor soluções aos problemas da Laguna Mundaú, envolvendo os laboratórios Laqua, o de Sistemas de Separação e Otimização de Processos (Lassop) e o Linqa. 

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