Briga por emendas faz Cunha virar lulo-bolsonarista

Boa parte dos recursos encaminhados a Maceió através de emendas federais – incluindo o ex-orçamento secreto – é impositiva. Ou seja: a União é obrigada a bancar a obra no local escolhido pelo deputado ou senador.

Posição que também beneficia o senador Rodrigo Cunha (Podemos, aliado do prefeito de Maceió, JHC (PL), e quem manda nas indicações na Secretaria Municipal de Estratégias Disruptivas, Ciência, Tecnologia e Inovação. Cunha inaugura uma nova ideologia: o lulo-bolsonarismo, uma mistura de jacaré com cobra d’água só possível nas múltiplas brechas permitidas pelo jogo político.

Ele procura mostrar a imagem de um senador neutro ou independente em relação à administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mesmo tempo filiado a um partido que defende pautas conservadoras, menos Estado na economia e elege a corrupção como principal problema do país, bandeiras que embalam o palanque do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O eleitor parece não se importar com esse liquidificador de ideologias. Foi isso que garantiu ao senador disputar com o atual governador Paulo Dantas (MDB) a principal cadeira do Palácio República dos Palmares. A diferença de votos entre ele e o governador foi de 74.294. O atual governador agregou sua imagem a Lula e enfrentou uma operação da Polícia Federal durante a campanha, que o afastou do cargo depois retomado com decisão do Supremo Tribunal Federal.

A tática de Rodrigo Cunha – subir no muro quando o assunto é Lula ou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – parece dar certo. Ele assume a posição anti-Calheiros, ou seja, diferenciando suas ações do senador Renan Calheiros (MDB) e, ao mesmo tempo, quer garantir dos cofres federais, hoje geridos pelo PT, dinheiro para obras, prestígio e capilaridade em Brasília.

Para quê? Ele pode ser vice-prefeito de Maceió no próximo ano, na chapa encabeçada pelo prefeito JHC (PL) ou disputar a reeleição em 2026, ao lado do deputado Arthur Lira (PP), também postulante ao Senado.
Ele conseguiu R$ 1 milhão para investir no Hospital Regional de Arapiraca, cidade gerida por Luciano Barbosa (MDB), eleitor de Lula. Segundo Cunha, já foram encaminhados para este hospital R$ 10 milhões, em emendas dele, para a compra de equipamentos e melhorias de atendimento. O hospital realiza 11 mil atendimentos por mês e atrai gente de 50 cidades no entorno do município.

Quando recebeu em seu gabinete a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, no dia 11 de agosto, pediu a criação de unidades da Casa da Mulher Brasileira em Alagoas, “um dos mais importantes projetos do governo federal voltado ao público feminino”, como diz sua assessoria.

No dia 21 de agosto, criticou a gestão petista por causa dos reajustes dos combustíveis, cobrando uma posição do presidente da Petrobras, Jean Paul Prátes, medidas contra os aumentos.

“Aumento nos combustíveis significa preços mais altos, aumento da inflação e impacto danoso no bolso da população brasileira. O Senado está debatendo a reforma tributária, que sem dúvida é importante para o país. Mas como fica a tributação dos combustíveis com esta reforma é algo ainda não muito claro. Sabemos que a meta é unificar os tributos em um único Imposto sobre Valor Adicionado, o IVA, mas assim como não apoiarei nenhuma medida que eleve os impostos da sociedade, peço maior clareza na proposta de mudança tributária para a cobrança de combustíveis’, disse o senador, cobrando “transparência nos critérios de reajustes dos combustíveis no Brasil e quem perde é sempre o consumidor e os motoristas”, disse.

Já Arthur Lira, tratado como oposição de Lula, também aproveita as emendas federais (algumas assinadas pelo governo federal) para celeiros eleitorais: R$ 2 milhões para a Santa Casa de Penedo “investidos no custeio dos serviços de Atenção Especializada à Saúde ofertados pela unidade hospitalar; R$ 14,7 milhões para obras das avenidas marginais do riacho Piauí (Arapiraca); R$ 800 mil “para equipar nova Unidade de Pronto Atendimento Municipal de Santa Luzia do Norte”; R$ 2,5 milhões para a Associação dos Amigos e Pais de Pessoas Especiais (AAPPE).

Lira é o fiel da balança nas eleições do próximo ano e em 2026. Pode atrapalhar bastante a reeleição de Calheiros. Discute-se lançar o deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil) para desbancar o longevo emedebista no Senado. É o interessante caso da criatura (Gaspar) enfrentando seu criador (Calheiros). É a política e seus ciclos.